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quarta-feira, 5 de julho de 2023

Sílabas

 

Poiso no teu corpo

Cada sílaba do meu poema,

Escrevo no teu corpo

Cada poema das sílabas que escrevo no teu corpo…

Abraço-me ao teu corpo…

Quando o vento me quiser levar,

Beijo o teu corpo

No silêncio do mar,

Do teu corpo onde escrevo…

Do teu corpo que quero amar!

 

 

05/07/2023

domingo, 14 de agosto de 2022

Gladíolos


 Percebia que nos teus braços

Habitavam as andorinhas da Primavera,

Como habitam em mim,

As palavras que os teus lábios

Vomitavam na triste alvorada;

 

Percebia que nos teus braços

Brincavam as sílabas cansadas do luar,

Enquanto nas ribeiras,

Nas palavras do infinito,

Existiam as manhãs cansadas,

 

Que nas primeiras horas da madrugada

Desciam às vozes roucas da solidão.

Hoje, percebo que o corpo em dor

É um pedacinho de nada

Em direcção mar,

 

Em perpétuo silêncio.

Percebia que nos teus braços

Um menino traquino sonhava

Com as marés de um jardim

Construído sobre a sombra das mangueiras endiabradas…

 

E percebia que nos teus braços

Eu bebia todos os poemas

Que nas árvores dançavam,

Como dançaram num quarto escuro

Os gladíolos das tuas mãos.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14/08/2022

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Noite numa biblioteca suspensa na alvorada


Sabia que o teu corpo era porcelana madrugada.

Manuseio-o como se fosse uma sílaba engasgada no poema,

Com jeitinho,

Pinto-o, beijo-o,

Como se fosse uma pétala no jardim do silêncio;

Dois olhares cruzam-se na escuridão do desejo,

Um cigarro arde,

E recorda-se do beijo.

Oiço a tua voz silenciada na alvenaria,

Oiço os gemidos do luar suspensos nos cortinados da paixão,

Sou tão feliz, meu amor,

Tão feliz.

Não finjo,

Sinto-o dentro do peito,

Esta ressaca que me aprisiona aos teus braços,

Não finjo, meu amor,

Não finjo que somos donos do mar,

Não finjo que somos os únicos sobreviventes das tempestades da loucura…

E, no entanto,

Lá longe,

Um barco carregado de livros, aproxima-se,

E poiso nas tuas coxas.

São poemas, meu amor,

Poemas de amor.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/08/2019

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Sombras de aço


Há arte abstracta no teu olhar

Uma sinfonia de cores

Que se diluem na madrugada

Se cruzam na avenida mais obscura da cidade

E se deitam em cada tela adormecida pela paixão,

 

Há palavras nos teus lábios

Sílabas extintas pelo vulcão da saudade

Casas ignoradas

Árvores envenenadas

Nos solstícios do desejo,

 

Há silêncios no teu corpo

Medusas embriagadas pelo cansaço

Sombras de aço

Sobrevoando o teu cabelo

Que o vento assassinou…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 12 de Janeiro de 2016

sábado, 28 de março de 2015

A morte entre parênteses


Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada

Como as andorinhas desnorteadas

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Sobre a cidade

Dos sonhos

Acordar

O espelho da vida

Em liberdade condicional

Espera

Caminha

A pedra ensanguentada

Das ruelas em flor

O ruído ensurdecedor dos morangos

E das plásticas cabeças de alfinete

O fato prisioneiro no guarda-fatos

O meu esqueleto

Dentro do fato

Os sapatos

As meias

E todo o resto

Em chamas junto ao rio

Não entendo o perfume dos teus lábios

O sorriso que se alicerça em ti

E me sufoca

Quando acorda a noite

E a noite me transporta

Para a carta sem remetente

Oiço-te

E não percebo porque brilham os teus cabelos

Dentro do cubo de gelo

Da paixão

Em aventuras

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Saudade…

Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro

Cacos

Sílabas

Na seara do cansaço

Atrevo-me a olhar a lua

E não querendo ofender ninguém…

A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer

Não sei

Como poderia eu saber

Se as candeias se extinguiram nas marés de prata

Os sonhos

Os sonhos acorrentados ao silêncio

O medo de amar

Não amando

E comer

Todas as pétalas da rosa embalsamada

Tão triste

Eu

Neste cubículo de lata

Sem janelas

Sem… sem nada

Como uma simples folha de papel

Desesperada

Sobre a secretária

Eu mato-a com a caneta

Escrevo palavras

Palavras

Que só o mar consegue entender

E… escrever

Nos meus braços

Dentro de mim há buracos negros

E as equações da relatividade

Sós

Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento

Como eu sabia

Antes de a madrugada bater-me à porta

Olá bom dia

Meu amor…

Hoje não

Volte para a semana

Não

Não quero comprar nada

Hoje

Porque sinto a solidão

Nos arrozais

E nos pássaros

Que os homens constroem

Enquanto o poeta morre…

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 28 de Março de 2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

fotografia

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


o triturador do sono
mergulhado nos teus olhos incandescentes
tens nos lábios o pingente beijo
iluminado pela saudade
entre quatro paredes
paredes
sós
nem porta
janelas
cubículo de prata
onde habitam todos os cheiros da cidade...
as abelhas do amanhecer saboreando a tua pele de mel
como se tu
janelas
fosses um pedaço de pólen
ou
nem portas
e nas paredes
as frestas da insónia
sombreadas
e acorrentadas
às sílabas enforcadas
do velho barco de esferovite...
que em criança eu brincava.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2015


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Equação de amor


Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos
saboreiam o teu corpo pincelado de luz
como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada
a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso
o verme poema enrolado nos teus seios...
em curvilíneos cansaços
traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia
da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

Arcaico silêncio que finge...
minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo
se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer
como andorinhas ancoradas às cordas da solidão
que ardem
e se evaporam...

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo
que na ardósia tarde junto ao rio
o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção
que te revoltas
nos meus braços
como uma criança em distantes birras...
desenhando círculos na areia
ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Desenhos embriagados


A mecânica do esqueleto de pedra
em movimento uniformemente acelerado,
no abismo das amendoeiras enlouquecidas
adormece um sorriso cansado,
triste,
porque habitam nos lábios de uma gaivota os desenhos embriagados,
a mecânica...
do sexo quando emerge das sílabas tontas o orgasmo da palavra,
deita-se na fina folha de papel não escrita,
branca como o silêncio... como o silêncio da mecânica...
que grita,
e chora nas encostas perdidas,
na montanha do Adeus,
brincam as crianças das planícies nocturnas do infinito,
descobrem o beijo num qualquer espelho sem nome,
e a cidade entra em ebulição quando uma janela se alimenta do cortinado colorido,
a mecânica... não sabe o que é o amor,
a física quântica alicerça-se ao esqueleto de pedra,
e as mandíbulas ínfimas de espuma...
correm nas veias do poeta,
tenho no meu quarto um veleiro ensonado,
sem bandeira,
sem... sem Nacionalidade,
como a saudade...
sempre desalinhada com os carris invisíveis da paixão.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014

sábado, 22 de novembro de 2014

Insígnia da paixão


Queimaste a insígnia da paixão no sonífero adeus da tempestade,
dormes profundamente só...
e te alimentas das insignificantes metáforas da saudade,
trazes nas lágrimas uma canção por escrever,
um poema se ergue na tua mão,
e sem o saberes...
habitas na calandra encaixotada do sofrimento,
não sei se algum dia serei teu,
não sei... não sei se lá fora há sol ou escuridão,
se é dia,
noite...
ou... uma mistura de tons com odor a infância,
um barco encalha nos teus seios,
transpiras... gemes as sílabas do prazer,
esperas pelo nascer da madrugada,
quando hoje não haverá madrugada,
quando hoje... não acontecerá nada...
se é dia,
noite...
ou... ou um pincel disparado pela espingarda da solidão,
e se entranha no teu sorriso...
e no entanto,
queimaste a insígnia da paixão,
como quem apaga um cigarro depois de te amar.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 22 de Novembro de 2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Criança desalmada


O fantasma espelhado da tua voz
caminhando na lareira do desejo
um cortinado de luz em direcção ao nada
tristes são as tuas palavras
acorrentadas ao silêncio
o falso destino
as imagens melódicas dos teus lábios
voando no vulcão da saudade
e da cidade regressam a mim os tentáculos espinhos de aço
que se alicerçam no meu peito...
a dor imaginária quando sei que a tua sombra se confunde com a madrugada
ainda por nascer...
criança
criança desalmada
criança flor no jardim em chamas...
o fantasma espelhado...
alimentando todas as sílabas do cabelo invisível
palmilhando montanhas e searas nocturnas
subindo as escadas do sótão sem coração
e embriagado
beijo
o teu
o primeiro...
o último
fim...
fim...
como a vida de um homem nas margens de um rio.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 7 de Novembro de 2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Tempestade


Pindéricos esqueletos sobrevoando o pólen embriagado
marinheiros raquíticos encostados ao mar salgado
esta vida de sangue entranhada nas mandíbulas da cidade
este vento envergonhado que se enforca nos meus abraços
os sinos da ferrugem engatados numa ruela quadriculada
a tarde que se afunda
e mata
nos estilhaços de uma espingarda
as mulheres procurando carícias debaixo das palmeiras
um poeta encardido
sentado numa cadeira...
e ninguém... e ninguém olha a ponte de nylon com cabeça de xisto,

O poeta enlouquece
e transforma-se em pedacinho de poeira
não escreve porque lhe falta a esplanada de Belém...
cerra hermeticamente os olhos de areia
e... e ninguém...
e ninguém olha a ponte de nylon
que o rio embala nas noites de neblina
os pindéricos esqueletos consumindo vodka falsificado...
os apitos de um drogado
quando os carris de aço desaguam em Cais do Sodré
e o magala desgovernado
tomba... tomba suavemente no pavimento florido,

O céu em chamas dançando nas espinhas do almoço
o guardanapo esbranquiçado poisado sobre o clitóris da esperança
gemem as sílabas nas ruínas que a tua voz devastou
canso-me das marés
e desta cidade sem escala
não encontro o fim do sacrifício
que o poema me obriga...
cambalhotas e palhaços encerrados numa tenda clandestina...
solto-me
e grito
e saltito...
como o encharcado luar no centro da tempestade...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 3 de Novembro de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

O vazio

foto de: Stéphane Spatafora Photographe

O vazio,
e falsas esperanças mergulhadas no buraco da solidão,
o vazio que se traveste de dor, o silêncio que embrulha o sofrimento,
este rio que são as tuas mãos, perdidas no musseque anónimo da paixão,
as crianças saltam até agarrarem as flores que habitam o tecto da noite,
vazio, sisudo... sentido proibido de amar,
o vazio imprevisto, descontínuo... o vazio agreste dos olhos da estátua de granito,
há sombras que embriagam os teus seios de porcelana e eles, eles a construir sorrisos desde...

(desde o último luar)

O amor,
também ele, vazio,
pobre,
ângulo obtuso quando alimentado pelo púbis da madrugada,

(hoje não corações, hoje não beijos – a esplanada recheada de vampiros)

O vazio,
homem rude, homem dos sete ofícios, o homem mendigo que descobriu a falsa esperança,
o fantasma,
o vazio dos telhados que a cidade ignora, despreza, que a cidade... não quer,

Que cidade é esta?

Vazia,
sem pessoas, sem imagens, sem..., sem nuvens,
o sombreiro carnívoro que devora todas as palavras que a tua pele transpira,
gotículas de poesia descendo o teu corpo, até que a falsa esperança ilumina o teu cabelo,
e sei que deixou de viver,
hoje... nada, a cidade provocadora, a cidade dos teus suspiros,
uma porta que se encerra, e morre, e levita,
a lanterna do Adeus, sempre acesa, sempre pronta a suicidar-te com os beijos de alvenaria cansada,

(hoje, hoje não)

Que cidade é esta?

(desde o último luar)

Que deixei de amar a espuma dos espelhos de amanhecer,
e sem o perceber,
descobri que a falsa esperança... que deixei de amar, não existe mais,
o vazio, o vazio corpo da sílaba encarnada...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Junho de 2014

domingo, 2 de março de 2014

Asas pinceladas

foto de: A&M ART and Photos

Há asas pinceladas nos teus verdes olhos de andorinha,
uma colmeia de palavras emerge da solidão nocturna,
há de ti as marés envergonhadas, tristes, marés... marés dos telhados de vidro,
sinto-te cambaleando sobre as nuvens cinzentas das janelas amarelas,
o jardim deixou de sorrir,
e partiu em direcção ao mar,
o amor de ti em mim... sem mim, uma coisa estranha, amarga, diluindo as ditas palavras castanhas,
há asas pinceladas,
há asas a arder sobre os teus ombros de melancolia,
e sei que no fundo do mar, vives, dormes... e passeias-te nua como ventos de nortada,
acendo a luz da paixão, e ao meu lado apenas uma imagens de néon...
gemendo sílabas e bebendo carícias de madrugada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Março de 2014

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

pulsar do meu velho e estranho corpo

foto de: A&M ART and Photos

vês o meu velho e estranho corpo dentro da insónia madrugada
percebes que dentro de mim existe um conjunto de roldanas, rodas dentadas e alguns tristes veios mergulhados na escuridão da partida
um comprimento indefinido de corda em perfume sisal adormece no teu pescoço de porcelana
sinto-te nas pálpebras de granito que a manhã deixou sobre a mesa-de-cabeceira
é tarde
temos fome de partir
correr em direcção ao rio com palavras de azulejo apodrecido
tocar na pele do mar
olhar no relógio de pulso o pulsar do desejo...
é tarde
temos de partir... partir para o prometido beijo
… sem sentir o palpitar do vento entre os corações de areia e as rochas abandonadas

um candeeiro de água salgada semeado no centro do passeio libertino
dois esqueletos de saliva deambulam como se fossem a alegria transformada em silêncio
o medo que o desejo roube todas as esplanadas de vidro
o cheiro das janelas com mãos de putrefacção acordam em ti e alicerçam-se aos teus cabelos de estanho
estranho mundo onde vivemos porque não sentimos o que temos
porque não o sabemos
ainda... se amanhã acordarás sobre o meu peito
ou... enforcada paixão nos ombros do plátano de cinzeiro gaivota atravessando pontes invisíveis
lágrimas com sabor a pétalas de carvão escrevem-se em mim
fico envergonhado
sem jeito...
triste... assim... assim como ficam tristes os livros dos teus seios quando líamos abraçados num sótão de insulina...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 14 de Fevereiro de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Alienado coração de gelo

foto de: A&M ART and Photos

O absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar,
há no silêncio pardas palavras e sons melódicos, ou tristes... há no silêncio os poéticos sonhos da ejaculação precoce,
o absorto corpo que mergulha na minha mão, não existe, não chora... e não grita,
o silêncio reparte-se sobre as pedras calçadas do abismo...
e o salário do poeta bebe-se nas almofadas coloridas que as nocturnas noites deixam sobre a pele...,
sei,
o absorver-te enquanto uma varanda balança na tempestade madrugada que da boca saciada acorda quando os electrões da cidade correm em direcção aos rochedos teus abraços,
sei, agora..., sei que as tuas janelas são tão frágeis como as finas folhas em papel onde invento desenhos sem palavras, as descoloridas manhãs, os cortinados doentes que deixam o sorriso do Sol atravessar a negrume sílaba da canção da saudade,
sei que te queixas do alienado coração de gelo,
das nuvens com olhos envernizados,
dos tapumes que não te deixam observar o meu corpo... o absorto corpo teu imaginado pela louca espuma do mar...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sem nome – o teu nome

foto de: A&M ART and Photos

Não sei o nome dos teus olhos molhados
quando chovem pedaços de saudade nas pedras íngremes do silêncio
convenço-me que sou um corpo putrefacto esquecido nos pingentes húmidos telhados de vidro
sentindo as tuas mãos em aço
e submergindo nas tempestuosas águas que as palavras trazem depois de escritas
ditas e perdidas nas calçadas com flores apaixonadas pelos candeeiros envidraçados do medo
e na areia da paixão sei que vivem vogais vestidas de negro vendendo o corpo por três moedas...
sei que o teu corpo é um fóssil mergulhado nas quatro pedras de gelo do meu invisível uísque
sinto-as como carícias sombras nas páginas do livro de poemas à procura do barco dos sonhos
apitam e choram apitam... e gritam... e apitam... e gritam o apito da melancolia
e em loucas orgias de sílabas licenciadas em nuvens de sémen...
não sei o nome... dos anzóis da solidão.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Janeiro de 2014

sábado, 4 de janeiro de 2014

Estoy enamorado

foto de: A&M ART and Photos

“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados,
Estoy enamorado,
“Estoy enamorado” sem perceber que a cidade dorme, respira e sonha..., deixei de sonhar quando dei conta das árvores com braços de cinzentos cigarros de enrolar, tive medo que depois de adormecer, nunca, nunca mais acordaria para olhar o mar, dormi, não sonhei... e quando me acordaram, anos depois, voltei a olhar
“Estoy enamorado” pelo mar,
E conheci uma abelha por quem “estoy enamorado”, literáriamente é uma besta, sempre aos gritos, acorda todos os fantasmas da cidade dos peixes, sinto dentro de mim os barcos da desgraça, sinto dentro de ti os edifícios com alicerces de prata e telhados em colmo, a floresta deambula nos teus cabelos, e tu, estúpida abelha, literáriamente pareces uma lareira sempre extinta, apenas daquelas que servem apenas de adorno, um cão saltita de sofá em sofá, e do resto do mobiliário... apenas a escrivaninha com quatro gavetas encerradas a fechaduras de marfim, um velho e rabugento cinzeiro e claro... a porcaria de sempre das mesmas fotografias de sempre, família, fantasmas que hoje apenas o são, habitam dentro do nosso pequeno espaço, não respiram, não saem de casa... mas... também não bebem, dançam umas com as outras, fumas haxixe por prazer e lêem revistas com fotografias de gajos nus, eles e a minha abelha parecem a tromba de um elefante depois da congestão com percebes e algumas quitetas, lembro-me das asas dela, e sinto nojo das palavras que me escrevia, dizendo que
“Estoy enamorada”,
As barbatanas sentiam o cheiro intenso do sossego das conchas vermelhas, a lua em guindastes de orgasmo levanta-se do divã, e
“Estoy enamorada” por ti, por eles, por todos os homens com vestidos de prata, os olhos pintados com rímel e nos lábios um colorido desejo sobressaltava... ouvíamos do outro lado da ranhura do gesso
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E as varandas balançavam e as escadas brilhavam e as ombreiras...
Se iluminavam,
E
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
Amávamos-nos como bijutarias da “feira da ladra”, levava livros para vender e trazia panfleto de heroína para fumar,
“Si mi querido”,
“Estoy enamorado de ti” e quando regressávamos a casa tínhamos um regimento de transeuntes à nossa espera, polícia, polícia e mais polícia, tudo porque tínhamos trocado alguns livros por outros tantos panfletos de ardósia tarde sem recreio,
“Estoy enamorado de ti”,
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados, a canalização sempre em pequenos arrotos devido aos pigmentos de ferrugem, ouvíamos cair sobre nós os pingos longos da chuva sem
Nome?
“Estoy enamorado” e apelidam-de de pássaro das frias noites de agonia, sinto as ranhuras no gesso que a esperança corrompe as paredes da minha habitação, um fino e velho cubículo, um casebre com quatro janelas de pano, um esqueleto em porcelana com duzentos e seis ossos embainhados nas tormentas dos beijos desperdiçados, o nome pertencia à rua do abismo construído sobre os rochedos da coragem, estar e não pertencer estando, e nunca estive, e nunca estarei...
Disponível,
“Estoy enamorado”,
“Sí mi querido”,
E a abelha zarpou de mim, sinto-me livre, sinto-me... sinto-me como uma enxada vociferando os novelos de lã da minha mãe...
Amanhã, amanhã... amanhã “estoy enamorado”.


