sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sangue sofrido e pedacinhos de areia…


A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim

Assassinadas pelo coração do poema

Absinto

O mínimo tempo consagrado aos insectos

Que poisam no teu olhar

Imaginávamos o silêncio

Nas treliças da saudade

Sempre em desespero

Neste labirinto de espuma

Camuflada pelas mandibulas do cansaço

O louco sorriso

Nas avenidas do sofrimento

Que absorvem a cidade do medo

O teu corpo disperso na escuridão

Descendo do luar

Até à minha mão

(A noite desesperada

No labirinto da palavra

Todas as flores do teu jardim)

Mortas

Trémulas segurando uma velha esferográfica

Escrevia em ti o sentido lapidar da timidez

Como um rochedo de insónia

Navegando no Oceano

A morte

Vivida a cada segundo de luz

A morte

Vivida a cada milímetro de tristeza

E voava nos teus braços

E voava nas tuas coxas

Até adormecer junto ao mar

A noite

O labirinto da palavra

Despedindo-se das uniformidades da sentença escrita

Morte

Até que as lágrimas se transformavam em flores assassinas

O dia inventado nas pequenas limalhas do desejo

Acordávamos sobre os lívidos secretos da angústia

E terminávamos nos limos do corpo

Desejado

Indesejado

Do corpo

No corpo

Do majorado envenenado

Observávamos as gaivotas construídas no papel pelas mãos do pôr-do-sol

E nada mais tínhamos nas veias

Apenas sangue sofrido

E pedacinhos de areia…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 13 de Fevereiro de 2016

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Do meu próximo livro “103 com vista para o mar”



103 com vista para o mar
 
No corredor aglomerados de aço
Cadáveres de barcos
Braços
Sombras de amor embalsamadas
Passeando na réstia manhã adormecida
Lá fora o mar entranhado nas ervas esquecidas pelo Criador
Chove
Há nas quatro paredes invisíveis
Gotículas de uma lágrima sem nome
Em direcção ao infinito
Os gemidos
A fome disfarçada de noite
Lá fora o mar
Pintado no térreo pavimento da dor
Não há palavras
Poemas
Textos
Nada
Nada
No corredor
Aglomerados
Aço
Enferrujado
Velho
Sem saber a que cidade pertence
A idade
A idade em corrida
Tropeça na Calçada
Dorme
Acorda
E finge…
Finge não ter medo da madrugada.


Livros de Francisco Luís Fontinha





terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A álea manhã


A álea manhã ensanguentada

Fugindo da madrugada,

Das sílabas amargas do poema inacabado

Suspenso na esquina da avenida na cidade inseminada,

O cansaço coração repatriado

Descendo a montanha salivar,

O visitante perdido

Procurando os lábios da paixão

Que só ele sabe desenhar,

O poder da morte brincando no mar

Arrastando barcos para a destruição…

Um cigarro esquecido na mesa-de-cabeceira,

O silêncio à volta da ribeira…

Correndo para o rio dos murmúrios,

Um pedaço de terra que chega

E sobra

Para cobrir o olhar da serpente,

A álea manhã ensanguentada

Fugindo da madrugada,

As fotografias da solidão

Dentro de um pequeno livro,

Procura-se o alívio

E o repouso do tempo monstruoso…

E a álea manhã

Sentada à janela,

Em gritos espasmos

Revolta-se contra o desleixo da noite,

O ciúme envergonhado

Na lápide do artista,

As palavras ternas na mão do viajante,

Fugindo da madrugada

E da gente,

Como nós defuntos

Abraçados aos rochedos da saudade…

Outro cigarro,

Outra morada anónima,

O machibombo engasgado nos alicerces da picada,

Não me apetece olhar-te,

Não me apetece alimentar-me da tua ausência,

E a álea manhã

Sempre pronta para me acorrentar

Ao peito da madrugada…

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 9 de Fevereiro de 2016

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Poemas Perdidos - Francisco Luís Fontinha



“Poemas Perdidos”
Formato: 16 cm x 23,50 cm
ISBN: 978-989-680-167-0
Data de Publicação: Fevereiro de 2016
PVP: 10,90 euros


Uma cidade em lágrimas


Não sabia que da textura da noite se fabricavam beijos,

Não sabia que há no luar uma habitação condigna,

Com muitas janelas

E junto ao mar…

Onde nascem estrelas

Donzelas

E desenhos de desenhar,

Não sabia que tinhas no olhar

Uma cidade em lágrimas

Embrulhada na penumbra,

Tanta coisa que eu não sabia…

Que às vezes,

Sentia

Tremia

Gemia…

Até que acordasse a manhã na tua mão!

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2016

domingo, 7 de fevereiro de 2016

O peso do corpo sobre as pálpebras do destino


O peso do corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O menino dançando nos braços do abismo,

Esperando o regresso dos soníferos poemas de amor,

Uma canção em desalinho,

Distante deste corpo

Sobre as pálpebras do destino,

O campónio silêncio,

A despedida embainhada nas sílabas do sofrimento,

As vozes dos outros

Acabrunhadas,

Tristes

E cansadas da despedida,

Como a morte do vento,

Sinto-me uma louca locomotiva

Dançando os socalcos do Douro,

Respirando o xisto das palavras

Engasgadas nos murmuráveis anéis de prata…

 

Sofro tanto, meu amor!

 

As insígnias soberbas lentidão

Rodopiando os círculos da saudade,

O peso do corpo

Arrepiado nas amendoeiras em flor,

Desperto,

O amor,

A sinfonia da loucura aprisionada no texto do escritor,

O mar,

O meu mar suicidado nas lâminas do medo,

Sem ter o juízo,

Sem ter a aventura

Dos segredos,

O peso do corpo,

Este,

Meu…

Escorçado das insignificantes marés de areia…

 

Francisco Luís Fontinha

domingo, 7 de Fevereiro de 2016