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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Ribeira

 Escondo-me nesta fogueira

De vaidade

Que arde na lareira

Da saudade

 

Nesta fogueira sem nome

Desta fogueira sem idade

Com fome

E perdida nesta cidade

 

Escondo-me nesta fogueira

De sonhos interrompidos

Quando a noite foge para a ribeira

 

E o silêncio é luz-amanhecer

Nos sorrisos adormecidos

Dos sorrisos de perder

 

 

19/10/2023

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Beijo em flor

 Em flor

O teu doce beijo

Do beijo meu amor

Do amor em desejo.

 

Das pétalas tuas mãos o silêncio que me abraça

Dos teus braços de adorno lunar

Sopra o vento e leva esta barcaça

Até aos lábios do mar.

 

Em flor a noite quando dorme nesta lareira

E sob a ponte

A alegria da ribeira,

 

Em flor

Os lírios do monte…

Em teu beijo meu amor.

 

 

 

Alijó, 21/04/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 2 de abril de 2023

Fogueira

 Enquanto essa ribeira

Arde na floreira da tarde

Um pedacinho de silêncio

Voa sobre a montanha

 

Um pedacinho de mar

Vai à janela da manhã

E desenha beijos no areal

 

E a ribeira em labaredas de solidão

Abraça-se aos primeiros pedaços de geada

Que acordaram junto à amendoeira

 

Enquanto essa ribeira

Experimenta as lágrimas das pequenas estátuas…

Os barcos rompem porta adentro

E libertam-se todos os monstros

E fogem todos os fantasmas

E morrem todas as sombras

Envenenadas pelo desejo

 

 

 

 

Alijó, 2/04/2023

Francisco

sábado, 21 de janeiro de 2023

Veleiro

 Encosto a cabeça à tua pele envenenada

Quando nos olhos de uma ribeira

A tua mão aquece as primeiras lágrimas da manhã,

Sento-me na tua mão

E escrevo todo o teu corpo

Com as palavras que a ribeira me segredou,

 

Sobre mim

Tenho as pedras cinzentas dos edifícios em ruínas

Ossos de betão

Cansados de serem as sombras dos corredores de vidro,

 

À janela,

Os teus seios mergulhados nos meus lábios…

Perfumados poemas

Que se destroem no teu púbis,

 

Encosto a cabeça

Ao teu cabelo de argila

Que na água fria,

Durante a noite,

Insemina o meu destino,

O destino de ser um veleiro dentro da tempestade,

 

Um veleiro com asas

Que voa sobre o derramado sémen

Na boca de um pedaço de silêncio

Em busca do amanhecer,

 

Encosto a cabeça à tua pele envenenada

Quando nos olhos de uma ribeira,

 

Os meus olhos se abraçam.

 

 

 

 

Alijó, 21/01/2023

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Sonhos de sonhar

 Dos braços desta ribeira

Recebo a voz do silêncio,

Nos braços desta ribeira

Vêm a mim as semeadas palavras

Que na voz do silêncio

Acordam as madrugadas,

 

Dos braços desta ribeira,

Ribeira que corre nas minhas veias,

 

Dos braços desta ribeira

Que em círculos brinca na minha mão,

Vou procurar a manhã que acorda,

Na manhã que mergulha na montanha…

Nos braços desta ribeira,

Ribeira das noites em luar,

Regressam a mim os sonhos,

Os sonhos de sonhar.

 

 

 

 

Alijó, 19/01/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

As sombras do silêncio


Acordava do sono emagrecido,
O homem da nuvem embriagada,
Cansado,
Perdido,
E, reclamava,
E, gritava,
A palavra enfeitiçada.
E, hoje, nas camufladas ruas da cidade esquecida,
Embrenhado na poesia, a canção do adormecido,
O homem, cansado, denegrido,
Escreve sem ânimo,
Desiludido…
Dos alicerces envergonhados.
Rezam pela sua alma,
Coitado,
Sem nome,
Degolado pela tempestade,
O homem, o mesmo homem, o cansado,
Pegas nas palavras da reza em seu poder,
Desorganiza-se,
Veste-se de negro,
Negro, negrito, negrinho,
Como o gato do vizinho,
Dançando na eira das espigas adormecidas.
As sombras do silêncio,
A alvorada da sinfonia que jaz na ribeira,
O rio, em delírio,
O rio, desconectado da vida,
E, corre,
E, dorme,
Nas almas do mar.
O mar tudo engole, e, tudo mastiga,
Pessoas, lixo, palavras, o vento…
Uma laranja, sofre,
E, vive,
E, morre,
Dentro da laranja adormecida.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
24/02/2020

domingo, 30 de abril de 2017

Feitiço da madrugada


O desgostoso ancorado

Autómato desajeitado das tardes infelizes

O corpo fumado

Entre paredes de xisto e perdizes…

Da montanha de areia

Descendo pela veia

No braço do enforcado

O desgostoso

E desamado

Feitiço da madrugada

O corpo encostado

Aos pilares sombreados da falsa calçada…

E do rio vem a semiófora rebelião do desempregado

Malditos carneiros

Pastando na planície do amortecido emplastro desassossegado

A fotografia rima com preto-e-branco

Mais branco do que preto

Os olhos pintados de sonâmbulas bolhas de luar

O desgostoso

E desamado

Feiticeiro da noite

Volátil cansaço dos silêncios abandonados

Quando regressam os rochedos

Aos claustros fumados…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Abril de 2017

sábado, 6 de agosto de 2016

os olhos do teu prazer


descem a ribeira

os olhos do teu prazer

trazem na mão a tristeza

e o mar a arder

sinto o palpitar do meu coração

numa simples gota de suor…

deitada nas sombras dos aciprestes

descem a ribeira

as montanhas desertas

cansadas de viver…

que este corpo desenhou

nas palavras de escrever

descem a ribeira

os trilhos pedestres

dos abutres desgovernados

tristes

apavorados…

pela solidão da tempestade.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 6 de Agosto de 2016

