sábado, 19 de setembro de 2015

Amanhecer envergonhado

 
(Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Sento-me
E sinto o amanhecer envergonhado,
Poiso sobre a lâmina da solidão
E oiço o cansaço da cidade em construção,
Amo,
Não sei se sou amado,
E não amo…
As palavras que escrevo sem vontade de o fazer,
Estou vivo,
Aqui,
Sentado… e sinto o amanhecer envergonhado,
Dentro do mar a arder…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 19 de Setembro de 2015
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Regresso (Setembro de 71)


(Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Perco-me nos teus olhos de cereja envenenada,
Ao amanhecer, oiço a tua voz fundeada nos meus braços,
Um barco, sem rumo, desnorteado junto aos rochedos da noite…
Olho-te,
Beijo-te,
E sinto sobre mim todas as estrelas,
E sinto dentro de mim o teu corpo disfarçado de papel colorido,
Desenho em ti os sonhos,
Escrevo em ti todos os sorrisos dos marinheiros,
Olho-te, beijo-te…
Até que regressa a morte,
E desapareces na neblina do silêncio…
 
Despeço-me da tua sombra,
Invento cigarros nas andorinhas em flor,
Um barco, meu amor,
Um barco entre círculos de desejo e cubos de paixão,
Brinca na tua pele de amêndoa amaldiçoada,
Entra no teu peito,
Deita-se no teu coração…
E mais nada temos para escrever,
Não temos medo da geada
E das fotografias vestidas de madrugada,
(Perco-me nos teus olhos de cereja envenenada,
Ao amanhecer, oiço a tua voz fundeada nos meus braços),
 
E sei que amanhã não terei palavras para aprisionar o teu olhar,
 
O triângulo poético das tuas coxas suspenso no luar,
Um barco, meu amor,
Um maldito barco me trouxe para esta terra…
Maldito Setembro,
Maldita sanzala agachada no cacimbo…
E brincava com os mabecos,
E brincava com os papagaios de papel escrevinhado,
Sem tempo,
Sem sono,
Habito neste inferno sombreado de machimbombos
E triciclos apodrecidos…
E nunca tive coragem, meu amor, e nunca tive coragem de saltar o portão de entrada.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 18 de Setembro de 2015
 
 
 


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Prisão

Há um pincel de tristeza, meu amor, no teu sorriso embalsamado na cinzenta neblina do amanhecer,
Há no teu corpo um jardim, meu amor, recheado de beleza, e é lá onde se escondem todos os pássaros filhos da noite,
Meu amor, há nos teus seios a Primavera acabada de nascer,
Tão linda, tão bela, meu amor… tão gentil como estas palavras que tento escrever,
Mas não o consigo fazer… não existem palavras, meu amor, como o luar poisado nos teus ombros enquanto a pianista inventa para nós sons melódicos, poesia travestida de música, meu amor, e começas a dançar na penumbra biblioteca dos fantasmas envelhecidos,
Há um pincel de tristeza…
Meu amor,
Que entranha os teus lábios na solidão
E me aprisiona ao teu coração…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Setembro de 2015

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


Francisco Luís Fontinha - Setembro/2015

Manhãs de Inverno


(Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
As parcas palavras do meu corpo
Saciando-se na neblina incendiada pelo teu desejo,
Um coração que arde sem perceber que o amor é uma equação sem solução,
Uma folha de papel quadriculado deitada sobre as lâminas do sofrimento,
No chão…
O cansaço do beijo quando os teus lábios fogem e não regressam mais…
Aos meus lábios aprisionados a este cais,
A este inferno,
A cidade fervilha quando acorda a noite,
O teu corpo dorme quando acorda o meu silêncio infinito em direcção ao luar,
E não sabemos se os abraços são sonhos
Ou espelhos quebrados,
 
E não sabemos se o mar é o nosso mar
Ou se este mar é o enforcado sémen nas manhãs de Inverno…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 16 de Setembro de 2015


 


Desenhos IPO Porto e outros fantasmas


terça-feira, 15 de setembro de 2015

O desejo do planeta sem nome



(Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Tão frágil, meu amor, o teu sorriso de vidro fumado,
Tão frágil o teu silêncio antes de acordar a madrugada,
Os pássaros e as flores,
E a cidade dorme nos lençóis do cansaço,
Sem saber, meu amor, sem saber que no meu corpo habita um planeta sem nome…
Que ama.
Tem desejo,
E fome…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Setembro de 2015
 


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cúbicas madrugadas


Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor,

Sento-me sobre o fio da saudade,

Sinto-te nos meus braços… em cúbicas madrugadas,

Imagino os teus beijos flutuando na cidade,

Sinto nos meus braços o cansaço do amor

E a equação da liberdade,

Amanhã não haverá barcos enforcados,

Amanhã não haverá marés amordaçadas…

Oiço a madrasta voz da clarabóia em flor…

Entranhada nos poemas degolados

Pela caligrafia invisível do silêncio amanhecer,

Apaixonada?

Não… não há paixão neste corpo a arder

Nem fogueira neste peito desolado,

Amanhã haverá um esqueleto prensado,

Amanhã haverá uma mão no teu rosto espelhado…

Com medo de sofrer,

Com medo de partir para a longínqua noite das palavras por escrever.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 14 de Setembro de 2015

domingo, 13 de setembro de 2015


Francisco Luís Fontinha - Setembro/2015

Beijos de pergaminho solar



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Escondo nas tuas pálpebras o meu beijo de pergaminho solar,
Acendo o dia ligando o interruptor do sonho,
Danço sobre ti inventado cubos negros, sem porta de entrada,
Sem janelas…
Sem madrugada,
Escrevo-te sabendo que estás morta,
Que caminhas sobre a areia luminosa da manhã,
Que me abraças sabendo eu que nunca me abraçaste,
Olhaste…
Ou.. ou me hipnotizaste entre quatro cadeiras velhas em madeira,
Estou aqui, eu e eu, dois cadáveres sem rumo,
Apaixonados pelo silêncio,
Escondo nas tuas pálpebras a minha língua que acaricia a tua solidão,
Não tenhas medo, meu beijo de pergaminho solar…
Não tenhas medo da cidade, dos homens da cidade, e das sombras da cidade,
Imagino-te subindo a montanha do desejo,
Trazes em ti o medo de amar,
Transportas as tulipas em papel que nos esperam num quarto de pensão,
Poisa-las sobre a mesa-de-cabeceira,
Olhas-me,
Sentas-te na cama…
E beijas-me como se eu fosse uma sílaba embriagada descendo uma qualquer calçada,
Amanhã, amanhã meu beijo de pergaminho solar,
Amanhã estaremos sentados nos rochedos dos Oceanos prateados,
Tão velhos, meu beijo de pergaminho solar, tão velhos que adormecemos como dois pássaros, sem idade, como dois pássaros entranhados no luar,
Amanhã, amanhã olhas-me,
Dizes que não me conheces,
Que eu sou um desenho louco,
Um palhaço sem Pátria,
Como sem Pátria são todos os beijos de pergaminho solar…
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Setembro de 2015