Às vezes, desistir é a solução…!
(Francisco)
revolto-me com o silêncio
desta conversa
mas que conversa
sem ter as palavras para
conversar
sem ter sombras com que
conversar
se ao menos eu tivesse um
piano
com que conversar
uma fatia de luz
ou até um pequeno rochedo…
mas não tenho
revolto-me com o meu
corpo
quando vejo no espelho
um cadáver de insónia
quando vejo no espelho um
miúdo de calções
à procura de um farrapo
e aqui estou revoltado
à espera de que me levem
para o mar
estou aqui à espera que
na primeira viagem ao sol
eu seja o contemplado
revolto-me
aqui sentado
(orgasmo literário)
Eu aqui
Sentado
Preocupado com a vidinha
… e milhões de crianças
MORREM
Eu aqui sentado
Fumando
Bebendo
Bebendo o que fumo
E fumando o que bebo
O que não bebo
E o que já bebi
Escrevendo merdas
Lendo merdas de
engenharia
E chateado
Quase em combustão
Eu aqui
Sentado
… e milhões de crianças
MORREM
Como se fossem um apagão
Uma fogueira em desordem
Um Deus que olha milhões
de crianças que…
MORREM
E ele
Feliz
Como eu
Fumando
Bebendo
Bebendo o que fuma
E fumando o que bebe
O que não bebe
E o que já bebeu
Coitado de Deus
Coitado
Está velho
Como eu
Eu aqui
Sentado
Escrevendo de perna
cruzada
Fumando
Bebendo
Olhando pela janela
E nada
Ninguém
Um tremor de terra
Ou uma explosão
Puro silêncio
Virgem
Como a lã
Aqui eu
Cá estou eu
Sentado
Escrevendo
Bebendo
Fumando…
… e milhões de crianças
MORREM
Desaparecem como mortalhas
em dias de neblina
Sentado
Eu aqui
Por aí
Porque sim
Escrevendo
Lendo
Bebendo
E fumando
As palavras
Depois as letras
E finalmente
Enrolo toda a pontuação
E vou-me
Vou-me para S. Martinho
do porto
Com a minha amada
Eu aqui
Sentado
Preocupado com a vidinha
… e milhões de crianças
MORREM
Eu aqui sentado
Fumando
Bebendo
Bebendo o que fumo
E fumando o que bebo
O que não bebo
E o que já bebi
E de todas as coisas
visíveis e invisíveis
Ele acorda
Abre os olhos
Olha-me…
- Foda-se
Escrevendo
Pintando
Fumando
Desenhando o que pinto
Às vezes
Pintando o que bebo
E bebo
Tudo aquilo que escrevi…
(É com cada moca)
Coitado
Coitado dele
Está velho
A ficar doido
Sem cabelo
Coitado de Deus
Coitado
Preocupados com a vidinha
… e milhões de crianças
MORREM
26/09/2023
Nada tenho contra
os animais, pelo contrário; adoro-os.
Mas começo a ver
uma sociedade mais preocupada com o cão e com o gato de que, em alguns casos,
com os filhos ou com os pais.
Conheço alguns
casos. Deixam as crianças na escola, como se esta fosse um depósito de coisas,
e depois o professor que se amanhe, deixam os pais no lar, e quase não os visitam…
E depois vão
para o jardim passear o seu animal de estimação.
Vão almoçar ou
jantar ao restaurante, dão o telemóvel aos filhos para estarem entretidos e
caladinhos, e ao colo, têm o cão e o gato.
E eu pergunto se
não seria melhor, em vez de adoptarem um cão ou um gato, adoptarem uma criança,
num país com tantas crianças em lista de espera nas nossas instituições de
solidariedade social
E há tantas
crianças com fome, não de pão, mas de amor.
Francisco Luís
Fontinha
É pena que o Município de Alijó não tenha ideias para apoiar os artistas locais.
Um Município desprovido
de ideias, sem projectos para o apoio aos artistas locais que são muitos.
Ontem, um grupo de amigos
(o colectivo da cigarra) organizou um pequeno mercado de Reis, que foi o começo
de muitas coisas; lamento que esta iniciativa não tenha sido organizada pelo
Município de Alijó e porque não fazer esta iniciativa uma ou duas vezes por
mês?
Porque Alijó não é só
vinhos e caça.
Alijó é muito mais de que
isso.
Francisco Luís Fontinha
Avança mar adentro
Vestido de Dragão,
Não o mereço,
A tempestade e o vento,
Não o mereço,
Cada pedacinho do teu
coração,
Cada momento.
Avança mar adentro
Vestido de gaivota,
Não o mereço,
Palavras e tempo,
Não o mereço,
Tantos círculos à minha
volta,
Tantos círculos em
lamento.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 09/02/2022
Tínhamos na mão
O silêncio dos pássaros
adormecidos,
Sentiam a fome no
coração,
O coração dos poemas
perdidos.
Eram palavras que se
semeavam na tempestade,
Enquanto no mar,
Havia barcos com saudade,
Na saudade de abraçar.
Tínhamos beijos em
pedacinho adormecer,
Tínhamos barcos em
revolta,
Tínhamos palavras para
escrever,
Palavras sem nome.
Palavras que andavam à
volta,
À volta da fome.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 30/10/2021