Mostrar mensagens com a etiqueta tela. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta tela. Mostrar todas as mensagens

domingo, 21 de maio de 2023

A minha cidade

 Em cada pigmento de cor

Deita-se um pequeno sorriso na tela

Desenha-se o corpo circunflexo

Em pequenos círculos aerodinâmicos

Em cada pigmento de cor

Acordam as estrelas da minha cidade

E brincam os meninos da minha cidade

 

Em cada pigmento de cor

Oiço as sombras da minha cidade

E levitam em direcção ao céu

As mulheres da minha cidade

 

A cada pigmento de cor

Envio as palavras das colmeias em flor

E escondem-se na minha algibeira

As palmeiras da minha cidade

 

Na tela onde escondo

Cada pigmento de cor

Em cada pigmento de cor

Da minha cidade

Um sorriso de vento me leva até lá…

 

 

 

Alijó, 21/05/2023

Francisco Luís Fontinha


 Acrílico/gesso s/tela. Francisco Luís Fontinha – Alijó.

sexta-feira, 24 de março de 2023

Meia dúzia de retractos

 Enquanto escrevo, morro, enquanto escrevo, suicido-me na tristeza do poema, enforco-me na agonia de uma tela sem nome, suspensa numa manhã junto ao Tejo, do rio, vêm a mim os tristes cacilheiros, que entre viagens, me trazem o silêncio da despedida,

E despeço-me sem ter de quem me despedir, apenas me restam meia dúzia de retractos, meia dúzia de sombras…

E muitas dúzias de sonhos; morram todos os sonhos.

Morram todos os sonhos e todos os sonhadores e todos os poetas e todos os pássaros… e que morram também todas as noites com luar.

E já agora, que morram todos os cacilheiros e todos os barcos da minha infância.

Puxo do último cigarro. O veneno que me mantêm vivo e de boa saúde…

Inesperadamente, começo a odiar todos aqueles que morreram e que amei. Inesperadamente, começo a odiar-me, começo a odiar as minhas palavras, os meus desenhos… e todos os meus sonhos.

Enquanto escrevo, morro.

Suicido-me na tristeza do poema, enforco-me na agonia de uma tela sem nome como todas as minhas telas, sem nome.

De que serve um nome?

 

 

 

Alijó, 24/03/2023

Francisco

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Vida

 Numa folha em papel branco

Podia escrever a minha vida

A minha vida

Como se a vida pudesse ser escrita

Como se a vida pudesse ser desenhada

Numa pequena folha em papel

Ou numa tela desmaiada,

 

Numa pequena folha desanimada

Nasceu a não sei quantos de Janeiro

Às sete e trinta da madrugada

Num feliz Domingo de Sol,

Cresceu

Brincou junto ao mar

Cresceu

Cresceu

E morreu a tantos do tantos

De dois mil e tantos…

A vida

A minha vida,

 

Uma merda de vida

Dentro das escarpas da solidão

A vida que é escrita

Na escrita que é vivida,

Vivida em cada mão,

 

Numa folha

Numa folha em papel branco

Quando no corpo um nenúfar de vento

Te leva a pequena folha

A pequena folha em papel branco…

E não tens onde escrever

A tua vida

A vida da tua pobre vida.

 

 

 

 

Alijó, 17/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Recordações tridimensionais

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


A tela vazia e só
no centro do alpendre doirado
as palavras embalsamadas
que se misturam nas cores adormecidas
por uma mão em descanso
com medo de conversar...
a cidade engolida pela sentença do amanhecer
dormir
e não acordar
quando as imagens se despendem da noite embriagada
não regressar aos teus braços
nunca,

até que a ponte se transforme em alegria
e a madrugada
comece a desembrulhar a tela vazia,

as equações do prazer
na ardósia eterna da paixão
o silêncio Deus envenenado pelas sombras dos lábios narcisados
a fala entranhada nas montanhas do abismo
e o corpo desenlaça-se do secreto olhar das amendoeiras em flor
a tela
nua
apaixonada pelas recordações tridimensionais do rio minguado
as areias húmidas sobrevoando o teu corpo de porcelana
até que a ponte...
e a madrugada...
apareçam para desembrulhar a tela vazia.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012