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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O cubo

 Um pedaço de azul roubou-me a noite

Dentro daquele cubo de vidro

Uma chuva de estrelas

Uma mãe que dá à luz uma estrela

Uma estrela que é filha do porteiro do cubo de vidro,

 

Os cortinados do pequeno cubo de vidro

Cortinados que apenas o sono sabe onde habitam

Uma miúda gira mostra a perna ao magala

Magala que às vezes se esconde no cubo de vidro

Quando a espingarda que transporta começa a disparar lágrimas de sangue,

 

O magala fuma os últimos cigarros da noite

Noite que vivia dentro do pequeno cubo de vidro

Tocavam os sinos

Erguiam-se os mortos das campas ensonadas onde aprendi a gatinhar

E trazia às vezes o mar junto ao peito,

 

Um pedaço de azul

Azul nuvem

Dentro do cubo de vidro

O vidro opaco da miséria

Que o magala trouxera do ultramar,

 

O magala escrevia versos

Versos que morriam à nascença

Poemas que se masturbavam na alvorada

Na primeira luz da manhã

Da manhã de uma espingarda.

 

 

 

 

Alijó, 16/01/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 3 de maio de 2022

Beijos ensonados

 

Dos beijos ensonados

Às sílabas envergonhadas,

Dos pássaros cansados

Às tristes madrugadas,

Dos montes mimados

Às tardes revoltadas…

Da triste saudade

À misera esperança sem nome;

Do vinho martelado

Às poucas cartas que enviei,

 

À verdade,

À fome,

Ao poema que assassinei…

Do meu corpo enforcado

Às lágrimas que chorei,

Do vento,

Da solidão

E de todo o sofrimento…

E de todo o pão.

À chuva miudinha de Luanda,

 

Aos cheiros do amanhecer,

À fogueira…

Às espingardas sem coração.

Ao samba,

Ao prazer,

Ao uísque a bebedeira

Quando a noite parece esquecer,

Quando a noite parece morrer…

E o poeta dos beijos ensonados

Acredita em versos de dizer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 03/05/2022

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Os uivos apitos da saudade

 

Deixei de escrever

Nos lábios da floresta.

Dos pássaros,

Regressam a mim

Os uivos apitos da saudade,

Como se eu fosse uma rocha indomável,

 

Disperso na manhã deserta das gaivotas.

Sei que há nas palavras

Verdadeiras equações de sono,

Versos invisíveis

Que durante a noite se transformam em sílabas,

No poema envenenado.

 

Deixei de escrever

Nos lábios amargos da floresta,

Os beijos nocturnos da insónia;

- Adoráveis submundos nas engrenagens da vida,

Ama-se. Mata-se.

Como se a vaidade fosse um pressuposto

 

Infinito do homem.

Ama-se e inverte-se a claridade lunar,

(e caso seja possível)

Ergue-se na humidade do silêncio,

Entre beijos

E abraços aprisionados.

 

Almoça o sono

Uma sanduiche de medo,

Na companhia dos beijos alicerçados à montanha do Adeus…

Ergue-se de mim e, deita-se na sombra tristeza da cidade,

Todos os automóveis e todas as rodas dentadas do passado,

Morrem de tédio; quantos aos pássaros,

 

Construídos em papel,

Dançam as cantigas desta triste caligrafia,

Que sublime e infinita,

Foge em direcção ao rio.

Deixei de escrever

Nos lábios da floresta,

 

E começo a guardar retractos de sombras,

Que a memória vai apagando,

Dia após dia,

Noite após noite;

E assim, vivo neste habitáculo de espuma,

Esperando que dos pássaros regressem a mim os uivos apitos da saudade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 13/01/2022

sábado, 12 de agosto de 2017

Palavras sós


Palavras!

Enigmas suspensos na madrugada,

O farol avariado, os barcos cerram os olhos, e escondem-se na neblina,

Palavras a arder,

Palavras escritas no fogo da paixão,

Quando a saudade morre devagarinho…

Os poemas despem-se das palavras,

Os livros adormecem sem os poemas,

E o papel amarrotado da tua pele… sedução encantada,

Palavras!

Tristes versos abraçados a tristes noites de Verão,

Sentidos pêsames, a partida para o outro lado do Universo,

E as estrelas amarguradas em fuga para o Infinito,

Verbo,

Os latidos desorganizados dos teus gemidos… quando o rio se suicida nos rochedos,

Em transe,

A ausência delas quando eu sentado espero pela alegria,

Ressequida,

Mortas todas,

As pedras que te atiro…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Agosto de 2017

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Vício


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


há versos felizes
versos sem nome
há versos cansados
versos esfomeados quando cai a noite
há versos esqueléticos
que nem o corpo em decomposição sabe ler
versos com fome
versos vestidos de rio
cidade
e paixão
há versos desempregados
versos enlatados
(nesta cidade em combustão)
há versos conservados em papel sibilado
versos rasgados
versos…
(nesta cidade em combustão)
há versos felizes
versos sem nome
há versos cansados
que nem o tempo consegue apagar
versos de amar
revolta
versos travestidos de soldado
de espingarda na mão
à espera que se abra uma porta
às vezes sem saída
às vezes… versos em vão…
que só o vício desembrulha quando nasce a madrugada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 16 de Dezembro de 2014

sábado, 1 de novembro de 2014

Estes versos e ossos


Tristes versos
estes
barcos esfarrapados que se afundam nos teus olhos
carcaças de ossos
gente aos molhos...
tristes versos dos mendigos sem solução
habitantes de uma cidade em alvoroço
dia sem almoço
carcaças
ventos e marés em confusão
estes
versos
sem nome
estes
estes barcos enferrujados lapidando calçadas e transversais loucas
mulheres cansadas
mulheres acariciando a madrugada
tristes
versos
os corpos em migalhas
em direcção ao rio da amargura
tristes
tristes tardes de literatura
que alimentam os mendigos sem solução
estes
versos
e ossos
este vazio dentro do meu peito incendiado
embriagados livros cambaleando na atmosfera
os círculos do coração... em espera
estes nomes
versos
e crianças...
procurando as árvores da infância
tanto medo... meu Deus...
medo da esperança.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Novembro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A estrada

foto de: A&M ART and Photos

As dízimas lâmpadas da paixão dançando nas ruas húmidas do silêncio,
um verso que chora, triste, adormece,
um verso cansado da noite, sonha, foge...
as dízimas lâmpadas..., sentem-se nos longínquos livros com desenhos para pintar,
e tu criança, e eu menino,
sós esperando o regresso da velha estrada...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2014

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

cerejas

foto de: A&M ART and Photos

não oiço a tua voz desde que terminaram as manhãs de orvalho
abríamos a janela do sonho
e víamos as acrobacias tontas dos pássaros embriagados pelas nuvens de cerâmica encarnada
havia na nossa mão pedaços de desejo
beijos
e réstias dentadas no teu pescoço deliciosamente belo e doce
como as cerejas
não oiço a tua voz fotocopiada desde que percebi ser um ultraleve magoado
uma jangada envidraçada
uma porta mal fechada
não te oiço desde que tínhamos pequenos sons melódicos em vasos de cristal
e brincávamos como crianças à volta de uma lareira esfomeada

dizíamos que o Sol era nosso depois de fazermos amor debaixo do candeeiro abandonado
beijos
como as cerejas
os vidros
e as paredes
caquécticas
e às vezes
lá tínhamos de correr em direcção ao mar

versos ancorados
quando no cais de desembarque o murcho sexo do marinheiro escapulia-se pelas frestas da madrugada doentia
em cio
corríamos como loucos vestidos de versos
e palavras sobrepostas como posições de embarque
fodíamos sem saber que o fazíamos
em cio
versos camuflados depois das tempestades de areia
tombarem sobre o teu corpo húmido de alvorada
e beijos
e caquécticas amêndoas brilhavam no teu púbis de Segunda-feira à noite...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 18 de Novembro de 2013

sábado, 26 de outubro de 2013

mulher desalmada

foto de: A&M ART and Photos

palavras sem rosto
quando sorrisos poucos
habitam no cansaço do transeunte doente
palavras sem gosto
que os barcos loucos
escrevem no caderno infame
sobre as algas de Agosto
palavras em fome
palavras sem nome
que as lágrimas do livro ausente
voam sobre a cidade dos candeeiros de papel
palavras sem nome
palavras que a morte come
e uma límpida gota de suor alimenta
como espelhos esmigalhados pelo pincel
que o pinto inventa
numa tela
numa parede
em gesso
o berço
da criança com sede
palavras sem rosto
palavras de orvalho e palavras do … e palavras nos lábios dela
dos versos verdes das plantas apaixonadas
palavras cansadas
esbeltas
tristes
magoadas
palavras sem rosto
sem gosto
sem madrugada
quando a noite é a noite drogada
palavras
palavras
palavras... de uma mulher desalmada...


(não revisto9
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 26 de Outubro de 2013

sábado, 13 de julho de 2013

Veneno

foto: A&M ART and Photos

salivas-me às gotículas meninas da árvore da tempestade
sabia-te mergulhada nas fantasias mistas dos vidros das portas ensonadas
como mentiras envenenadas
pelos fotões invisíveis da pele sílaba que rompem dos teus grossos lábios
de simples tiras finas de cascatas em vibração até terminarem no rio do desejo criança...
envenenas-me com o teu olhar mesmo sabendo eu que sou uma pedra
uma rocha mingua nua e contígua à claridade da cidade adormecida
e dos livros de chocolate adivinham-se-me tentáculos de silício entre raízes nocturnas,

Ruas com cérebro de teias de aranha
“putas” descabidas nas profundidades da carne apodrecida
velhos rezando o terço enquanto uma flor se masturba nos infinitos versos sem sentido
porque diz-se hoje aquilo que amanhã deixa de existir
escrevem-se palavras vindo depois desdizer-se como não escritas
e os olhos testemunham os silêncios do pedestal
onde habitas como estátua
e choras porque hoje é sábado e todos as horas morrem depois da tarde entrar em ti,

Os teus orgasmos descem da lisa pele de uma imagem a preto-e-branco
como ontem dizias-me que a loucura entrava-nos depois de rolarmos calçada abaixo
e o Tejo abraçava-nos e o Tejo ouvia-nos na escuridão dos veleiros ensanguentados
a enrolarmos charros de areia e sentávamos-nos sobre as pernas de um vulto à procura
de pálpebras e corações apaixonados...
um petroleiro entrava em ti e de mim... e de mim fios de sémen suicidando-se
na árvore da insónia
como panos de chita à volta das tuas coxas de menina perdida no rio da noite...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 30 de junho de 2013

Infelizes como eu por acreditar nos pássaros voando não voando como nós

foto: A&M ART and Photos

Acreditava que voavam os pássaros
como voavam as tuas mãos nas janelas do meu peito
fingia-me de morto
apenas para perceber a cor das tuas lágrimas
acreditava que voavam as flores
como voavam os teus lábios nos meus lábios
acreditar
acreditando que as noites são pedacinhos de pano
com beijos em papel...
acreditava que voavam seios teus
em minhas mãos de sílaba adormecida
eu, eu acreditava,

Acreditando
acreditar que todas as manhãs acordavam as minha antigas sandálias em couro
esquecidas debaixo das mangueiras
acreditava que dormias em pé e te enrolavas no cacimbo
acreditava que voavam os pássaros
como voavam as tuas coxas sobre o trapézio da madrugada...

acreditar eu acreditava
mas não te amo como amo o voo dos pássaros
mas não te amo como amo as minhas pobres sandálias em couro
acreditava que voando como os pássaros
eu poderia voar como o amor sobre o mar ao cair a noite
acreditava que vias nas minhas palavras as fotografias de ontem
enquanto brincávamos sobre as bananeiras do teu quintal...
acreditava que voavam os pássaros
como voavam as palavras em versos esfomeados
distorcidos
infelizes como eu por acreditar nos pássaros voando não voando como nós
eu, eu acreditava.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de junho de 2013

Das palavras não escritas

foto: A&M ART and Photos

Sentia as tuas mãos a sufocarem-me das palavras não escritas
promessas incompreendidas quando havia uma manhã de desejo
correndo encosta abaixo
afogando-se nas veias submersas em saliva que escondiam sombras do meu pobre esqueleto
ossos e pó deles envenenados pelas imagens a preto-e-branco dos meus lábios descoloridos,

Amargos
sofridos quando sabíamos que era o último reencontro após a partida em direcção ao nada
sabíamos e não o confidenciamos a ninguém
apenas trocávamos verdes olhares de verdes olhos
em frente à inocência saudade,

Sentia a tuas mãos de xisto
vagueando no meu corpo de árvore em papel paixão
poisavam pássaros em ti
e ouviam-se as tuas dolorosas canções de amor
caminhando sobre a praia-mar...

Uma floresta de carnívoras madrugadas acordava dentro de nós
quando abrias os olhos e sabias que já tinha partido
descia a janela com vista para as rochas mergulhadas no mar...
e procurava da noite dispersos gemidos de ti
que eu pensava serem versos nas folhas mortas do poeta,

O livro escrevia-se conforme se extinguiam as luzes dos nossos gemidos
formatávamos os nossos discos rígidos até percebermos que já não éramos nós
eu deixei de saber quem eras
e tu, tu percebias que eu não passava de um mero cortinado de areia
a brincar numa rua de Luanda...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 26 de junho de 2013

As cinco torres de neblina

foto: A&M ART and Photos

Embebida nas drogas sintéticas do desejo
há palavras que brotam em teus alicerçados lábios de amanhecer
como pedaços de papel suspensos de um velho livro de poemas
há uma cadeira vazia onde te sentavas
e deixaram de existir os gemidos gonzos perdidos de ti,

Saboreando eu as ditas embebidas na tua doce boca
ou quando acorda o botão de rosa
e sabes que vem do espelho cinzento o vento que te enlaça
e enrola nos cordões de aço
sobre o rio em delírios nocturnos,

Abres as janelas das cinco torres de neblina
que sobejaram da alegre tempestade de alento
sabes que parti porque sou como as gaivotas
voando de mastro em mastro
em busca de alimento,

Sou
sou um falso carvão filho de um medíocre carvoeiro
que corre as ruelas da cidade numa bicicleta antiquada
não estou habituado a alimentar-me como as pessoas normais
talvez porque eu não seja humano… talvez porque eu sou um normal carvão,

Sem coração
profano
embebida nas drogas sintéticas do desejo
ela a Rainha das madrugadas em poesia
saltando de vez em quando os tristes muros da insónia...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 8 de junho de 2013

Rosas de amor

foto: A&M ART and Photos

Tinhas na mão as palavras minhas
em ausências mergulhadas nos carris da insónia
trazias-me ao jantar os sabores do mar
com pequenas algas e pedaços de luar
tinhas nas mão as palavras minhas
dementes como esqueletos ósseos suspensos no estendal da noite
como acontecia aos orgasmos nocturnos nas miseras coxas em granito
tínhamos corações de xisto
e janelas com imagens encarnadas entre flores e pétalas às pálpebras quebradas
dos vidros restou nada
e da casa com cortinados de papel...
sobraram saudosos beijos embrulhados em simples abraços,

Tinhas na mão a pele silenciosa da madrugada
como pingos de chuva
em cansados versos por mim declamados
tínhamos os rios e as pontes e gaivotas embriagadas
nos confins voos em siderais mistelas de açúcar e canela
e demais minhas desérticas palavras
por ti
e de mim
abandonadas
tinhas
na mão minhas
corpos dispersos teu desejo travestido entre plumas e rosas de amor.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 7 de junho de 2013

As gaivotas embriagadas

foto: A&M ART and Photos

Esqueço abismos e inglórias
acordo sabendo que deixaste de me esperar no banco granítico
do jardim invisível
o nosso pequeno quarto sobre as rochas viradas a Norte,

Esqueço palavras e sonhos
imagens
esqueço os sofrimentos das nocturnas esplanadas que a escuridão engole
e transcreve para o muro em betão que divide os nossos corpos separáveis hoje,

Acorrentados ontem
(lembras-te – querida solidão de areia?)
como barcos prisioneiros em pilares de sombra
e esperando que o luar desça as escadas dos cais desassossegados,

Esqueço a ti
como as serpentes envenenadas debaixo do divã
esqueço a ti embrulhada no capim húmido dos lençóis da madrugada
e sei que deixaste de me esperar,

E nunca mais te vi na janela da manhã
como o fazias ontem
antes de ontem...
quando regressávamos dos corredores de aço com sulcos finos em papel de parede,

Rosas em decomposição
corpos de poemas em putrefacção não sabendo eles que deixaste de olhar o sol
e começaste a caminhar mar adentro
como um paquete sem rumo,

Descendo calçadas de vidro
versos cansados
palavras e palavras e palavras
para quê?

Versos malvados
esqueço abismos e inglórias
acordo sabendo que deixaste de me esperar no banco granítico
do jardim invisível...

Tristes
estas noites quando os relógios morrem
e o tempo cessa as suas garras
no pescoço teu onde dormem as gaivotas embriagadas.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 2 de junho de 2013

Penúria montanha

foto: A&M ART and Photos

Fui ver o oceano mar
que o inverno coração tece nas montanhas da paixão
levitei sobre as rochas cansadas de uma madrugada doente
e demente flor em procissão no corpo teu das estrelas com sabor a chocolate
fui ver... e permaneci em tempos têmporas adormecidas dos cascos violentos...
tempestades e tormentos e nas mãos tuas as delinquentes barcaças dos tecidos velas,

Será do teu corpo que acorda a fome em palavras dispersas e vãs
que das teias de aranha silêncios meus porque tenho lábios de areia
e boca de caverna sem esconderijo ou amor ou amar dos versos embriagados
fui e desejo não regressar às antigas ruas dos candeeiros dispersos
como as minhas folhas transparentes de pergaminho voando sobre plátanos
e corpos nus brincando numa praia imaginária,

Há beijos vendidos por duas ou apenas três perversas rimas
beijos cansaços como velhos farrapos de barcos aços
guindastes e seios de xisto embalsamado que suspendem-se nos socalcos da loucura
grito e rio sorrisos que o Douro entranha
teu ventre uma penúria montanha
cabisbaixo o púbis fingindo ventos que me levam às cidades de granito...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

As coxas de diamante lapidado

Me perdi, desencontrei, me amei e chorei por você, me perdi, e me cansei, me desorientei, tudo, tudo por você, sonhei, escrevi versos sobre a luminosidade das pálidas tardes que eu inventava para
Para você,
Inventei um sol e uma lua, construí jangadas de beijos e pintei
Para você,
E pintei o céu nocturno das planícies complexas dos orvalhos destinos em círculos de luz com olhos verdes e cabelo castanho, havia uma rosa dentro e um livro que eu roubei
Que tu roubaste num público jardim,
Que eu roubei de um silêncio de Primavera, para você, me perdi, desencontrei, e me amei
E chorei, inventei as loucas abelhas das paredes de xisto, e me cansei de procurar as ditas palavras do amor, me amei, e me apaixonei, tudo
Por você,
Amanhã serei um fio de solidão suspenso entre dois postes de iluminação, amanhã serei uma bola de neve com uma cenoura e duas azeitonas, muitos vão acreditar
E dizerem
Este é o dito António das névoas, homem de poucas palavras, desamado, desacreditado, este é ele, aquele que vocês diziam ter poderes mágicos na língua e que das mãos saiam versos, afinal, afinal este não é ninguém, por você
Amei, e chorei, e sonhei, e tombei
No pavimento térreo das amoreiras voadoras, tive sonhos e tive grandes loucuras sobre barcos com lentes de contacto, tive o céu ao meu dispor, e nada disso eu quis, não quero, detesto, as palavras do amor, os versos que escrevo, os versos que reescrevo, invento, a ventosidade, alimento-me das dálias masculinas e femininas dos jardins da Babilónia, e
Amei, e chorei, e sonhei, e tombei, da Babilónia para você
Um magnifico frigorífico a cores, uma máquina de café expresso, alguns livros e umas telas ranhosas que em horas vadias o dito António das névoas desenhou e pintou, tudo, tudo para você,
E hoje pergunto-me onde está ele? Nunca mais o vi, nunca mais ouvi os seus lamentos quando se sentava na varanda, quando puxava de um cigarro maroto, e desabafava palavras dele com as minhas palavras, quando misturava o fumo dele com o meu próprio fumo, e hoje
(Pergunto-me),
(    )
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 13 de janeiro de 2013

Solstício da paixão


O sol só
guerreiro da paixão
dentro de quatro paredes em sofrimento
o sol só
só à espera das delícias de um coração
que traz o vento


o vai e vem das coisas amargas
tuas sílabas em imagens parvas


o sol
e a lua
nua

só entre quatro paredes de aço inoxidável
o destino meu
meu querido menino
sem as luzes das estrelas do céu
como um ferrugento barco saudável
afável
nas palavras e nas nádegas mergulhadas em sal e versos cansados
gemem os corpos amados
o sol e o vai e vem das coisas amargas
tuas sílabas em imagens parvas
nua a lua tua


o sol
e a lua
nua

o sol só
em pedaços de xisto com manteiga e mel
eu e o desgraçado papel
onde escrevo palavras
amargas
que saboreio em ré e em dó...

sol

o vai e vem das coisas amargas
tuas sílabas em imagens parvas.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

sábado, 22 de setembro de 2012

Nas flores do amor


Divago como um louco
nas flores do amor
do amor pouco
às flores com dor,

apaixonadamente
o amor que a lua engole nas noites de escuridão
divago como um louco
pouco
os suspiros do meu coração
nas ruas abandonadas e sem gente,

até acordar a cidade
abraçada ao rio da despedida,

divago como um louco
nas flores do amor
divago numa rua sem saída
com janelas de claridade,

e o louco
coitado
pouco
abandonado
divago
nas flores do amor
ao mar da saudade
e sinto as luzes dentro dos versos sem vaidade...

(poema não revisto)

terça-feira, 19 de junho de 2012

pontos de interrogação

entretido nos dias
a construir nuvens
entretido nos dias
a pintar o céu
e a vestir as árvores

entretido nos dias
eu
com os dias

entretido nos dias
entre dias e parêntesis
ou pontos de interrogação...

eu

eu
com os dias
entretido nos dias
a construir versos de amor
e jardins de papel
entretido nos dias
eu
com os dias.