(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

os insectos da melancolia

foto de: A&M ART and Photos

perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
enrolada nos meus finos dedos de arame farpado
perdi-a sem o saber
dentro das minhas veias habitavam os insectos da melancolia
três horas antes de adormecer
três vezes ao dia
a insónia invade-me entranhando-se nos meus olhos desnorteados
vagabundos
apaixonados...
e eu sem o perceber entro nas tempestades com sorrisos de mar
perdi-a e nunca mais a conseguirei encontrar no jardim do esquecimento

subi escadas
sentei-me em inúmeras varandas...
desci escadas
corri calçadas
tropecei... e caí sobre as lágrimas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
e uma sombra de mimo jaz na almofada do sonho morto

perdi-a
sem o saber
perdi-a de mim quando escrevia
palavras sem rosto
palavras
sílabas de nada
tristes madrugadas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro
fora
na dupla esquina
de luz... como a luz dos holofotes dilacerados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

sábado, 30 de novembro de 2013

O amor das pedras cinzentas...

foto de: A&M ART and Photos

Ofereceu a bala inseminada com as impressões digitais do poema em construção, poisou os cotovelos sobre a iluminada folha de papel com meia dúzia de palavras, leu e releu e puxou o gatilho da caneta de tinta permanente sobre a secretária em pinho, voaram sobre a biblioteca todas as gaivotas de porcelana que permaneciam entre os livros e outras bugigangas, aos poucos, como silêncios de um pêndulo cansado, foram cessando as agonias do homem poeta da caneta de prata, uma bala silenciada adormecia-se como flores numa jarra, dentro dele apenas se ouviam as esquina de luz do espelho prateado,
A saudade submergiu do corpo caído sobre a secretária, ouvias as minhas preces como quem escreve um livro infinito, uma estória que só termina quando duas rectas tristes e sós se encontram
No infinito,
Dizem-me, eles,
A saudade é filha da balda da caneta de prata, as palavras morreram como morreram os teus sorrisos e como morreram as tuas caricias e como morreram as tuas mãos sobre o meu peito em feitiço... e como morreram
Quem quem morreu?
Como morreram os fantasmas dos roseirais de Luanda, e há uma filme escondido nas paredes de um casebre, na parede traseira uma placa com a inscrição de “FIM” aparece
Desaparece
E morreram os teus lábios nos meus lábios quando entrelaçados nos meus cabelos as lições de piano, o som melódico das teclas borbulham nos alicerces da madrugada, ofereceu a bala e suicidou-se com a caneta de prata
Sentia o cheiro intenso da tinta derramada nas alvenarias como desenhos abstractos que os teus olhos inventaram nas prateleiras velhas, nas prateleiras caducas, morreram os teu seios nos meus lábios, morreram as tuas cintilantes pálpebras nos cadeados de estanho, e ouvia-te das lágrimas os aplausos nas cantigas dos rabugentos e enferrujados barcos,
O aço é um corpo só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim
Quem quem morreu?
A bala, procuravam em mim a caneta de prata o suicídio fictício das palavras,
Quem quem morreu?
A bala, procuravam em mim as sombras desnorteadas das tardes de Segunda-feira, e eu, eu sabia-o, admitia-o... que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu silêncio, um dia, tu, eu, que um dia, tu, a bala e a caneta de prata... invadiriam o meu sofrimento de lírio apaixonado, deitado sobre a secretária da
Saudade?
Que morreram as tuas peugadas absorvidas pelo meu pesadíssimo corpo em aço, só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim
Quem quem morreu?
A saudade,
(só, velho, flácido... o aço vive cambaleando suaves beijos em desleais palavras em mendigas sílabas de verdes olhos procurando a noite reconstruída e morreram os teus dedos que procuravam em mim)
Quem quem morreu?
Quem quem morreu?
O amor das pedras cinzentas...
FIM.


(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 30 de Novembro de 2013

domingo, 17 de novembro de 2013

sílaba abandonada

foto de: A&M ART and Photos

esta sílaba engrenada das minhas mãos adormecidas
que abraçam o teu rosto mergulhado em sombras e tempestades
oiço em ti as lágrimas das ruelas transparentes que o vento leva
que a chuva alicerça
esta sílaba abandonada
como papel emagrecido das árvores sem sentido
coitadas
quando as ardósias invisíveis do nada
escrevem-se as palavras dos teus lábios de apaixonada
esta sílaba que me enlouquece
e me diz...
meu amor... estarei sempre ao teu lado


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 17 de Novembro de 2013