Pintura de Javier Mayoral (1961)
quinta-feira, 4 de abril de 2024
quarta-feira, 6 de março de 2024
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024
Estrelas
Digam à madrugada que eu estou maldisposto
Cansado de ver as estrelas,
Digam à madrugada que sou um impostor,
Uma página em branco…
No meio de tão bela flor.
09/02/2024
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
terça-feira, 14 de novembro de 2023
sábado, 4 de novembro de 2023
Partida
Podíamos partir em
direcção ao mar
E levar connosco todos
estes livros,
Todas estas memórias.
Podíamos brincar no mar
E desenhar na areia o
sorriso do silêncio,
Podíamos escrever na
espuma do mar…
O quanto mar existe nos
teus olhos,
Do mar Oceano das tuas
mãos,
Podíamos regressar a
Ítaca
E resgatar o soldado
infeliz,
Conversávamos com a
esposa de Zenão…
(o paradoxo de Zenão)
Podíamos voar sobre as
árvores,
Podíamos cantar junto ao
rio…
Podíamos aprisionar o
vento
E a chuva,
Podíamos partir em direcção
ao mar
E levar connosco todos
estes livros,
E todas estas sombras.
04/11/2023
domingo, 29 de outubro de 2023
domingo, 22 de outubro de 2023
sábado, 21 de outubro de 2023
domingo, 15 de outubro de 2023
Nuvem
O cachorro não cessa de latir
A janela do quarto
Deixou de abrir
A chuva cai
A chuva traz vinho
E pão
Também
E às vezes
A chuva vai
Depois vem
E rima
Com ninguém
Ninguém à mesa
De alguém
Que já foi tudo
E hoje
E hoje entretém-se a comer
chocolates
Coisas raras e boas
Castanhas assadas
E viagens sem fim ao fim-do-fim
Entre parêntesis
E a rima
E a rima com noite
desgovernada
Que tinha não mão uma
granada
E a rima
E pimba
A bala disparada
Contra o peito do magala
O cachorro não cessa de
latir
A janela do quarto
Deixou de abrir
A chuva cai
A chuva traz vinho
E pão
E a chuva vai
E a chuva vem
Sem saber que do tecto
cai
Que do tecto também
Uma nuvem sai…
E uma nuvem vem
Aos braços de alguém.
15/10/2023
sábado, 14 de outubro de 2023
Flor de fumo
A meio da noite, meu
amor, a meio da noite acorda a luz no teu corpo, a meio da noite, meu amor, a
meio da noite, deita-se a luz no teu corpo, abraça-se a luz às minhas mãos, que
poisam no teu corpo as primeiras sílabas da manhã,
A meio da noite, meu
amor, a meio da noite acordam os pigmentos de cor, com que pincelo o teu ombro,
a meio da noite, ele sonolento, tão sonolento como as predizes da madrugada,
A meio da noite,
Meu amor,
A meio da noite acorda a
luz no teu corpo, ergue-se o livro esquecido no chão, poesia de uma afegã, a
meio da noite, os teus olhos, meu amor, a meio da noite vestem-se de estrelas, e
passeiam-se nos meus lábios, quando o meu beijo desce suavemente sobre o teu
ventre, a meio da noite, o incêndio, a fogueira da noite, que a meio da noite
enrola no teu cabelo, e voa sobre um ninho de cucos, perdidos na noite,
Meu amor,
A meio da noite, fogem de
mim as diáfanas águas da ribeira dos sentidos, que a meio da noite, trazem as
pedrinhas com que construo a minha noite, quando a meio da noite,
Sobre ti, lábios de luz,
sobre ti, silêncios de ti,
A meio da noite,
Acorda,
Ergue-se o livro da
poetisa afegã…
Que perdeu a noite,
Que nunca teve noite,
como eu, quando procuro no teu corpo o poema mais belo do céu nocturno em “Flor
de Fumo”,
E querida Nadia Anjuman,
a meio da noite, porque te assassinaram, quando possivelmente as tuas noites
eram como são as minhas noites, sonhar com poesia, respirar poesia, snifar
poesia…
A meio da noite, uma flor
se aproxima de ti, se deita no teu colo, e recorda-me a infância com muitos
meios da noite, eu olhava as estrelas, pedia um desejo,
E voava,
Sobre ti a meio da noite,
Porque te assassinaram?
Flor de Fumo…
14/10/2023