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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Estrelas


 Digam à madrugada que eu estou maldisposto

Cansado de ver as estrelas,

 

Digam à madrugada que sou um impostor,

Uma página em branco…

 

No meio de tão bela flor.

 

 

09/02/2024

sábado, 4 de novembro de 2023

Partida

 

Podíamos partir em direcção ao mar

E levar connosco todos estes livros,

Todas estas memórias.

Podíamos brincar no mar

E desenhar na areia o sorriso do silêncio,

Podíamos escrever na espuma do mar…

O quanto mar existe nos teus olhos,

Do mar Oceano das tuas mãos,

Podíamos regressar a Ítaca

E resgatar o soldado infeliz,

Conversávamos com a esposa de Zenão…

(o paradoxo de Zenão)

Podíamos voar sobre as árvores,

Podíamos cantar junto ao rio…

Podíamos aprisionar o vento

E a chuva,

Podíamos partir em direcção ao mar

E levar connosco todos estes livros,

E todas estas sombras.

 

 

04/11/2023

domingo, 15 de outubro de 2023

Nuvem


 O cachorro não cessa de latir

A janela do quarto

Deixou de abrir

A chuva cai

A chuva traz vinho

E pão

Também

E às vezes

A chuva vai

Depois vem

E rima

Com ninguém

 

Ninguém à mesa

De alguém

Que já foi tudo

E hoje

E hoje entretém-se a comer chocolates

Coisas raras e boas

Castanhas assadas

E viagens sem fim ao fim-do-fim

Entre parêntesis

E a rima

E a rima com noite desgovernada

 

Que tinha não mão uma granada

E a rima

E pimba

A bala disparada

 

Contra o peito do magala

 

O cachorro não cessa de latir

A janela do quarto

Deixou de abrir

A chuva cai

A chuva traz vinho

E pão

E a chuva vai

E a chuva vem

Sem saber que do tecto cai

Que do tecto também

Uma nuvem sai…

E uma nuvem vem

Aos braços de alguém.

 

 

15/10/2023

sábado, 14 de outubro de 2023

Flor de fumo

 

A meio da noite, meu amor, a meio da noite acorda a luz no teu corpo, a meio da noite, meu amor, a meio da noite, deita-se a luz no teu corpo, abraça-se a luz às minhas mãos, que poisam no teu corpo as primeiras sílabas da manhã,

A meio da noite, meu amor, a meio da noite acordam os pigmentos de cor, com que pincelo o teu ombro, a meio da noite, ele sonolento, tão sonolento como as predizes da madrugada,

A meio da noite,

Meu amor,

A meio da noite acorda a luz no teu corpo, ergue-se o livro esquecido no chão, poesia de uma afegã, a meio da noite, os teus olhos, meu amor, a meio da noite vestem-se de estrelas, e passeiam-se nos meus lábios, quando o meu beijo desce suavemente sobre o teu ventre, a meio da noite, o incêndio, a fogueira da noite, que a meio da noite enrola no teu cabelo, e voa sobre um ninho de cucos, perdidos na noite,

Meu amor,

A meio da noite, fogem de mim as diáfanas águas da ribeira dos sentidos, que a meio da noite, trazem as pedrinhas com que construo a minha noite, quando a meio da noite,

Sobre ti, lábios de luz, sobre ti, silêncios de ti,

A meio da noite,

Acorda,

Ergue-se o livro da poetisa afegã…

Que perdeu a noite,

Que nunca teve noite, como eu, quando procuro no teu corpo o poema mais belo do céu nocturno em “Flor de Fumo”,

E querida Nadia Anjuman, a meio da noite, porque te assassinaram, quando possivelmente as tuas noites eram como são as minhas noites, sonhar com poesia, respirar poesia, snifar poesia…

A meio da noite, uma flor se aproxima de ti, se deita no teu colo, e recorda-me a infância com muitos meios da noite, eu olhava as estrelas, pedia um desejo,

E voava,

Sobre ti a meio da noite,

Porque te assassinaram?

Flor de Fumo…

 

 

14/10/2023