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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Lado negro

 No lado negro da lua

Onde todas as noites me vou esconder

Onde escondo este poema

E ele amua,

No lado negro da lua

Onde passo as noites a escrever…

Na companhia desta lareira em chama,

Na companhia do meu sofrer.

 

No lado negro da lua

Onde me vou sentar

Neste pedaço de pedra cinzenta,

De onde vejo o mar…

E um sorriso pela manhã que me alimenta…

No lado negro da lua…

Onde tenho todo o meu sonhar.

 

 

30/10/2023

domingo, 2 de julho de 2023

Sonhos…

 

Os sonhos,

Os sonhos são apenas sombras

Sombras de nada

Dentro da nossa cabeça,

 

Os sonhos,

São pedacinhos de silêncio

São noites envergonhadas

Das noites sem destino…

 

Os sonhos,

Os sonhos são apenas sombras

Palavras que ninguém liga…

E vergonha…

De ter sonhado…

As sombras

Das sombras que a madrugada assassina.

 

 

 

02/07/2023

domingo, 14 de maio de 2023

Às vezes, meu amor, às vezes penso e sonho…

 Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor,

De onde vêm todas estas palavras que escrevo,

De onde vêm todas estas imagens e todas as palavras,

 

Às vezes, meu amor, às vezes sinto o medo…

O medo de que estas imagens se abracem a mim

E algum idiota me diga que estou louco…

Mas não será essa loucura com que nos apelidam…, a melhor forma de sonhar o mundo?

Às vezes, meu amor, às vezes penso e sonho…

 

Penso que estou a sonhar,

Muitas vezes sonho que estou a pensar,

Às vezes penso,

Penso e dizem-me que não devia pensar, tanto…

Mas penso,

Mas sonho,

Sonho que penso que nenhuma criança terá fome,

Penso que sonho que nenhuma mulher será espancada…

E penso, penso muito, meu amor…

 

Penso e imagino a alvorada,

Sonho e penso, quando se despede de mim o luar…

Penso, meu amor, penso muito,

Que não devia pensar tanto,

Penso por que razão todas estas imagens e palavras fizeram parte das minhas brincadeiras em criança,

Penso, meu amor,

Penso muito, penso que se despede o dia… e uma infinita madrugada está para regressar,

E abraço a noite, como te abraço… lentamente…

 

E penso, e sonho…

E muito lentamente olho-te e percebo que tens uns olhos lindos…

Gosto de olhar os olhos e deles receber as estrelas da manhã…

 

E penso, muito, que não devia pensar,

Mas penso,

E sonho,

Sonho que penso,

Penso no que sonho…

E alguns dirão; está louco,

 

Às vezes, penso,

Penso muito, meu amor, às vezes penso de onde vêm estas imagens que semeio nas telas e em pequenas folhas,

Às vezes, penso,

Penso muito meu amor…

Penso que às vezes a escuridão é uma óptima companhia,

Depois, meu amor, penso…

O que dirá o gladíolo para a tulipa!

Ou será que estão ambos quase abraçados…

E nada dizem,

Ou será que dizem?

 

E eu, penso, penso muito, meu amor…

Penso que há dias de chuva loucamente felizes,

E que há dias de sol que são uma autêntica merda,

E uma criança fica encantada com um brinquedo…,

Mesmo que não tenha qualquer valor comercial…

Porque ainda há crianças que não sabem o significado de brinquedo,

 

Tive-os, muitos.

Destruía-os…

(dizem que saí ao tio António, mal recebia um brinquedo destruía-o imediatamente…

E quando lhe perguntavam, era para ver como era por dentro)

Eu fazia o mesmo,

Tive-os,

Muitos…

Mas muitos não os tiveram,

E alguns que os tiveram…

Viviam em casas assombradas;

Felizmente a minha casa nunca foi assombrada,

 

E penso.

E sonho,

Sonho muito, meu amor,

Sonho e penso, que fazer com todas estas imagens…

E sonho que penso,

Quando depois de pensar o que sonhei…

Nada;

Fecho a janela e hoje não me apetece mais olhar o mar.

Cansei-me, hoje, meu amor… cansei-me do mar.

 

E penso,

E dou comigo a pensar,

Que sonho,

Mas não,

Só poderei estar a sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 14/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Flor do teu cabelo

 Se o vento vier, se o vento me escutar,

Pedirei ao vento …

Tempo,

Pedirei ao vento os olhos da menina do mar.

 

Se o vento vier, e trouxer uma flor

Na eterna flor em teu cabelo amordaçado,

Deixo nos teus lábios um recado…

Dos teus lábios de amor.

 

Se o vento vier, se ele vier um dia,

Peço ao vento que faça do meu rio de esperança…

Um rio de poesia,

 

E que o vento me deixe viver,

Viver como uma criança,

Uma criança sem sofrer.

 

 

 

Alijó, 24/04/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 23 de abril de 2023

Dos sonhos a tua cabeça no meu peito

 Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Sonhas que os meus sonhos se tornem realidade,

Sonhas que eu nunca deixe de sonhar,

Que nunca deixe de amar,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

Que o mar da minha infância,

Um dia,

Um dia nos entre pela janela,

 

Que um dia,

Os sonhos de sonhar…

Sejam os sonhos de sonhar,

Deitas a cabeça no meu peito,

E sonhas,

 

Sonhas que a madrugada acorde nos nossos corpos em paixão,

E sonhas,

Sonhas…

Deitas a cabeça no meu peito,

E rezas,

 

Deitas a cabeça no meu peito,

E pedes protecção Divina,

Que o teu Deus nos proteja,

Que o teu Deus nunca se esqueça de nós…

Deitas a cabeça no meu peito… e sonhas.

 

 

 

Alijó, 23/04/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 16 de abril de 2023

Pequena espada de luz

 A espada de luz

Que aos poucos se alicerça no meu peito

É a chave que a noite me dá

É a chave que a noite me tira

A espada de luz

Que invento nos meus olhos

Será o veneno dos meus sonhos

Enquanto eu tiver sonhos

Enquanto eu tiver vida,

 

Enquanto eu tiver noite

Enquanto eu tiver olhos

Enquanto esta espada de luz tiver vida

Vida própria

Emoções

Cansaços

E desilusões,

 

Esta pequena espada de luz

Levar-me-á ao silêncio dos teus olhos

Enquanto os teus olhos

Enquanto esta espada de luz

Tiverem vida

Enquanto o meu peito

For um pedaço de mármore abandonado

Um pedaço de mármore sem memória.

 

 

 

16/04/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 24 de março de 2023

Meia dúzia de retractos

 Enquanto escrevo, morro, enquanto escrevo, suicido-me na tristeza do poema, enforco-me na agonia de uma tela sem nome, suspensa numa manhã junto ao Tejo, do rio, vêm a mim os tristes cacilheiros, que entre viagens, me trazem o silêncio da despedida,

E despeço-me sem ter de quem me despedir, apenas me restam meia dúzia de retractos, meia dúzia de sombras…

E muitas dúzias de sonhos; morram todos os sonhos.

Morram todos os sonhos e todos os sonhadores e todos os poetas e todos os pássaros… e que morram também todas as noites com luar.

E já agora, que morram todos os cacilheiros e todos os barcos da minha infância.

Puxo do último cigarro. O veneno que me mantêm vivo e de boa saúde…

Inesperadamente, começo a odiar todos aqueles que morreram e que amei. Inesperadamente, começo a odiar-me, começo a odiar as minhas palavras, os meus desenhos… e todos os meus sonhos.

Enquanto escrevo, morro.

Suicido-me na tristeza do poema, enforco-me na agonia de uma tela sem nome como todas as minhas telas, sem nome.

De que serve um nome?

 

 

 

Alijó, 24/03/2023

Francisco

sexta-feira, 3 de março de 2023

A mais bela flor do Universo

 Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

Esperava que o tempo se escoasse sobre os ombros.

Do outro lado da rua, junto à montra onde se passeavam espantalhos e pequenos monstros, um silêncio de sono veio até ele, olho-o e

Tombou no seu peito.

Das sílabas da carne ao desejo de fugir foi apenas um espasmo, ergueu-se da pedra onde tinha ficado esquecido vários dias, porque ao que parece ninguém reclamou a sua falta, e começou a correr em direcção aos rochedos de onde se podiam ver as primeiras lágrimas da manhã.

Um sorriso iluminou-o,

Era o sorriso de sua mãe,

Que voava por aquelas bandas, sem perceber porque razão o filho corria, corria apressadamente para tais rochedos.

Chegado aos rochedos, recordou a infância difícil, recordou todas as fotografias que já tinha rasgado e posteriormente lançado à lareira os pedacinhos que se amontoavam sobre a secretária, escreveu uma carta sem remetente, que tempos depois, alguém descobriu no bolso de um velho casaco que tinha ficado esquecido num barco aportado junto ao cais e em adiantado estado de decomposição,

O corpo morre, apodrece…

Pó, meu querido filho.

Brevemente serás pó.

E como tudo na vida, apenas pó,

Os sonhos sonhados e os sonhos não sonhados; poeira sobre um manto de lágrimas à espera do vento,

E quando acorda o vento,

O Santo Sepulcro da infâmia acorda, senta-se junto à lareira e…

E dizem que ele estava feliz.

Tão feliz, tão feliz…

Que lançou-se dos rochedos e há quem acredite que ainda hoje voa sobre os plátanos e as acácias,

 

 

Lâminas do cansaço

 

 

Procuras-me dentro deste pequeno cubo em vidro

Onde semeei as primeiras letras do alfabeto,

Procuras-me junto aos bares de uma Lisboa desencaixotada,

Triste memória,

Triste e ancorada,

 

Procuras-me enquanto o sono

Desce do primeiro silêncio em luar,

Olhas-me,

Olhas-me e acreditas que estou vivo,

Mas olha que não,

Que não,

 

Que não tenho sonhos,

Barcos para brincar,

 

Procuras-me nas estantes…

Talvez penses que me escondo dentro de um pequeno grande livro,

De poesia seria o desejado,

Mas começo a odiar a poesia,

As palavras,

E o dia…

 

Os sonhos são uma (merda) segredava ele aos pincelados pingos de chuva da manhã,

Depois, sentava-se na primeira sombra que encontrava e…

E o sono eterno apoderava-se dele,

Como a miséria,

Como a reencarnação do Diabo travestido de flor;

A mais bela flor do Universo.

 

 

 

 

Alijó, 03/03/2023

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Sonhos de sonhar

 Dos braços desta ribeira

Recebo a voz do silêncio,

Nos braços desta ribeira

Vêm a mim as semeadas palavras

Que na voz do silêncio

Acordam as madrugadas,

 

Dos braços desta ribeira,

Ribeira que corre nas minhas veias,

 

Dos braços desta ribeira

Que em círculos brinca na minha mão,

Vou procurar a manhã que acorda,

Na manhã que mergulha na montanha…

Nos braços desta ribeira,

Ribeira das noites em luar,

Regressam a mim os sonhos,

Os sonhos de sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 19/01/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Assimetria

Uma criança pode ser tudo o que quiser; basta sonhar.

Eu menino

Eu criança

Eu sonhava

Sonhava com coisas

Coisas esquisitas

Coisas sem nexo

Sonhos invisíveis

Sonhos sonhados

Sonhos,

 

Coisas sonhadas

Coisas

Sons que me entravam pelas frestas da manhã

E cheiros que eu coleccionava nas mãos,

 

Sonhos

Malditos sonhos de sonhar

Que eu

Eu criança

Eu menino

Eu sonhava

Sonhava com sonhos que sendo sonhos não eram sonhos,

 

Sonhava com merdas

Merdas que hoje são os meus sonhos

Sonhos de merda

Coisas esquisitas,

 

Coisas de merda

Os sonhos

A vida de um sonhador

Sonhar que vive

Dentro da morte de um sonho,

 

O frio

A chuva dentro do frio

Em cio

As tardes junto à Torre,

 

O rio

Naquele maldito rio

Onde habitam esqueletos

Onde brincavam as crianças

As crianças que sonhavam,

 

Por isso

Eu menino

Eu criança

Eu sem sonhos,

 

Sonhava

Gritava

Sonhava com barcos em papel

Sonhava ser pedra

Alicate

Martelo

(para foder a cabeça a alguns)

Sonhos

Que sonhava

E morreram

Nos sonhos

De uma madrugada,

 

Os apitos

O clitóris disfarçado de sombra

Entre um sonho

O outro sonho

E a vindima,

 

Mais um dia

Mais um ano

Com sonhos

Sem sonhos

Destes tristes sonhos de menino,

 

(Uma criança pode ser tudo o que quiser; basta sonhar.)