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O ausente complicado e perplexo corpo de espuma


Há no silêncio

Uma finíssima fresta de solidão

A forma geométrica do amor

Esquecida na ardósia de uma velha escola

Alguns beijos

Alguns sorrisos suspensos nos finais de tarde

Junto ao rio

Sem remetente,

 

O ausente complicado e perplexo corpo de espuma

Vagueando nas montanhas da paixão

Tenho dentro de mim uma ribeira

Com braços de saudade

Que nem o tempo consegue apagar

Que nem a tempestade sabe o seu verdadeiro significado

De tudo… e de amar

No silêncio a solidão.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 1 de Dezembro de 2015

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Poemas molhados


Este Oceano que me alimenta,
este cansaço que me habita, e se afugenta,
este corpo que desenha um abraço na janela que levita,
estes lábios secos, trémulos... e desorientados,
estes poemas molhados,
que a tua mão aquece,
e merece,
a minha mão sentida, a minha mão sofrida,
este Oceano que me engole,
e come como se eu fosse uma bandeira,
ai, ai este corpo que não dorme,
este corpo esquecido nos cabelos de uma ribeira...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Julho de 2014

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Em construção – O Amor e a Paixão

foto de: A&M ART and Photos

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira
e tínhamos nas mãos o sabor do cansaço
e da dor oferecida pelo mendigo entardecer,

Éramos dois corpos voando sobre a cidade dos Deuses
ancorávamos algumas vezes
sobre as árvores em delírio que sobejavam das finas lareiras do desejo...
e sonhávamos com porcelanas beijos
que viviam na madrugada,

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira
e tínhamos um coração de papel
onde escrevíamos as palavras em segredo,

Gritávamos como os pássaros
e amávamos como as ervas comestíveis...
éramos dois círculos de vidro
em osciladas rotações em cima dos barcos enferrujados
éramos e tínhamos um cais em madeira para aportarmos...

vivíamos construindo o amor com pequenos paus espalhados pela floresta
e quando nos sentávamos debaixo da nuvens cinzenta
sentia-te nos meus braços de sisal...
éramos o mar com a areia branca
e de ondas navegantes... e de lábios cor de amêndoa.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Os pedaços de açúcar da montanha dos sonhos

Subiam a montanha em direcção ao sítio onde viviam as nuvens de prata, rastejavam dentro do silêncio com a ajuda de uma mão envelhecida, moribunda, recheada com algerozes e janelas com cortinados de papel, subiam, docemente, subiam a montanha conhecida como a velha montanha dos sonhos impossíveis de realizar, percebia-se no ar pesado a respiração dos cadáveres adormecidos pelos versos do poeta marreco, louco, porco, que habitava numa cabana junto a uma ribeira com braços de luz e pernas de vidro, à lareira, sentindo as imagens furiosas das pessoas enlatadas que deambulavam nas esquinas do orvalho, estava frio, muito, e os cães vadios procuravam em pequenos cardumes de prata as coisas boas da vida, tínhamos medo, não dormíamos porque das árvores, às vezes, desciam esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas nos olhos, e na boca
Pequenos segredos de saliva com finos olhares que as ardósia escreviam nas planícies da insónia, não, não sabíamos que a montanha era invisível, não, não sabíamos que a ribeira e os esqueletos com canetas de tinta permanente espetadas
Nos olhos,
Eram fantasmas desenhados pelo poeta marreco, louco,
Nos olhos,
Subiam a montanha em direcção ao sítio, uma pequena fogueira de vaidade emergia sobre as rochas prateadas onde dormiam os cães vadios
Nos olhos
O louco poeta marreco...
(   )
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O papel de tristeza com cores de insónia

Ao som inconstante das estrelas poisadas no céu inexistente e falso
em papel de tristeza
com cores de insónia

o som da tua voz

os teus livros e papeis e momentos junto à ribeira
o som da tua voz
escrita na sombra que alimenta as gargantas da neblina
com cores de insónia
a memória
da escrita sem palavras no desejo do teu corpo em delírio
demito-me de teu amante ausente
eu abaixo assinado juro solenemente pela minha honra acariciar o teu corpo de alface
com olhos de morango
e mamas de chocolate
o som da tua voz
em delírio

o teu corpo voa nos píncaros emagrecidos da loucura
ao desejo impugnado pelas mãos calejadas da lua

sirvo-me da sombra que serve para esconder Marroquinos
prostitutas vestidas de marinheiro
e capitães de areia
sem estandarte nem coragem de suicídio
e dou-me conta de o meu corpo são duzentos e seis ossos com óculos de sol
e ao peito
o crucifixo de infância que mais tarde deixei numa loja de penhores
para
para comprar heroína e papel de alumínio
para fumar quando passavam os barcos
regressados de ontem
com partida para amanhã

puxo de um cigarro
e sirvo-me da sombra que serve para esconder Marroquinos
prostitutas vestidas de marinheiro
e capitães de areia
para alimentar o meu vício de contar pássaros durante a noite.