sábado, 20 de junho de 2015

O homem da sombra


O fim…

Enigma sensação de distância,

Os objectos são coisas vivas sem vida,

Imagens heliográficas com vista para o mar,

O estranho,

Negro o homem da sombra em frente ao espelho da morte,

Será que sente?

Sentir… o quê?

A sorte dentro do túnel de vento,

Sem asas,

Aerodinamicamente estável,

Seguro e alicerçado aos cinzentos medos da tarde,

 

Sem asas,

Será que sente?

Sentir… o quê?

As lágrimas da gente…

O fim…

O meio…

Cubos,

Círculos,

Ímpares equações embrulhadas no sono,

Drageias de esperança…

E nada,

E ninguém,

 

Consegue afagar esta criança…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 20 de Junho de 2015

Manhã cúbica


Não sinto o teu corpo

Nestas gélidas noites de Primavera,

Percebo que há nas tuas palavras uma equação de insónia,

Um círculo de dor

Voando na manhã quadriculada,

Um quadrado dormindo na calçada,

Sempre em mim o rio,

Sempre de ti o sorriso da infortuna,

As tuas fotografias alicerçadas a uma incógnita sombra de cola,

Os cheiros de Angola,

É Primavera,

Voando na manhã…

Cúbica,

E silenciada pela poesia,

Como se fosse o teu corpo em despedida…

Como se fosse o teu corpo em partida.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 20 de Junho de 2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Os poemas masturbados


Sinto o teu odor no meu pensamento,

Sinto os teus sussurros nas veias que me transportam para o infinito amor,

Abraço os cansaços da dor,

Sinto a tua monotonia desfalecer

Junto ao rio da solidão,

Tenho medo,

Medo de partires sem me avisares da tua viagem sem destino,

Tanto medo,

Eu menino,

Sem berço,

Sem viver,

A vida entre equações quadráticas,

E…

E sonhos pinceladas de desejo,

Os beijos,

A maledicência,

Os poemas masturbados numa cartolina velha,

Em orgia,

Sinto o teu odor,

A tua raiva,

Sinto…

Sinto a tua partida

Da nossa alegria.


Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 19 de Julho de 2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015

O corpo é cinza Nata Prata Cinzeiro em pedra…


Não quero escrever

Nada

Mas necessito de escrever

Para me sentir vivo

Viver

Não ter

Palavras

Sonhos

Nem desenhos ou destino

Noite

O dia

Deixaram de existir…

O corpo não sente

Os livros

Os sons melódicos do cansaço,

O corpo é um vazio

Sangrento

Talhado em fios de sombra

Quando o luar dorme

E as estrelas dançam

Brincam…

O corpo não sente

Os livros

Os sons melódicos do cansaço,

Mas aos poucos

O corpo

É vencido pelas metáforas da insónia,

E o corpo é cinza

Nata

Prata

Cinzeiro em pedra

Com lágrimas

Sem lágrimas…

Não quero escrever

Nada

Nada…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 18 de Junho de 2015

terça-feira, 16 de junho de 2015

Fugitivo clandestino das nocturnas sombras sem nome


Enrolava-se no sono

Como se fosse uma criança mimada,

Descia a calçada,

Sentava-se em frente ao rio…

Desenhava barcos na sombra do pôr-do-sol,

Inventava palavras

Que quase nunca escrevia,

Sentia no corpo o silêncio da alma,

Que alma… meus Deus!

Alma nenhuma,

Corpo algum

E ausente,

 

E sente,

Sentia,

As lágrima em agonia,

Vestia-se de negro,

Puxava de um cigarro abandonado na algibeira…

E fugia,

Fugia…

Para os braços da longínqua ribeira,

 

A montanha,

Tal com ele,

Também não tinha alma,

Que alma… meus Deus!

Alma nenhuma,

Corpo algum

E ausente,

E fugia, e fugia da velha serpente,

 

E fugia sem saber que era gente.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 16 de Junho de 2015

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Noite geométrica


Sinto a poeira dos teus ossos

No meu cansaço,

Sinto a sombra da eira

Nos meus ombros pincelados de Primavera,

Sinto a noite geométrica da saudade

Nos versos tristes embainhados,

Os soldados,

Nunca desistem de lutar,

Mas o mar fica tão longe…

Mas o mar… mas o mar deixou de pertencer à cidade,

E a cidade,

Hoje… é um amontoado de rochedos ensanguentados…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 15 de Junho de 2015

domingo, 14 de junho de 2015

A morte


Os soníferos morrem na tua boca adormecida,

Perdes-te na noite,

És uma tela vazia,

Branca,

Negra,

A fantasia…

Vejo-te sorrir

Como sorriem as amendoeiras em flor,

Sem nexo,

Sem amor,

Alimentas-te das sombras enfeitiçadas da cidade perdida,

Um petroleiro fundeia no teu peito,

Dá um grito,

E dorme,

Os soníferos morrem,

Como morrem todos os soníferos,

Como morre a noite,

E o rio engole-a,

Come-a,

E foge,

E voa,

E volta a morrer,

Renasce num qualquer jardim dos teus lábios,

Alicerça-se neles,

É firme,

É robusta,

Mas morre como morrem as minhas frágeis palavras…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Junho de 2015

Vazio cubo de vidro…


Não sei onde habita a navalha de sombra

Que espetaste no meu peito,

Era noite,

Criança melancólica em pedaços de luar,

A vida parece uma roldana,

Sem tempo,

Horário,

Alimentando-se das horas,

Gritando as palavras dos teus lábios,

Em milhões de grãos de areia,

A fogueira no teu cabelo,

A caricia nas tuas mãos que só a madrugada sabe desenhar,

Não sei,

Porque me olha este jardim sem olhar,

Sem corpo,

Imune ao peso,

E ao vento,

Voa,

Sobre os Cacilheiros de prata,

Suicidando-se no Tejo…

Não tenho corpo também,

Sou um rochedo de xisto

Sem destino

Descendo a montanha até ao rio,

Morri…

Oiço-o nas catacumbas da prisão,

Encerraram-lhe as janelas

E o mar

E as árvores com janelas,

E um dia acordará no vazio cubo de vidro…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 14 de Junho de 2015