 

Sonhar o quê?

 

Sonhos

Sem sonhos neste taxímetro a que apelidam de vida

Vida de sonho

Ou o sonho da vida,

 

Feliz aquele que não sonha

Feliz o menino que nunca sonhou

Sonhou feliz no sonho

Quando do sonho

Uma árvore se levantou

E gritou;

Que se fodam os sonhos

E que se fodam os sonhos de sonhar,

 

Há quem sonhe em morrer

E não consegue matar-se,

Mata-se uma

Duas

Mata-se três…

Três horas da madrugada,

E no final

Está vivo,

Está a sonhar

Que morto

Sonhou

De morto se levantou,

 

E ajoelha-se no altar

Não sonha

Mas reza

Ergue as mãos a Deus

Pelo sonho sonhado

Estar morto

Assassinado

Estar vivo

Escrevendo poemas…

 

Escrevendo poemas enquanto a vida me deixar

Por aqui

Por ali

Por aí,

 

Sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 16/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Fotografia para o inferno

 Os sonhos são pedacinhos de rocha

Suspensos num rio sem nome,

São pequenas janelas gradeadas

Com fotografia para o inferno,

Os sonhos são papel

 

Amarrotado,

Os sonhos são silêncios,

São… rios sem nome,

Os sonhos são enxadas em revolta,

São um calendário de equações diferencias,

 

Os sonhos são papel-higiénico,

São a flor parvalhona que um parvalhão aprisiona na lapela,

São cordas de nylon,

São corpos mutilados pela guerra,

Os sonhos são janelas gradeadas,

 

São sótãos,

Filhos, filhas, mar, ar, nada…

Os sonhos são solidão,

São madrugadas,

São noites sem destino,

 

Os sonhos são as crianças,

Uns tem-nas, outros…

Inventam o sono na alvorada,

Os sonhos são as abelhas,

Porque os sonhos são pedacinhos de rocha…

 

 

 

Alijó, 23/09/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Aos pássaros que desistiram da Primavera

 

Não desistas,

Enquanto o vento te leva para o mar,

Não desistas e,

Não te deixes ofuscar pelo luar,

Não desistas de voar,

Amar,

Brincar,

Beijar…

 

Não desistas das palavras

Que escreves no céu nocturno do sonho,

Não desistas das canções de embalar e,

Que os teus pais te ensinaram…

Não desistas das tardes límpidas junto ao rio,

Não desistas de observar as montanhas e,

Todas as pedras.

Não desistas, não desistas de sonhar.

 

 

Alijó, 06/04/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A sanzala dos beijos

 

Via-te dançar

Na sanzala dos beijos,

Via-te brincar

Na sombra dos desejos,

Via-te abraçar

As palmeiras distantes da baía,

Via.

Via-te encostada à planície da solidão,

Depois da tarde se recolher,

Via-te a correr,

Quando apressadamente te encostavas ao corrimão

Da escada de acesso ao mar.

Via-te caminhar

Sob a ténue escuridão,

Via-te escrever e,

Pegares na minha mão.

Via-te perdida

Na cidade.

Via-te quando te escondias na idade

Depois da partida.

Via-te na esplanada da fotografia,

Via.

Via-te nos lábios a saudade

Do frio que ontem fazia,

Via.

Via-te em mim depois do acordar

Sabendo que dançavas na sanzala dos beijos;

Via-te sentar,

Via.

Via-te desejar

Todas as sílabas entre parêntesis e ensejos,

Via-te sabendo que ver-te me causa saudade,

Via-te na areia fina de uma página aberta,

Via-te quando olhavas sem vaidade

A rua deserta.

Via-te saltitando as pedras da calçada,

Via-te quando me batias à porta do silêncio matinal,

Com a paixão de um livro agasalhado,

Via-te embrulhada ao jornal,

O mesmo, de sempre, que eu tinha comprado.

Via-te sem saber que te via,

Na sanzala dos beijos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó 16/02/2021