sábado, 18 de fevereiro de 2012


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

A solidão dos plátanos

Finge-se de morto – O Poema
Quando poiso a caneta invisível na sua mão
E olho-o e ele olha-me – O poema
Seminu na garganta do cansaço
À mercê dos olhos de uma árvore
Longe da janela
Onde desaparecem as escadas em direção ao céu
E erguem-se mandibulas nas cores das estrelas

Crescem poemas na solidão dos plátanos
E num jardim imaginário
Descansa a solidão
No desejo das palavras

Finge-se de morto – O Poema
Quando poiso a caneta invisível na sua mão
E olho-o e ele olha-me – O poema

Que sobejou das minhas noites de insónia.

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Jardim


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Longa história

(a Uma Longa História, Gunter Grass)

Há sempre uma longa história
De amor
Sofrimento
Ou dor
Uma longa história
Que desce em nós até adormecermos
Uma história de miséria
Que não se apaga da memória
Há sempre uma longa história
De amor
Sofrimento
Ou dor

Quando a vida deixa de girar
Quando as árvores tombam nas arcadas do vento
Há sempre uma longa história
Que nunca se cansa de gritar

Que nunca cessa o movimento.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Inferno


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Espelho


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Há sempre um sonho

Há sempre um sonho
Uma árvore
E um rio
Há palavras que se suicidam
Na madrugada
Nas mãos de um livro

Há um homem cansado
Abraçado a uma tela sem nome
Numa rua sem saída
Com fome

Há sempre um sonho
Uma árvore
E um rio

Um rio que nos come.

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O que me resta?

O que me resta? E quase nada lamentava-se o francisco quando o espelho em gemidos de luz lhe perguntava,
- O que te resta francisco E ele agachado na sombra do pavimento respondia Quase nada,
Livros, cachimbos, quadros e papeis, muitos, saliva que fui guardando na algibeira da insónia e que de nada me servem, os livros, e se ao menos dessem para comer
- Imagino-me a comer Crime e Castigo, Imagino-me a comer A Insustentável Leveza do ser, Imagino-me a comer A Comissão das Lágrimas e porra, enquanto mastigo sinto a voz da cristina dentro da minha cabeça. Minto, enquanto mastigo sinto a voz da cabeça da cristina dentro da minha cabeça, e faço uma pausa,
O mar de Luanda, mas por muito que eu sonhe sei que é impossível comer o mar de Luanda, e por muito que eu sonhe sei que é impossível comer os machimbombos, as gaivotas, a baía, e por muito que eu sonhe
- A comissão das Lágrimas quase todinha mastigada e aos poucos a voz que vivia dentro da cabeça da cristina abraça-se ao capim e desaparece nos lábios do cacimbo,
A morte quando tudo dorme debaixo de um candeeiro a petróleo, a morte que sobeja do canto da boca ao terminar de mastigar
- Há dois meses que não como peixe,
A voz da cristina abraça-se ao capim e desaparece nos lábios do cacimbo,
O que me resta?
Livros, cachimbos, quadros e papeis, muitos, saliva que fui guardando na algibeira da insónia e que de nada me servem, os livros, e se ao menos dessem para comer, eu juro que os comia,
- Peixe, Deixei de comer peixe,
E por muito que eu sonhe
- O que me resta?
E por muito que eu sonhe nada me resta.

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

59,4 x 84,1 . Francisco Luís Fontinha

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Manhãs sem vista para o mar

São assim as manhãs
Tristes
Cansadas
Sofridas
São assim as manhãs
Dentro de um corredor frio e escuro e comprido

Sem vista para o mar

São assim as manhãs
Abraçadas à saudade
Tristes
Cansadas
Sofridas
Na garganta da cidade

Sem vista para o mar

São assim as manhãs
De inverno
Inferno

No espelho do luar.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Ficções - Francisco Luís Fontinha


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Amor Proibido


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha
Que o amor seja livre e sem preconceito.

Vidas cruzadas


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

A tua mão

Não sabia o que eram rosas
Dálias
Malmequeres
Não sabia que quando tocava os crisântemos
Eles sorriam
E me olhavam

Não sabia que dentro dos livros
(do António Lobo Antunes)
Viviam pessoas
Iguais a mim
Que sofriam
Que amavam
Que morriam

Não sabia
Que no mar vivia poesia
Palavras abraçadas à maré
Não sabia como acreditar e ter fé

Tanta coisa que eu não sabia
E aprendi com a tua mão.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O medo


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Mpingo


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Janela


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Casa da insónia


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Livro


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Vida sofrida

A vida sentida
A vida sofrida
A vida sem medida
Da minha vida perdida

(A vida
A minha puta de vida)

A vida sem sentido
A vida que vive na escuridão
Adormecer
Viver
A vida de solidão

A vida sentida
A vida sofrida
(A vida
A minha puta de vida)

Viver sem coração.

Literatura


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sono


84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Interruptor da solidão

O que as pessoas dizem
(meu deus)
E pensam a meu respeito
Que sou louco
Sem futuro
Sem passado
E que necessito de um psicólogo
Ou de um psiquiatra
O que as pessoas dizem
E pensam a meu respeito
E não gosto de psicólogos
Porque me roubam as palavras
E não gosto de psiquiatras
Porque me roubam os sonhos
O que as pessoas dizem
(meu deus)
E pensam a meu respeito
Que sou louco

E não gosto de psicólogos
Porque me roubam as palavras
E não gosto de psiquiatras
Porque me roubam os sonhos

O que as pessoas dizem
(meu deus)

E pensam a meu respeito

E eu só preciso de uma sandes de presunto
E de uma caneca de Tinto
E uma fogueira de livros

E desligar o interruptor da solidão.

Silêncio


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Olhares


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

Algibeira dos sonhos


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

Biblioteca


59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha