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quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O tempo perdido

 

Poderia ser

Não ser este tempo perdido

Poderia ser

O ser prometido

Ser ou deixar de ser

Quando o corpo deixa de comer

Quando a boca se suspende nas palavras de escrever

E se eu não o ser

Porque poderia ser

Ser o viver

Sem o saber

Antes de morrer.

 

 

 

Alijó, 23/11/2022

Francisco

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Rio em revolta

 

Sento-me sobre esta triste pedra cinzenta,

Abraço-me ao silêncio escuro e frio…

Perco-me neste sonho que alimenta

A beleza deste rio,

 

Deste rio em revolta,

Enquanto morrem as palavras de escrever,

Da saudade que não volta,

Da saudade que te viu morrer,

 

Sento-me e espero o seu acordar,

Maldito poema de viver,

Sento-me junto a este mar…

 

Este mar de solidão;

Sento-me sobre esta triste pedra de ser,

Enquanto oiço os versos do coração.

 

 

Alijó, 26/09/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Máquina de escrever

 

Na máquina de escrever

Escrevo o teu nome

E desenho os teus lábios de cereja,

Pinto a tua boca

Com pinceis de desejo,

Escrevo o teu nome,

Desenho o teu beijo.

Na máquina de escrever,

Agradeço por pertenceres à minha sombra,

Quando ainda ontem,

Eu mergulhava na tela luar.

Na máquina de escrever,

 

Eu, sou o poema,

Sou a geada suspensa na madrugada,

Sou o verbo amar,

Quando a noite

Não tem medo a nada.

Na máquina de escrever,

Sou o poeta,

Ou outro gajo qualquer,

Sem identidade,

Sem nome,

Que caminha na tua mão,

Feliz por ser.

 

 

Feliz por ter,

Ter uma máquina de escrever.

Na máquina de escrever,

Dentro do velhinho teclado,

Há uma gota de amor

Dançando na insónia.

Na máquina de escrever,

Onde me sento e deito,

Como uma pedra selvagem…

Neste corpo em viagem,

Neste corpo que chora no teu peito.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 11/02/2022

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Os pássaros de viver

 

Onde habitam os pássaros

Dos teus lábios

Que voavam nas árvores da minha boca,

Meu amor!

O que fazem os pássaros

Dos teus lábios

Quando na minha boca, meu amor,

Habitam as flores do teu sorriso!

Como se sentem, meu amor,

Os pássaros do teu cabelo,

Quando nos meus braços,

Habitam o silêncio e o desejo!

O que sentem os pássaros

Dos teus seios,

Quando nas minhas mãos,

Habitam os pássaros de escrever!

E dos pássaros das tuas coxas,

Quando se abraçam

Aos pássaros da minha noite,

Sabendo que os pássaros

Do meu silêncio,

São os pássaros de amar,

São os pássaros de beijar…

Como serão os pássaros

Do teu olhar,

Quando os pássaros do meu escrever,

Se sentam junto ao mar,

E, se abraçam até que acorde o luar,

E nasçam os pássaros de viver.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 11/11/2021

domingo, 8 de dezembro de 2019

A fome da saudade


Trago em mim a fome da saudade.
Não sei quem sou, nesta cidade deserta,
Cansada da verdade.
Trago em mim a fome da tristeza,
Quando o vento se alicerça nos teus lábios.
Trago em mim o silêncio da noite,
Quando um livro perdido, se levanta, e avança contra a escuridão.
Trago em mim o sofrimento do desejo,
Como uma cancela escondida pela geada,
E na montanha, tenho escondidas as lágrimas da calçada.
Trago em mim a morte,
A dor,
E o sonho de adormecer no teu colo.
Trago em mim a saudade,
A fome,
A vaidade.
Trago em mim a felicidade,
De um dia, voar,
Nas tuas mãos,
No teu sonhar.
Trago em mim a fome de sofrer,
Dentro de um relógio indignado com o tempo.
Trago em mim a fome de escrever…
Escrever palavras de alento.
Trago em mim a fome de ser,
Ser quem não sou,
Que sou ser,
Invisível,
Nesta Galáxia complexa da noite.
Trago em mim o prazer,
O sonho,
A vontade de viver.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
08/12/2019

sábado, 23 de novembro de 2019

O sono


Dorme, dorme, meu menino.

Nas lágrimas desta cidade.

Na rua caem palavras de saudade.

No altar veneras o Santo Peregrino.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Dorme, dorme, meu menino.

Nos livros de sonhar.

Dorme, meu menino.

Menino do mar.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Nas manhãs de desenhar.

Dorme, dorme, meu menino.

Dorme nesta cama de palavras incertas.

Dorme, meu menino.

Nas cantigas de amanhecer.

Meu menino, dorme.

Dorme, antes de nascer.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Dorme nas sombras da madrugada.

Meu menino, menino, dorme.

Nesta pedra cansada.

Nesta pobre calçada…

Dorme.

Meu menino, dorme.

Meu menino, dorme.

Dorme sem almoçar.

Meu menino, dorme.

Dorme até antes de jantar.

Meu menino.

Dorme.

Dorme, cansado, meu menino, dorme.

Dorme à beira desta montanha desabitada.

Meu menino.

Menino.

Dorme nesta aldeia amaldiçoada.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Esquece o sono de ontem.

Recorda o sonho de hoje.

Meu menino. Dorme.

Dorme. Menino que foge.

 

 

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

23/11/2019

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Viver

Que sobre o amor nada tenho a dizer,
Saboreio a vida com prazer,
Todos os dias ao acordar,
Danço, escrevo e consigo navegar
Nos teus braços de manteiga,
Aceito,
Amo,
Percorro caminhos obscuros da maternidade…
Tenho em mim a saudade,
Da verdade,
Da sabedoria de nada saber…
A não ser…
Que a morte existe,
Persiste…
Persiste em me atormentar,
Navego no teu colo nascer do sol,
Quando o tempo se esquece de mim,
Tenho o teu jardim,
Desenhado,
Desenhado num caderninho…
Num caderninho dentro de mim,
Que sobre o amor nada tenho a escrever,
A não ser,
Viver.


Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A palavra que mente



Tanto faz,
A alegria de morrer
Ou a tristeza de viver,
Tanto faz,
A alegria de escrever
Ou a tristeza de ler…
… o que escrevi sem o querer,
Tanto faz,
Hoje, este corpo de sofrer,
Ausente
Das lápides que a mão não sente…
As palavras do ser,
À palavra que mente.


Francisco Luís Fontinha
11/01/17

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Palavras em vão


Estas palavras
são as tuas lágrimas
disfarçadas de anoitecer,
estas palavras
pertencem ao teu corpo
suspenso na escuridão,
estas palavras
são as tuas lágrimas...
entre as palavras... as tuas palavras de viver,
estas palavras
são as raízes do teu coração,
palavras, palavras... palavras em vão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2014

sábado, 12 de julho de 2014

Viver


Vivíamos encaixotados numa lâmina de silêncio,
tínhamos dentro de nós o sonho, tínhamos a transparência do amanhecer,
vivíamos sem saber que vivíamos...
viver,

Vivíamos dentro do espelho de uma folha por escrever,
vivíamos como se amanhã fosse o dia mais belo do luar,
tínhamos as palavras em gritos, e vivíamos acreditando que havia uma árvore nua, em despedida...
sentada na alvorada... esperando o regresso do mar,

Vivíamos no centro do círculo de vidro,
tínhamos no olhar a distância transatlântica do desespero..., havia em nós o medo, a solidão,
vivíamos não vivendo,
… porque tínhamos um beijo em nossa mão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 12 de Julho de 2014

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Não, não me obrigues a voar!


Não alimentes a minha fome,
porque eu não quero comer,
não, não grites o meu nome...
… porque sem a tua mão sou capaz de viver,

Escrever,
e... e sonhar,

Não alimentes a minha fome,
não cerres toas as janelas do meu olhar,
não me peças para chorar,
não, não sei chorar...

(escrever,
e... e sonhar),

Não alimentes a minha fome,
não quero os teus lábios de ciclone,
vagueando no meu peito, sobrevoando os meus cabelos tristes,
não,
porque insistes?
que eu seja o que nunca quis ser,
não,
não quero comer,
não,
não quero correr...
apenas quero ser o mar,
com lençóis de amanhecer,

(escrever,
e... e sonhar),

Não, não me obrigues a voar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 10 de Julho de 2014

domingo, 29 de junho de 2014

A tua voz não pode gritar!


