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domingo, 13 de outubro de 2013

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes

foto de: A&M ART and Photos

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013