sábado, 17 de agosto de 2013

Os travestidos bares do amor

foto de: A&M ART and Photos

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
reescritas no corpo incenso que a tempestade leva
longe chegam as nuvens tristes
silenciosas
tâmaras teus olhos prisioneiros de mim
tuas mãos de porcelana
amam
fazem sexo com as minhas mãos de areia
inventas-te como inventaste a chuva
como inventaste as janelas viradas para o mar
transgénicos barcos navegando em teus seios de prata
com velas de púbis desgovernados dentro do fumo incandescente do amanhecer,

Amávamos-nos como duas árvores de papel
aprisionadas a um cordel...

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão
como uma cidade que arde dentro de ti
incendeias-te vomitando as palavras proibidas
gemidas da tua boca
em loucas avenidas
correndo subindo correndo e subindo...
como guindastes de ossos procurando o prazer nos sexos dos marinheiros
mórbidos entre o cais
e os travestidos bares do amor
cai o cortinado do teu peito
e encerra-se para sempre o desejo em ti
das tristes janelas viradas para o mar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

Os calções brancos

foto de: A&M ART and Photos

As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu
Tu nada podes comprar,
Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas
Fervilham,
Transparente como a chuva depois de se masturbar sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de molhado, depois
Fervilham,
Diz ela,
Porque para mim, um simples aldeão esquecido no musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos, todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes, que só
Diz ela
Fervilham as hormonas,
Ai se não fervilham, que só em África existem, que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme, extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades virtuais, e começam verdadeiramente os
(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada)
Textos infestados por pequenos insectos, os calções, os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que,
Tu nada podes comprar,
Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos, âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que segura as asas do vento, e tu
Diz ela
Nada podes comprar,
Não o tenho,
Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que... muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os barcos em regresso, e ficávamos
A ouvir o mar,
E ficávamos...
Simplesmente a ouvi-lo,
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto)
Fervilham as hormonas dentro dos finos calções brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da miséria cubata invisível...
Uma placa sobre a porta de entrada,
“Há caracóis”, e vivíamos felizes como serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido dos calções brancos,
Definitivamente,
Hoje, Hoje há caracóis...
(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto).

(não revisto – texto de ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

noite cinzenta

foto de: A&M ART and Photos

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
fundem-se-lhe nas mãos clandestinas que a dor adormece
faz de conta que vive
sem viver
sem resmungar com os transeuntes vestidos de negro
que se fazem passear
entre os gladíolos do jardim da insónia
e a triste numeração da calçada sem memória,

caçávamos borboletas dentro do escuro quarto com janelas gradeadas
e o aço que antes gemia
hoje morto
derretido como os dedos do poeta amaldiçoado,

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta
em vidros de pergaminho...

cinzentas as árvores de linho
que adormecem nos teus cortinados
a fome emerge
submerge
como pregos semeados na seara tua cama
as pedras castanhas... como ravinas de azoto...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Agosto de 2013

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

encruzilhada

foto de: A&M ART and Photos

procuro-te nesta encruzilhada de caminhos
como um leão fingindo dormir
ou como a gaivota madrugada
não fingindo nada
simplesmente vivendo a vida como se a vida tivesse vida
fosse comestível
tivesse força própria
como se ela
a vida
a tua vida em encruzilhada de árvore ancorada
fosse... uma alma
penada


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

As loucas palavras?

foto de: A&M ART and Photos

Como acreditar... como confiar... como? Apenas acreditando e confiando..., apenas navegando, apenas, sem mais, nada mais do que, como? Apenas, e muito, os livros e as personagens dos livros, os livros e as estórias dos livros, os livros, as mulheres, as mulheres e o corpo das mulheres, sós, apenas, como?
Como ser feliz quando não se é feliz, como, como acreditar... como confiar... como?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando?
Sendo, parecendo ser e não o ser, esperar, esperar, só, sentado, numa banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas
Palavras?
As loucas palavras?
Sendo, eu sei, voando, se eu soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e ficando, e deixando
As loucas palavras?
Como retirara venda dos olhos, se ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas dos céu, servindo, como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores, as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo como tu, apenas, assim... como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos na fogueira, sendo, acreditando e
Palavras?
As loucas palavras?
Sofrendo, e ardendo em ti quando transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?
Acreditando,
E
E como confiar?
Confiando,
Não o sei, apagando esse fogo, ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e
Acreditando?
E acreditando...
Acreditar? Brincando como palavras sós, desejosas de serem desejadas, brincando, brincando sós, nós, entre árvores e rios, e socalcos como telas envelhecidas das paredes novas do amor, acreditando?
Acreditar... que, talvez, o amor, viva como vivem os homens e as mulheres, brincando, e sofrendo, e acreditando... confiando, vendo e sendo, uma noite vestida com pregos e tábuas finas, e as lâminas de água, e os barcos envenenados com saudade e o silêncio,
Confiando?
Como confiar se amanhã pode não ser Sábado?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando? Acreditar, sim, sim sendo, sentados como ontem, sentados a ver o mar, a regressar de longe, apenas e sós, sendo, eles,
Acreditando,
Acreditando?
Acreditando que assim sendo, amanhã, amanhã regressará para nós, os ditos sonhos, que vimos fugir, que vimos partir... como um tornado correndo montanha abaixo, sós, nós
Acreditando?
E em acreditar... eu... sofrendo, sofri, não dizendo que... amanhã poderá não ser Sábado,
Quem o garante?
Ele?
Ela?
Ou... vós, vós que sois cortinados de uma janela à beira do precipício...
Esperando
Acreditando que acreditar,
Não,
Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nãos mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos desejando, corpos... acreditando.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

As sílabas dos calendários falsificados

foto de: A&M ART and Photos

Não tenho dias de ti
em todos os horários mergulhados nas amoreiras cinzentas
não posso acreditar nas tuas tristes palavras
que alimentam a máquina dos sonhos
não
não tenho dias de ti
e em ti
as películas negras da paixão
desertaram
morreram
esgotaram-se como amêndoas de cartão
no amanhecer desconhecido,

Não
não tenho dias de ti,

Em ti
e em ti,

Não
não tenho dias em ti
e em ti,

Não tenho dias de ti
às conversas mórbidas das tardes poeirentas
há silêncios que demoram...
há em ti
momentos
desejos
circos ambulantes entre rosas e palavras sem sentido
tu
eu
perdidos dentro do mundo sem fechadura...
e sofremos
e sofremos as sílabas dos calendários falsificados.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele

foto de: A&M ART and Photos

Sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos..., e ao outro dia, já o bar tinha desaparecido de nós, vivíamos desesperados como duas raízes escondidas nas profundezas, enganas-te a ti mesma, inventas personagens, algumas, sem o sabres, vestes-las de perfume mentira, outras, enterras-las nas cavernas doirados das coxas rosa púrpura,
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
Afugentar as mentiras, minhas?
Sim, embriago o Artur encostado ao balcão de mármores com um livro em granito onde algumas palavras brincavam às escondidas,
“Aqui Jaz Artur Prior”, e nada mais do que isso,
Mentiras que eu entendo, que eu descubro e fico calado, cabisbaixo, envenenado pelas árvores com as pequenas folhas comestíveis, e bebíamos, e fazíamos como se de dois corpos suspensos na madrugada se tratasse, e não o éramos, porque há muito que deixamos de ser corpos, hoje somos caules brincalhões, balões de naftalina,
Porquê, Artur?
Não sei, sei... meu querido...
Porquê, quê?
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
Afugentar as mentiras, minhas? E devíamos estar loucos, tu, e eu, porque de nada havia para ancorar ao porto de embarque, perdi a âncora, abandonei as cordas de nylon, e travesti-me de petroleiro desgovernado, só, felizmente...
Só?
Porquê, Porquê... Artur Prior?
Porque tínhamos descoberto a verdade, porque tínhamos encontrado o carrossel do Amor, todo ele em oiro maciço e comestíveis os cavalos, estes em algodão doce, porque, meu amor, tínhamos descoberto o bar onde éramos verdadeiramente... felizes,
Só?
Só... e nada mais do que isso,
Tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era
Sabíamos-lo,
E não fizemos nada para terminar o sofrimento dele,
Havia uma lanterna que basicamente nos servia para...
E era, e sempre fui, um fútil e medíocre livro de granito onde alguém escreveu
“Aqui Jaz... Artur Prior”
E
Nada
Só?
Não, nada e nada mais do que isso, meu querido, e apenas, só, tínhamos acabado de conhecer a manhã, e havia uma estranha lanterna, uma lanterna que detectava as tuas, as minhas mentiras, que tu me inventavas, e quando me dizias que eu era feliz, eu acreditava que
Eu era feliz,
E quando me dizias que eu era um livro em granito, eu acreditava que
Eu sou um livro em granito, meu querido, granito com bolinhas encarnadas,
E acreditava,
E deixamos de acreditar porque sentíamos o peso invisível da morte sobre o esqueleto verde das amoreiras em flor, tínhamos acabado de conhecer o Artur, num daqueles bares onde bebíamos...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 15 de Agosto de 2013

corações de inveja

foto de: A&M ART and Photos

inventaste-me e inventaste o amor
descreveste no meu corpo de âncora adormecida
a paixão dos homens
inventaste-me e esculpiste nos meus lábios a dor
e a melancolia e o sofrimento...
e o desejo de ser desejado
pelo desejo inventado
por ti
por ele
pelas sombras que vivem nas cidades
inventaste-me e inventaste o amor
e escreveste que eu era invisível
que eu tinha asas
e pulmões de papel
como os barcos
e as tristes marés
que das tuas mãos
delas
de ti
inventaste-me e inventaste o amor
e os peregrinos teus medos no caixão do cio
de ti delas
deles
coitadas das coxas de água salgada
saltitando entre as pedras em silêncio
e os corações de inveja


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
quinta-feira, 15 de Agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Desejar desejando que tu me ames

foto de: A&M ART and Photos

Sonho-te desejando que tu me desejes
Mesmo sabendo que algumas rosas
As mais bravias
Não conseguem sobreviver
Às mentiras da noite
Mesmo sabendo
Que das mãos de rosa bravia…
Há um estranho perfume
Diluído em palavras
Sons
E imagens coloridas
Que habitam nos teus sonhos melódicos e poéticos,

Sonho-te
Que tu me desejes
Nas tardes húmidas do cansaço
Como se eu fosse uma tela acabada de pintar
Ou
Um poema
Um lindo poema depois de amar
E…
Escrevo-te
Desejar-te desejando… que tu me desejes
Desejar desejando que tu me ames
Como amas as flores e os pássaros do meu jardim…


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel

foto de: A&M ART and Photos

Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos
Quando acordava a manhã, tínhamos sede, bebíamos água salgada, e mergulhávamos num tanque de algas encarnadas, tínhamos a saudade imprimida nas verdes nádegas em doce algodão, e amávamos-nos e beijávamos-nos quando éramos gaivotas, hoje, o que somos hoje, meu amor?
Réstias infiltravam-se nos orifícios das munições perdidas, algumas, até esquecidas, antes mesmo de
Amávamos-nos como serpentes suspensas nos caules tubérculo dos esqueletos de arame, sentá-te vergares-te sobre a sombra do cansaço, gritavas por mim, e nós, as três, na janela da morte, e procurávamos
De?
Cigarros, pedaços de madeira e fósforos já usados,
E
De?
Amávamos-nos como correntes de água descendo o corpo teu, nosso, meu, e teu, de nós as três
Quatros?
E
De nós as três vestidas com tecido branco, puras e imaculadas, inocentes como as andorinhas antes de acordar a Primavera, e brevemente alguém
Loucas, elas,
Loucas...
Nós, loucas?
Amávamos-nos como quatro borboletas com asas em papel, tínhamos círculos e quadrados, tínhamos triângulos, tínhamos, amávamos-nos entre triângulos, amávamos-nos entre quadrados, sentadas sobre o cosseno, a Teresa... deitada
Onde, minha querida?
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
E nada, nem o círculo trigonométrico resistiu à queda livre do amor quando este
Deitada sobre a tangente de três pi radianos, coitada, e adormeceu, e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quando este se atirou do nono andar, havia uma viga metálica, havia três corpos submersos no silêncio das pequenas gotículas de suor, os vossos corpos
Entrelaçados como malhasol... e vomitou toda a trigonometria, e nada
Querida, sim, diz-me porquê?
Porquê o quê, porquê?
Quê...
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...
Vi, e havia serpentes, havia aço, havia corpos, corpos beijando-se na penumbra noite de Agosto, e depois, davas-me a mão, e eu, eu ficava-te com os teus lábios durante toda a noite, inventávamos horários nocturnos e as nossas noite
Trinta e seis horas, o tempo necessário para saborear os teus lábios, os dela, os nossos lábios... e tu, Gabriela?
Eu o quê, Teresa?
Nada, nada... querida Virgínia... nada,
Porquê, Gabriela?
Não o sei, minha querida, não o sei...

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Agosto de 2013

Texto em destaque - Sapo Angola - Blogue Cachimbo de Água
Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras

foto de: A&M ART and Photos

Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas, os cabelos incham, aumentam de volume, voam sobre os arbustos comestíveis das searas negras, vultos com sorriso nos olhos, à mão, vêm como penas dos pássaros assassinados pelo vento, e o corpo
Navega, estreme como a tua voz quando me ouvias dentro dos cubos de gelo que existiam no velho jardim dos desejos cabelos, os cabelos incham, aumentam de volume, cresce, o corpo cresce vagarosamente, a idade constrói-se num calendário esquecido no arame que vive e sempre viveu... nas traseiras da casa, o banco onde te sentavas, depois do jantar, morreu, e o livro que trazias sempre debaixo do braço
Morreu?
Não, não morreu, deixei de o ver, desapareceu, ausentou-se numa noite de Inverno, estava a lareira acesa, havia lençóis de geada em frente à nossa casa
Lembras-te?
Da casa, do livro... ou da geada?
De mim, se ainda te lembras de mim...
Não, Morreu?
Como morrem todos os livros e todas as geadas, de cansaço, de insónia, de
À mão, meu querido?
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?
Não, morreu?
E nada fazia crer que tu, tal como o livro, e tal como a geada... deixasses
Deixasse o quê, meu querido?
Deixasses de me visitar, deixasses de perceber como eram construídos os sonhos antigamente, não hoje, mas ontem, o correio electrónico impaciente, não se cala, desassossegado, impaciente...
Saudades das cartas perfumadas com corações desenhados pela tua mão minúscula, pela tua mão... de criança, na altura, cresceste, és mulher, de papel ainda vives deambulando junto ao Tejo, oiço-te quando espero pelos barcos, oiço-te quando me sento num banco em pedra, sinto o frio no rabo, e imagino-te... saltitando nas minhas coxas, oiço
Os apitos,
Partilhável como os teus seios de abrigo em noites escuras, partilhável como veleiros mendigos em mares por navegar, partilhável como um esqueleto em vidro e pintado à mão,
O corpo
À mão, em dedos como lâminas,
Os apitos, comestíveis, partilháveis... como se fosses um livro emprestado, folheado por toda as pessoas lá do bairro, e à mão, o corpo
Inchava e aumentava de volume, e o teu cabelo parecia uma noite de luar, e o teu cabelo parecia uma noite de boémia, num qualquer bar em Cais do Sodré, e o teu cabelos, os apitos, cruzavam o rio, olhava-te e sentia dentro dos teus olhos as tempestades
O corpo, chora, meu querido?
Morreu...
Tempestades como ramos de rosas sobre a lápide do teu desejo, como a lápide da tua vagina quando as gaivotas
Quais gaivotas, meu querido?
Quais gaivotas, meu amor...
De nada adiantaram as gaivotas que nos visitavam ao cair da noite, porque morreu a noite, porque morreram as gaivotas... e
As fotografias, também morreram?

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Agosto de 2013

A pauta

foto de: A&M ART and Photos

Entre nua e as Quatro Estações de Vivaldi
O corpo balança no Dó Ré Mi
Algo de estranho de passa no Fá
Desisto quanto oiço o Sol
E ela nua
À espera do Lá…
Abre-se a janela em Si
E o corpo
Balança o corpo como um piano suspenso no tecto da alvorada
Desce sobre ela o amanhecer
Nua
Nua sem o saber…

Não percebo nada de música
Melodias
Poesia ou
Ficção vagabunda…
Mas tu nua
Não
Não enquanto brotam os sons de Vivaldi
Na tua mão
Dos teus seios
Toda nua
Tu
Uma pauta com sabor a limão.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 11 de agosto de 2013

Doce lareira em delírio

foto de: A&M ART and Photos

A tempestade vai abrandar, o mar ficará calmo e suave e a areia húmida da noite sobreviverá aos alicerces das árvores abandonadas..., uma gaivota sobrevoará as tempestades do infinito silêncio, coisas débeis insignificantes, olhos verdes, barbatanas cinzentas..., asas em papel construídas em pequenas neblinas de azoto, e eu pergunto-lhe se as marés são em lápis de cor, carvão, o acrílico sorriso da tua doce lareira em delírio, olho-te e desejo-te, e oiço-te como um mendigo desgovernado... até que o vento te faça sorrir, até que o vento seja música, seja poesia, sejas simplesmente... tu.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Quando descem as charruas ao silêncio teu púbis de areia

foto de: A&M ART and Photos

Tua mão poética sobre o meu rosto melódico
sisudo
dizes que sou ambíguo
como os alicerces das árvores apodrecidas
sisudo eu
como as vagabundas ondas dos seios teu Oceano
tua mão em mim
sou um barco navegando dentro de ti...
desço ao teu mais secreto poço da insónia
cambaleio como mabecos em cio
à espera que regressem as vadias chuvas
amar-te-ei?

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

Tua mão poética mão em seda pergaminho
tua mão de dedos finos
e palavras argamassadas nas janelas do amor...
tua mão
meu amor
minha paixão
Amar-te-ei?
Quando descem as charruas ao silêncio teu púbis de areia,

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

Como um piano envenenado pelos teus olhos cerâmicos
talvez sonhe contigo e com as mãos que fazem parte de ti
e de mim,

Talvez sonhe com as tuas mãos poéticas e de melódicos rostos...
Como uma canção entranhada na escuridão nocturna...

E perceba que a simplicidade está no teclado do teu corpo encarnado.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Poesia Sem Gavetas Parte II - Autores - AQUI HÁ POETAS!






Participação de Francisco Luís Fontinha

Reinventa-se e mergulha entre silêncios

foto de: A&M ART and Photos

O corpo do texto, emagrece, reinventa-se e mergulha entre silêncios e cavernas como a solidão dos primeiros dias da ausência dos sons poéticos e melódicos, o corpo ausente de tamanho, do zero ao doze, finge-se de morto, termina a linha, muda-se para baixo, travessão, ponto final, parágrafo, ponto de interrogação?
Desisto, pergunto se vale a pena continuar, e oiço-o como um vibrador dentro do meu ouvido,
Não, não continues, desiste rapaz,
E desisto,
E pergunto-me como será o Inverno, lá, depois de partir,
É como cá, respondem-me, respondem-me, respondes-me
Não faz mal, não faz mal, tudo é maleável como a sombra dos pinheiros em Carvalhais, tu
Tudo mesmo, mãe?
Tudo filho, tudo, o teu corpo é maleável, os teus sentimentos
Como são eles, mãe?
São em tecido e bordados com rosas, umas bravias, outras...
Como são as outras, mãe?
Menos bravias, mais calmas, mais
Belas, mãe, mais belas?
Muito mais, meu filho, muito mais,
O corpo do texto, o papel fica composto, cada vez menos espaços vazios, cada vez mais sofrimentos devidos às letras distorcidas da velha máquina de escrever, o teclado engasga-se, o teclado
Como são as outras, mãe?
O teclado prisioneiro das tardes junto ao rio, o teclado encalhado nos rochedos das sanzalas invisíveis dos panos encarnados, tapavam cadáveres, tapavam fome, tapavam o sol e os sonhos dos meninos, eu sonhava, ela sonhava, nós sonhávamos...
Com rosas, mãe?
Sim filho, sim
O teclado acabado de ser detido, criminalmente... ser oposição, escrever nas paredes negras da noite, e separadamente, éramos espancados vos chicotes de corda, com a ponta em fino papel, era assim, é assim, sempre o foi, sempre assim será, tudo
E se o velho morrer, mãe?
O venho nunca morre, meu filho, nunca, como nunca morrem as rosas bravias, como nunca morrem as sanzalas e os musseques e os charcos depois da chuva, e o velho, mãe, e o velho
Eterno, eterno sentado a olhar o mar,
O texto multiplica-se na maré doentia de Domingo, dizem-me que fiquei absorvido pelas nuvens que sobrevoavam os telhados de vidro, e o texto agora com pequenas imagens, e o texto agora com letras, grandes e pequenas e nenhumas... e algumas, tristes, alegres, negras, azuis e cinzentas, multiplica-se e vomita canções de amor, música, palavras declamadas por gargantas envenenadas pelos peixes e pelas tuas algas, havia um rio que nos prendia à madrugada, havia três caixas de cartão todos os papeis que lá jazem, têm o teu nome, e ainda tu não tinhas nascido
Mãe, como é isso possível? Porquê, mãe?
Estás lá, abro-as, o teu nome escreve-se como teclados domesticados, a tua fotografia hoje pertence aos esqueletos de cartão, morreu disseram-me depois de te ausentares
Morreu de quê, mãe?
Saudade?
Porque se morre de saudade, mãe?
Porque um dia o mar virá buscar-te, um dia, um, filho meu...
E o texto? E o texto cresce como árvores na Primavera, e o texto reinventa-se..., e dorme, e dorme em ti, sobre ti, e dorme na tua mão
O velho, mãe?
O velho morrerá,
E a liberdade dos pássaros e dos corpos... serão comestíveis como os teus mamilos quando salteias os lençóis nocturnos dos pequenos parágrafos, dos pequenos pontos finais, outras
Nem pontos, nem vírgulas,
E enquanto o velho não morrer, não felicidade, não vida, não sonhos.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Agosto de 2013

Sapo Angola - Blogue Cachimbo de Água em Destaque.
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/