A tua voz me entristece,
quando sei que deixou de existir em mim o verbo amar,
a minha cidade, lá longe, tão longe... que nunca a conseguirei alcançar,
dormir nela,
acordar cedo, e abrir a janela,
a janela que tenho no meu peito,
há gaivotas, e há um corpo que envelhece,
a tua voz... a tua voz me enlouquece,
e no entanto, sou obrigado a viver acorrentado a este silêncio sem nome,
a esta vergonha de perder sem ser encontrado,
... não sendo habitado,
nesta sanzala de papel...

Este esqueleto de gesso que carrego e me deito,
sem perceber que há lábios de mel, que há lábios de desejo..., lábios consumidos pela fogueira de beijar,
esta voz me entristece,
como a água do rio que se evapora,
e levita,
e procuro-te, e procuro-te...
e me dizem... aqui ninguém mora,
aqui... aqui ninguém... chora,

Aqui é proibida a escrita,

Os tentáculos do amor,
os seios de uma flor antes de acordar,
as cordas de nylon que ancoram a tua dor...
ao cais de embarcar,

A tua voz me entristece,
o teu corpo vacila na tempestade de sonhar,
o calendário não cessa de correr...
e come-te em pedacinhos,
a tua voz enfraquece,
e transforma-se em versos desesperados,
versos odiados,
versos de escrever...
a tua voz me entristece,
antes de alguém desenhar no tecto das tuas pálpebras a madrugada,
ainda não zarparam os barcos da minha infância,
ainda... ainda não encontrado o verbo “AMAR”...

A tua voz não pode gritar!

A tua voz é um feitiço,
uma nuvem vagueando sobre o Tejo,
a tua voz é um marinheiro mórbido, um marinheiro embriagado na esplanada do beijo...
há cadeiras apaixonadas, há sorrisos travestidos de amanhecer,
a tua voz não pode cessar, a tua voz... não pode morrer,
a tua voz... não é o meu verbo “AMAR”...
que... que deixou de ser,
que... que deixou de sofrer...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 29 de Junho de 2014

O que te absorve


(para ti)


Eu te quero,
mergulhar nas cinzas abandonadas do rio que te absorve,
escrever na flácida pele que te embrulha para separarem a tua pele... da minha pele,
eu te quero,
desfeita em pedaços de suor,
palavras suicidadas das folhas emagrecidas,
palavras de amor,
eu te quero,
como quero viver,
mergulhar nos teus tentáculos que só o desejo conhece..., dentro de ti,
eu te quero... como quero morrer...
apenas... apenas ser.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 29 de Junho de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Deixar de acreditar

foto de: A&M ART and Photos

Desejar o sol é muito
porque nada desejei
escrever é estar vivo... amar quem nunca amei
e nunca quis acreditar nas esplanadas em vidro
desejar a lua é tão pouco pouco
para quem quer ser as frestas de solidão que embrulham o teu desnudo corpo
as flores
os cansaços emagrecidos do plasma adormecido,

Desejar é pouco ou quase nada
desejar o silêncio que embainham os teus lábios... desejei-o e cansei-me de esperar
que abrissem as janelas do doce colarinho de espuma que o mar deixa sobre os lençóis de seda...
desejar é tudo
desejar... desejar que arrefeça a tua mão
que cresça o tua paixão com asas em papel... desejar o sol
e ter a lua
desejar a lua
e ter apenas a sombra da montanha... sem o sol vomitando asneiras em palavras envenenadas
desejar-te como o és... uma rosa nua
de veludo
uma rosa apaixonada dos jardins suspensos que habitam a madrugada,

Sem fronteiras de cetim
deitada a meus pés...
desejar o sol é muito
porque nada desejei
escrever é estar vivo... amar quem nunca amei
e nunca quis acreditar nas esplanadas em vidro
desejar a lua
é pouco... tão pouco... tão pouco... que deixei de acreditar que estou vivo...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 9 de Janeiro de 2014