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sábado, 26 de novembro de 2022

As flores do sono

 Este relógio

Que morre no meu pulso

Este relógio

Que não escreve na minha mão

As horas em que vivo

 

Este relógio

De números invisíveis

Deste relógio

Que transporta a dor

Que sentem as flores do sono

 

Este relógio

Que habita no meu pulso

O meu pulso sem coração

Completamente só

 

Este só

Que é este pulso só

Deste relógio

O relógio dos quatro ventos

Junto ao mar

 

Este relógio

Com veneno em apêndice

Com poemas e sem poemas

Porque este relógio

É o relógio deste poeta só

 

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Um relógio de sono

 

Às cinco menos um quarto

O teu corpo coberto de poeira

Nos teus lábios, a doce madrugada quer acordar,

Na tua boca, as palavras de luz

Que habitam nos meus olhos.

Às cinco menos um quarto

Um relógio de sono

Quase a desmaiar,

Será fome? Ou apenas manha do dono…

E, dos pássaros às árvores

Enquanto flor nocturna,

Desce sobre ti a triste madrugada,

Em Dezembro estás,

Em Janeiro ficarás nesta aldeia das quatro esquinas de luz,

E contra os rochedos,

As lâmpadas do poema em cio.

Às cinco menos um quarto

A minha mão nos teus seios,

As ditas palavras de ontem,

Tristes,

Vergadas pelo peso do sono,

Em Janeiro acordarás,

Deste azarado Dezembro.

O jantar está óptimo,

Como sempre,

Como todas as palavras,

E, bebo todas as equações do desejo.

Sou eu, não te recordas da minha mão?

Quando ontem

Às cinco menos um quarto

Na tua boca

A minha boca

Adormeceu

Cansada

Viva

Mais feliz pelas palavras comidas

E, de todas as equações sofridas,

Toca o telefone,

Era ela

E, às cinco menos um quarto

Um quarto

Uma janela

E, um sorriso de mar.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó/03/12/2020

quarta-feira, 23 de março de 2016

janela amar


o relógio nunca cessa de chorar

as lágrimas do mar parecem pálpebras envenenadas

nos socalcos da saudade

o rio esconde-se nas umbreiras do silêncio

como se fosse a fera amestrada do vento

sem sorrisos de vida

nas espalmadas marés do sono

o relógio vive

escuta os meus lamentos

enquanto lá fora alguém sofre

levemente andando pela cidade de algodão

e inventa sonhos

e pede-me pão

nunca se cansa de chorar

este triste relógio de corda

não sente a dor

não sente a morte

daqueles que partem e deixam de ouvir a Primavera…

e levam no coração uma pedra

do infinito abismo de habitar uma calçada

um corpo estranho

imbecil

e velho

o relógio nunca cessa de chorar

alegre

nas noites sem dormir

abre a janela amar

toca no cortinado amor

e envelhece esperando que o tempo o venha buscar

até que uma qualquer tempestade o obriga a parar…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 23 de Março de 2016