sábado, 21 de maio de 2016

Estátuas sonâmbulas


imagina que as cidades são estátuas sonâmbulas

sons íngremes voando sobre o mar

que a alma absorve na escuridão

imagina que o amor é a floresta virgem

perdida nas mãos de uma criança

no seu sorriso uma bandeira

sem esperança

imagina que há na saudade um esqueleto de vidro

com cortinados de paixão…

perdido…

agachado no chão ténue do sofrido

imagina… meu amor

imagina as gaivotas poisadas no teu olhar

esperando o meu regresso

sempre

sempre ao madrugar…

imagina…

imagina o meu coração deixado numa loja de penhores

numa tarde de inferno

imagina…

imagina o cansaço da abelha no final do dia

embriagada de pólen

e de barriga vazia…

imagina… meu amor

esta carta sem remetente

esta carta sem destinatário…

imagina

imagina

meu amor

imagina que as cidades são palavras a arder

nos lábios do operário

sempre

meu amor

sempre sem vontade de escrever…

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 21 de Maio de 2016

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Ausência


Cessou a saudade. Sinto o peso da noite sobre os ombros,

Uma coisa inexplicável,

Sofrível,

Cessou a saudade repentinamente,

Como o calafrio do desejo…

Na incandescente manhã desassossegada,

O término.

Segundo as previsões astrológicas…

Nunca deveria ter nascido,

Mas quis um Domingo que eu olhasse pela primeira vez o mar…

Distante, mas enraizado nos meus braços,

Como a barcaça do sofrimento,

Anos mais tarde,

Encalhada nos rochedos da montanha,

E sentia no corpo a ausência,

Tão pobre este destino…

De ser criança…

De ser menino.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 20 de Maio de 2016

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Lençol nocturno do medo


Não tenho pressa de caminhar,

Sento-me ao teu lado,

Pinto nos teus lábios o mar,

Escrevo no teu corpo o poema envenenado…

Acabei de desligar a luz da paixão,

Com a crise não há dinheiro para nada…

Precisava de novos cortinados,

Um par de calças ou uma camisa,

Talvez um novo coração,

Porque este, meu amor, já pertence à madrugada,

Onde habitam os braços apaixonados,

E silenciam a benigna brisa,

Nunca disse a ninguém que os teus abraços morreram junto ao rio das gaivotas,

Quando pintávamos barcos ao pôr-do-sol… e descia a noite vagabunda,

Marés de cio invadiam o teu olhar,

E eu forçosamente escondia-me num qualquer Cacilheiro…

Pétalas mortas,

O amor desfeito em lágrimas de amar,

Porque não tenho pressa, meu amor,

Não tenho pressa de caminhar…

Nem flor para de presentear,

Sento-me ao teu lado,

Pinto nos teus lábios o mar,

Que hoje é o meu lençol nocturno do medo…

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 19 de Maio de 2016

quarta-feira, 18 de maio de 2016

A melancolia da saudade


O cansaço absorve-me entre parêntesis de silêncio

E vírgulas de tristeza,

Por mais que eu queira…

Não consigo colocar o ponto final na escuridão nocturna,

Olho-te e vejo-te disfarçada de ponto de exclamação…

Ponto e vírgula quando acorda o dia,

E lá longe, muito longe daqui… oiço os apitos do ponto de interrogação,

Confundo-me com as palavras,

Disfarço e dou por terminado o texto…

Ponto final,

Paragrafo,

E o dia enrola-se na melancolia da saudade.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 18 de Maio de 2016

terça-feira, 17 de maio de 2016

Paisagens do sono


A paisagem despede-se de mim.

Sinto as estrelas poisarem em cada gotícula de suor do teu corpo,

Deito sobre ele a minha desnorteada cabeça,

E regressa o sono do Oriente…

Sonho com pássaros,

Sonho com barcos,

Ínfimas imagens travestidas de loucura absorvem-me,

E sou forçado a fugir para outras paragens sem escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de Maio de 2016

domingo, 15 de maio de 2016

Lábios sonâmbulos


Hei-de construir um barco que voe…

Sobre os sobreiros da minha alma,

Hei-de desenhar um pássaro que navegue…

Nas ténues águas do meu corpo,

Como eu adoro habitar no silêncio…!

Arrancar todas as amarras da tarde

Que um louco relógio de pulso alicerçou ao meu peito,

A espuma do teu olhar enfeitado de amêndoas e flores,

O remorso da paixão absorvida pela solidão

Dos quintais de areia…

Hei-de construir um coração

Com as lâminas dos teus beijos,

Abraçar-te na escuridão depois de partir a noite,

E dizer-te baixinho… e dizer-te baixinho que amanhã há sonhos,

Palavras,

Livros com sabor a medo,

E na confusão do dia…

Hei-de construir um barco…

Um barco com lábios sonâmbulos.

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 15 de Maio de 2016