Mostrar mensagens com a etiqueta vadia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta vadia. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 25 de junho de 2013

O gato “Orlando”

foto: A&M ART and Photos

Um círculo de espuma
no centro sombrio de uma tela mergulhada em insónia
junto à fronteira que separa a noite do dia
o mar rasurado misturando-se em lágrimas e pequenos silêncios de papel...
e de um sofá submerso em sonhos pincelados de sal... ouve-se o gato “Orlando” em gemidos de sono,

Ele inventa a madrugada sobre os telhados de Lisboa
e pinta nas manhãs de neblina a paisagem invisível do rio envergonhado
atravessado por uma ponte rabugenta
enferrujada pelo vento das nortadas entre despedidas e desejadas barcaças
derramando a solicitude em palavras abstractas e insignificantes,

O desejo em tua felina pele voando sobre as árvores do Tejo
confunde-te com gaivotas e pernaltas em pétalas de açúcar
barcos apaixonados
e astronautas
e no final do dia dizes-me que no Sábado vais ficar ausente de mim,

Habituei-me às tuas garras sobre o meu peito em papel-cartão
marinheiro tu saboreando sorvetes de chocolate como broches na lapela do mendigo artista
dormindo sobre a calçada e desenhando nos teus tornozelos as equações trigonométricas da paixão
e procurando ângulos no negro quadro separando a parte real da parte imaginária
os números complexos em ti descendo o corpo do círculo de espuma,

Estás nua
geada de sémen em migalhas de areia
correndo esquinas e travessas em madeira
pilares e vigas
e sorriso algum emerge dos teus lábios de cidade adormecida... vadia e prostituta.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha