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domingo, 15 de janeiro de 2023

Deus da ausência

 Do lápis negro

Carvão da ínfima linha do horizonte

Manhã que se suicida nas umbreiras do mar

Pedaço de rio

Quando na saudade

Um pequeno livro

Dentro do teu livro

Às palavras que grito

Quando o sono de inveja

Poisa no teu corpo.

 

Somo duas

Éramos três flores com espinhos

Quando a alma diz ao Diabo

Que do dia nada de bom

Porque só a noite te envenena

Na noite que te lamenta.

 

Verga-te

Deita-te dentro do sono

Quando uma laranja

Fica esquecida na tua mesinha-de-cabeceira.

 

O despertador acorda-te

Tu ergues-te

Tu vives

Enquanto dentro de ti

Em mim

Que sou eu

Morre.

 

Um docinho.

 

Poiso a cabeça

Sobre o teu peito

Teu seio direito

Beijo-o

Beijo-o porque está pertinho da janela

Da janela com vista para o Oceano

Abro-a

Beijo-o

Pego no pôr-do-sol

Ato-o a todos os barcos

Beijo-o

Puxo-os e acomodo-os no meu quarto

Volto ao teu seio direito

Beijo-o

Puxo-os

Eles dormem

Elas dormem

Morrem

Fumam

Deitam-se nas tuas coxas de incenso

E também eles

E também elas

Morrem.

 

Com o lápis escrevo

Apagas com a borracha

O que escrevo

Dos meus beijos

Às minhas mãos.

 

Grito.

Sinto-o dentro deste silêncio

Quando dentro das sanzalas

Uma criança

Pede pão

E um não

Pão

Quando o tempo

Se mata aos teus olhos

Dentro dos olhos

O querido Deus da ausência.

 

Fecho a janela

Deito a cabeça

Beijo o teu seio esquerdo

Deixo em poiso o teu seio direito…

E vou adormecer todos estes barcos.

 

 

 

 

 

Alijó, 15/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 6 de abril de 2019

Suspenso no teu olhar.


Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado.

Vou assassinar o teu corpo, apenas o teu corpo,

E fugir para a Lua,

Vou beijar os teus lábios,

Antes de assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E deitar-me nas tuas cinzas,

Eu, cremado,

Como os meus livros,

Como o meu corpo…

Incinerado.

Vou queimar os teus seios,

Antes de escrever neles, amo-te,

Vou assassinar todos os meus livros,

Quando começar a madrugada.

Quando eu morrer,

E, os meus livros,

E, o teu corpo,

Vou,

Talvez,

Ser feliz.

Como os meus livros,

Como o teu corpo,

Como o meu corpo.

Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado…

Como a vida é complexa…

 

Como o teu corpo, suspenso no teu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

06/04/2019

sábado, 5 de setembro de 2015

Pensão ruína



(desenho de Francisco Luís Fontinha – Setembro/2015)
 
 
Mastigava as palavras nocturnas do sono,
Enquanto do outro lado da rua,
Alguém,
Alguém gemia,
Uma rosa nua?
Uma pétala de rosa tua?
Alguém,
Enquanto eu dormia,
Alimentava-se dos meus sonhos entre círculos e triângulos rectângulos,
Acariciava os catetos,
Beijava a hipotenusa,
E enquanto eu dormia,
Alguém,
Alguém vestido de musa…
Nua a rosa,
Pétala a tua,
Mastigava as palavras nocturnas do sono,
Desenhava na ardósia negra do sentido proibido
Os teus seios mendigando o meu peito,
Nunca,
Nunca tive jeito,
Vontade…
E alguém,
Sem eu saber,
Entranhava-se nos meus tristes ossos,
Alguém,
Alguém gemia,
Do outro lado da rua,
E eu,
E eu sentia,
A lua,
O mar agachado nas tuas coxas silenciadas pela amargura,
Tanto tempo perdido,
Em pequeníssimas folhas de papel quadriculado,
Chorava e gemia,
Do outro lado da rua…
O poeta suicidado,
Uma rosa nua?
Uma pétala de rosa tua?
Alguém,
Enquanto eu dormia,
Roubava-me a tela da agonia…
Acorrentava-me às paredes pinceladas de bolor…
Colocava sobre as minhas pálpebras um cubo de gelo,
No meu cabelo,
Uma rosa,
Tua,
Uma tua rosa nua,
Sem sentido,
Os livros que li,
As palavras que escrevo e escrevi,
Não,
Não eram para ti,
Porque alguém,
Não sei quem,
Injectava-me nas veias finas lâminas de saudade,
Cerrava os olhos, fingia estar vivo quando os barcos da alvorada subiam as escadas da sufocada pensão,
E eu,
E alguém…
Gritava,
Chorava,
Sem saber a razão,
Do poeta suicidado
Subir e descer as escadas da pensão,
Quando a pensão estava deserta,
Morta,
Sem janelas,
Sem cortinados nas janelas…
E todas as portas,
Também elas,
Todas,
Todas mortas,
E alguém,
Não sei quem,
Inventava fotografias para eu folhear…
Enquanto a pensão,
Enquanto a pensão se afundava no meio da rua,
Mesmo em frente ao meu cadáver descarnado pelo tempo,
Havia vento,
Havia lágrimas nos lábios do vento,
E alguém,
Sem saber porquê…
Ou razão…
Deixava o meu nome nas ruinas de uma pensão.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 5 de Setembro de 2015
 


sábado, 29 de agosto de 2015

As espingardas do coração abandonado


Deixou de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

Deixaram de escrever as palavras do vento estas mãos esfarrapadas,

Longínquas do olhar da madrugada,

O medo alicerça-se ao peito, as facas do silêncio grunham como as serpentes envenenadas pela noite,

O tédio quando esqueço a solidão e construo círculos de luz nos teus seios…

O teu corpo desabitado, encurralado nas cordas de nylon dos Oceanos mendigados,

E não consigo perceber o amor das flores desenhadas nos teus lábios perfumados,

Como nunca percebi o desejo em mim do estranho luar…

E este mar, meu amor,

Crucificado nas espingardas do coração abandonado,

Semeado nas searas do cansaço…

É triste, meu amor…

Deixar de habitar este corpo a paixão diabólica da alma sem destino,

É triste, meu amor…

Cair sobre mim o tecto do sofrimento junto ao Tejo,

E os Cacilheiros na minha boca… sufocando-me com o relógio enforcado nas pontes do Cacimbo fugindo do pôr-do-sol…



Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 29 de Agosto de 2015

segunda-feira, 16 de março de 2015

Esteios


A melodia nocturna da aventura
os esteios do silêncio abraçados ao cansaço
desespero
e espero
que acorde o dia
sem amargura
sem... sem cortinados de penumbra
baloiçando no pescoço da saudade
os cigarros entre as estrelas
os dedos mergulhados nos teus seios
acesos
em espuma
palavras
números
portas
e ruas
despidas
nuas
e sinto do outro lado do rio
os guindastes da solidão
voando como gaivotas
livres
como os barcos
sem marinheiros
sem...
acesos
os ossos em papel
das migalhas invisíveis do voo
o infinito
destino
das mãos
quando alguém desiste do luar
e sem... acesos
os ossos
o infinito destino
das mãos no leito do sono...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 16 de Março de 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sombras de mármore e ossos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há um beijo inventado
que habita nos meus lábios
há um corpo adormecido
em mim abraçado
há um poema no teu olhar
que transporta o cheiro do mar...
há uma ponte nos teus cabelos
quase a desmaiar,

o desenho no espelho embriagado,

há um livro nos teus seios
que não me canso de ler
e folhear...
há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...
um desejo invisível
um desejo embrulhado em capim
e pedaços de cacimbo
há um beijo inventado
… nos meus lábios
em silêncio
a escrita cuneiforme
entre sombras de mármore e ossos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Equação de amor


Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos
saboreiam o teu corpo pincelado de luz
como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada
a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso
o verme poema enrolado nos teus seios...
em curvilíneos cansaços
traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia
da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

Arcaico silêncio que finge...
minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo
se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer
como andorinhas ancoradas às cordas da solidão
que ardem
e se evaporam...

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo
que na ardósia tarde junto ao rio
o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção
que te revoltas
nos meus braços
como uma criança em distantes birras...
desenhando círculos na areia
ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

sábado, 22 de novembro de 2014

Sem sentido - “A merda de um poema”


Queima o filme negro da tua vida,
ensina aos teus ossos as boas práticas de comer,
sem nunca mencionares o nome da despedida,
nem na rua invisível do teu corpo,
imagina o vento fatiado abraçando-se aos teus seios,
escrevendo neles...
Amo-te...
sem gaguejares,
sem medo de chorar,
os abutres cardumes da insónia
que se alicerçam aos teus cabelos de luar,
queima o filme negro da tua vida... como quem pronuncia pela última vez a palavra amar!



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 22 de Novembro de 2014

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O trigo silêncio da madrugada


Serás a eterna folha de papel,
a pele húmida da tempestade que me embrulha quando cai a noite na eira de Carvalhais,
oiço o espigueiro atrapalhado no interior das canções de um sino em delírio...
oiço a tua ofegante voz quando tentas tocar-me... e foges, e desapareces no trigo silêncio da madrugada,
serás a eterna folha...
onde vou escrever os meus beijos, onde vou escrever as minhas caricias e os meus desejos,

Serás o rio onde me vou sentar,
os socalcos seios onde poisarei a minha cabeça...
depois... depois de acordar,

Serás a migalha de prazer que deambulará numa cama inventada,
os lençóis de seda que as tuas mãos aprisionam..., os sótãos do amanhecer,
e os gemidos quando és penetrada,
serás o luar,
e os versos ensonados das manhãs de liberdade,

Serás a eterna folha de papel,
a tinta ensanguentada dos orgasmos poéticos,
serás a eterna claridade dos espelhos de brincar,
o carrossel de uma cidade..., o cansaço de uma noite de amar,
serás o trapézio que se esconde na ardósia da tarde...
… a geometria nocturna de um corpo entranhado pelo poeta sem nome!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 8 de Agosto de 2014

domingo, 27 de abril de 2014

cais do adormecer

no seu término o dia mistura-se com as sombras do prazer
o teu corpo mergulha sobre o meu peito flácido
quase a adormecer
lá fora há poemas por escrever
palavras vagabundas correndo junto ao Tejo
folheio as pequenas páginas dos teus seios
descubro o significado de “Amor”...
e sinto a paixão a entranhar-se nos meus ombros

há silêncios a descer a tua pele de doirado sémen
que acabam por morrer
semeiam-se nos límpidos lençóis de seda
como jangadas esquecidas em Cais do Sodré...
afinal... o sonho são as pequenas páginas dos teus seios
à janela do “Adeus”
simplesmente inventando soníferos de cartão
e livros a arder

há em ti um púbis construído de andorinhas
e flores de papel
e no seu término...
o dia... o dia cansado de viver
como se o teu corpo embrulhado nos meus braços de aço laminado
adormecesse vivesse amasse e morresse
e descubro o significado de “Amor”...
e de ser “amado”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Abril de 2014



sábado, 5 de janeiro de 2013

As ardósias palavras dos teus seios

(   )

Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo, descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, e vinham até nós os sons melódicos de um saxofone em solidão, era verão, era sábado, e a tarde começava a evaporar-se nas palavras que escrevíamos sobre os teus joelhos esqueléticos onde poisávamos um caderno com um capa dura, grossa, com desenhos de flores
Porquê
Tens de deixar de fumar,
E eu, eu pegava na tua mão débil, finíssima como os ramos de laranjeira que tínhamos no quintal em trás-os-montes, tão longe, a lareira, os livros, o sino da igreja quando dormíamos sossegadamente dentro dos lençóis de insónia, e tu
Eu sentia o sofrimento árduo dos teus lábios acabados de regressar, trazias nas mãos uma punhado de areia húmida, e na boca escondias o silêncio amor que a paixão sibilou nas carcaças apodrecidas dos peixes que viviam nos lençóis nossos que do jardim cheirava a incenso, alecrim, mirra, oiro falso, alquimia, líamos Proust, e sabíamos que
E deixei de fumar,
E sabíamos que todos os plátanos um dia, vinte e cinco anos depois, ruiriam, como ruíram os alicerces de todos os crucifixos de prata
Sentia a tua mão nos meus seios, e ias descendo, descendo, sabia-te dentro do meu púbis de areia, e o mar começava a alimentar-se de mim, prenunciava grunhidos sons, e ao longe os ossos invisíveis dos peixes apaixonados, dos poemas,
Morreram, como morrem todos os crucifixos de prata que entram na minha vida nocturna com sabor a mar e desejos de luas com pedaços de laranja, sonhos, e pipocas quando ligo a máquina das imagens, e apenas sombras, pretos, brancos, os riscos, os riscos crucifixos de prata que a melancolia escreve nas ardósias palavras dos teus seios.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó