São
horas de acordar, a noite camuflada nas ombreiras da solidão levita
entre mim e o espelho sifilítico da memória, sinto na minha
algibeira a praia da infância, olho nos teus olhos o medo de me
perderes..., e sabes que nasci perdido, nasci numa cidade de sombras,
cacimbo e insónias,
Os
teus gemidos,
Hoje?
Palavras
travestidas de amor que os braços do prazer acariciam, amam, Hoje?
Os teus gemidos de prata rodopiando a lareira do amanhecer, vou à
janela, e grito o teu nome
Hoje?
Não
existes, és como a cidade da minha adolescência, sem horários, sem
morada fixa, ou... ou número de polícia, e as tuas cartas
encontravam-me no amontoado de escombros com cheiro a poesia,
Eu,
eu tremia,
São
horas de pegar tua mão e beijá-la, como se beijam as cartas
adornadas com corações e flores perfumadas, e eu
A
Poesia,
E eu
igual ao espelho que vive no meu quarto e me acompanha nas manhãs de
Primavera,
O
teu corpo sempre igual, escultura abstracta da caligrafia envenenada
pelo sexo embainhado nas canções de viver,
A
Poesia...!
Morreu,
E o
poeta...
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Sábado,
7 de Fevereiro de 2015