Mostrar mensagens com a etiqueta partida. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta partida. Mostrar todas as mensagens

sábado, 12 de agosto de 2023

Cair da noite

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

Beijo-a como Deus me beijou.

Ao cair da noite

Pego no teu cabelo

E acaricio como Deus me acariciou

Junto ao rio

 

Quando eu procurava aquele navio

Que me transportaria para o desconhecido.

Ao cair da noite

Afugento o mar dos teus olhos

E dou às abelhas que brincam nos teus lábios

O doce mel da madrugada.

 

Ao cair noite

Beijo-te como Deus me beijou,

Como Deus escreveu no meu corpo

Os silêncios da noite,

Como Deus desenhou no meu corpo

O cair da noite.

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

E beijo-a como Deus me beijou

Enquanto cai a noite

No teu cabelo de Cinderela adormecida.

Ao cair da noite

Quando desisto da despedida

Vou em busca da noite

E vou à procura da tua mão

E de uma nova partida.

 

 

 

12/08/2023

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Da vida recta uma outra recta da vida

 

Todos os dias

Destes pequenos dias

Oiço a voz do silêncio

Quando lá fora

Distante

As matrizes transpostas da insónia

Escondem-se do sono

 

Todos os dias

Destes pequenos dias

Há um pequeno viajante

Que parte

Outro

Outro que regressa

E a vida é assim mesmo

Uns partem

Outros

Outros regressam

 

E a nossa vida

A minha vida

É uma recta

Com um ponto de partida

Com outro ponto de chegada

E parto

E regresso

Nesta vida

 

 

 

 

Luís

29/05/2023

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O cacifo do 44


Toquem os sinos e anunciem a minha partida.

Cada charco no pavimento é um poema sem nome,

Metáforas…

As palavras são pequenas gotículas do teu suor,

O alimento preferido da paixão,

E dos livros, e dos violinos, vomitam-se melódicos sons que abraçam socalcos.

Pareço um louco transeunte desorganizado, sem apeadeiro,

E, no entanto, atraco a minha barcaça às tuas mãos de fada.

(enquanto escrevo, oiço Doors)

Toquem, toquem todos os sinos que eu vou fugir,

Levo a minha barcaça,

E em terras longínquas vou procurar o amor…

Nada levo.

Apenas preciso de cigarros, cigarros e cachimbos.

Cada charco no pavimento é um poema sem nome,

Uma alma penada,

(como se eu acreditasse em almas, muto menos, penadas)

Palerma.

Palhaço.

O circo regressa sempre na Páscoa…

Espero-te, aqui, sentado, nesta pedra de xisto invisível.

E quando eu morrer, não quero fato e gravata e sapatos pontiagudos,

Não, não quero flores do teu jardim,

Não, não quero a presença do Senhor Abade…

Quero ir só.

Como sempre fui…

Só.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

11/04/2019

domingo, 30 de julho de 2017

Os barcos da solidão


Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Um raio de luz desce e poisa-lhe na mão amachucada pela alvorada,

O silêncio frio da despedida…

Quando o Tejo se esconde na madrugada,

Os barcos da solidão, cansados de esperar pela partida,

Uma casa abandonada, recheada de flores adormecidas,

Canções de amor, palavras esquecidas…

Não mão do escritor,

Sempre tive sonhos,

Viver sobre o mar da esperança,

Levantar bem alto o levante sofrido da escuridão…

Quando criança,

Pegava num pedaço de papel…

E escrevia-te, não percebendo que não existias…

Amanhã nova caminhada,

Amanhã nova estória…

Ensanguentada,

Liberta da memória,

E dos pilares de areia da saudade,

Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Vive-se vivendo na tentativa de partir…

E nada deixar sobre a mesa… sobre a mesa sofrida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Julho de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A fuga


Parto feliz.

Deixo tudo nas tuas mãos, os velhos papeis, os livros… e a minha sombra.

Para onde vou, nada disso necessito…, apenas preciso de paz.

A fuga, depois da alvorada… para além do rio,

Uma caravela com velas de sonho,

Um pedacinho de solidão…

E lá vou eu, eu, feliz…

Parto feliz.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Julho de 2017

segunda-feira, 12 de junho de 2017

A arte de sofrer


Na arte de sofrer,

Quando dentro de mim arde um corpo esquelético, e sem o saber,

Ele ilumina a noite que se cansou de crescer,

 

Tenho nas raízes solares a vontade de partir…

Caminhar naquele rio absorvente

Que engole todos os corações,

Tenho nas mãos o sangue valente

Das marés e dos canhões…

Que me obrigam a sorrir,

 

Na arte de sofrer,

Deixo para ti o prazer…

O prazer de escrever,

 

No prazer de morrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Junho de 2017

domingo, 28 de maio de 2017

As cordas da saudade


As cordas da saudade são invisíveis nos meus braços,

Oiço o apito dos barcos apedrejados pela maré quando o meu corpo envelhece no teu peito,

Sou fraco, sou fraco como uma simples folha amarrotada de papel encharcado de lágrimas,

E lá longe, os livros entranham-se no meu olhar,

Dançam nas minhas mãos as cansadas palavras da vaidade,

Oiço, oiço a pobreza das ruas em flor,

Me mato, parto em direcção ao rio subterrâneo da solidão.

Desço ao poço do sofrimento como uma gaivota envenenada…

Bebe, bebe sem a noção do tempo embriagado pelo sangue,

E escreve uma carta de despedida,

Sinto o desejo enjoado pela ondulação das nuvens prateadas,

E esqueço-me da tua ausência…

Adormeço em ti,

Adormeço como um sonâmbulo ruivo construído de barro nauseabundo do silêncio,

Ergo-me diante do espelho,

Vejo um cadáver sem nome,

Perdi-me,

Envelheci nos olhos das flores abraçadas pela noite,

Envelheci nos olhos das pedras dos alicerces da penumbra,

Os barcos nas minhas veias encostados ao coração…

Eu criança,

E brinco com as algemas de alvenaria da brincadeira,

Como um puto deambulando pelas ruas, livre como um pássaro,

Lindo como o pôr-do-sol,

Quando os amigos se despedem da minha sombra,

Sinto no meu caixão o mar da saudade invisível nos meus braços…

E caminho sobre a areia adormecida da limpidez dos beijos que um caderno quadriculado guarda na algibeira do remoto silêncio das ruinas…

E o medo envelhece a tristeza da partida,

Sempre se perde nos sonhos escoriados das palavras deitadas na fogueira,

Há na tua morte um sentimento de esquecimento,

Uma palavra estonteante que se alicerça às tuas coxas…

E no caixão dorme o meu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 28 de Maio de 2017

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Os barcos em mim


Recordo o teu olhar

Nas planícies das amoreiras ancoradas

Sinto no peito a alegria de sofrer

Enquanto o mar se despede de mim

Estou só!

 

Muito só!

 

As fogueiras da noite

Hipnotizam o suor cansado das madrugadas adormecidas

Os barcos em mim

As cordas em mim

E as âncoras da solidão descem-me pelo corpo bordado pelas tuas mãos…

Muito só!

Estou só!

 

Regressa a insónia nocturna da boca

Enquanto na taberna ele encharca o melódico corpo em papéis de uísque

E pedacinhos pigmentos de uma caneta envelhecida

Meu querido

Porque partiste?

 

As palavras em vão

As palavras embriagadas pelo teu sorriso

Navegando no meu peito

Sempre que uma nuvem me abraça,

 

Sem vertigens…

 

A voz sonolenta que desencanta a ferrugem dos teus cabelos

Na sombra de um jardim abandonado por ti

Sento-me no teu colo

Imagino o vento nas tuas coxas

Quando se diluem nas escarpas de um poema…

 

Estou só!

 

Muito só!

 

Invento pontes em esparguete para te fazer feliz…

 

O medo

As algibeiras desterradas nos rochedos da morte

Porque partiste?

Tínhamos tanto para desenhar no teu silêncio

Tínhamos tantos locais para aportarmos…

E partiste…

Estou só!

 

Muito só!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Maio de 2017

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Gaivota junto ao Tejo


Imagino-te arrastando os suspensórios do cansaço,

O cigarro suspenso na boca,

E nas mãos as minhas mãos,

Trémulas como a tempestade…

Apareces,

Desapareces,

E ausentas-te durante o sono,

Entras nos meus sonhos,

Escreves no meu corpo com a caneta da saudade,

O rebelde menino,

Sentado à janela a olhar o mar…

Sinto-te dentro de mim,

 

Alimentas-te do meu sofrimento,

E pertences às flores do meu jardim,

Imagino-te arrastando os suspensórios do cansaço…

Enquanto lá fora alguém chora a tua partida,

Apátrida memória que se alicerça aos meus braços,

E tens no olhar um triciclo, um velho triciclo moribundo,

Doente,

Sem nome…

 

Imagino-te, meu amor,

Deambulando pela casa embriagada de dor,

Os cinzeiros cessam o sorriso dos teus lábios,

Há no teu corpo uma barcaça desnorteada,

E que se afunda no meu Oceano…

Fico com medo de perder-te…

E perdi-te sem o saber…

Foste, foste sem dizer Adeus,

E nem coragem tiveste de escrever-me…

Abraçar-me,

Dizer-me que partias e um dia aparecias no meu peito,

Como se fosses uma gaivota junto ao Tejo.

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 27 de Maio de 2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

a partida


ela partiu numa manhã de neblina

levava na bagagem a solidão dos dias e das noites acorrentada à minha mão

olhou-me pela última vez

(alguma vez te disseram que tens o coiso grande?)

Disse-me adeus

E quando alguém nos diz adeus é para sempre

Aos poucos desapareceu na neblina

Sentei-me num banco de pedra

Cruzei os braços

Puxei de um cigarro na esperança que alguém me oferecesse lume…

Pequei num livro que ela me tinha oferecido no dos outros encontros furtivos

Sempre em esconderijos

E vi o mar deitado a meus pés

Que mais eu poderia querer?

neblina

sentado

um livro

e uma ausência programada

a falsa partida

o dia mais feliz da minha vida

saltava

dançava de alegria

esta finalmente livre…

e foi a manhã mais linda de Lisboa

num qualquer Novembro cinzento e escuro

as gaivotas poisaram sobre mim

transeuntes sorriam-me e eu sorria-lhes

a felicidade era tanta que tinha medo de ser mentira

felizmente

não o era

tinha-me libertado da menina mimada

 

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 8 de Abril de 2016

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Falsa partida


Partirei sem desenhar o meu nome na alvorada fantasma da vida,

Partirei sem deixar uma sombra deitada na manhã,

Partirei sem vontade de regressar,

Partirei como um sonâmbulo ambulante pernoitando de festa em festa,

Nos lábios do luar,

Partirei descendo a avenida

Que me levará até ao esconderijo da agonia,

Partirei apaticamente para o outro lado da rua,

Sentar-me-ei até que o meu corpo desfaleça,

Tudo esqueça,

A doença,

A amargura

E a tristeza,

Partirei deixando um prato de sopa dormindo em cima da mesa,

Falarei baixinho,

Dócil…

Para ele não me ouvir,

Só me faltava a mim

Levar comigo um prato de sopa,

Uma colher…

E um pedaço de pão

Para alimentar a solidão,

Assim… não saberei partir…

Partirei sem levar os livros,

As músicas mais desejadas,

Partirei deixando na fogueira todas as cartas,

Todas as palavras,

Que nunca deveria ter escrito…

Partirei,

Partirei vestido de pedinte,

Cambaleando contra os candeeiros da saudade,

Não, não vou levar comigo a felicidade…

Porque partirei de livre vontade,

Ao amanhecer,

Sem ninguém saber,

Partirei,

Partirei e deixar-me-ei envelhecer…

Até morrer.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 21 de Agosto de 2015

sábado, 8 de agosto de 2015

No teu corpo viverei…


No teu corpo viverei…

Sentado numa esplanada,

Ouvindo os teus gritos

Cansados da sombra sem regresso,

Do teu corpo…

As lágrimas das montanhas apaixonadas,

Do amor,

O Sol,

Vestidos de negro,

Fugindo das madrugadas,

No teu corpo… desenho o cansaço das algemas imaginárias,

Embainhadas nos rochedos do medo,

 

Como amo o silêncio da noite

E as ruas assustadas,

 

Ouvido,

Ouvido os teus nostálgicos gemidos,

Entre gritos

E palavras famintas,

 

Não sei quem fui

Quando escrevias amo-te no muro da saudade,

Corria em direcção ao mar,

Inventava sorrisos nos vidros embaciados…

 

Ouvindo,

E gritando…

 

Os teus gemidos encarcerados nas algibeiras do sono,

 

Nunca fui amado…

 

Ouvindo,

E gritando…

 

Os Cacilheiros embriagados,

 

A solidão entre círculos de espuma

E gaivotas quadriculadas…

Hoje, sou um rio que não consegue encontrar o mar,

Um barco em lata calcinada,

 

Amo-te,

 

Sinto a alegria escondida dentro dos meus livros,

A saliva encardida dos abutres desnorteados,

A vida…

É uma fotografia acorrentada ao passado,

Como são todos os esqueletos abandonados,

Sentava-me à porta do engate,

Corria como um animal em Cio…

Do rio,

A tua esfarrapada desculpa…

OCUPADO,

Sem tempo,

… No teu corpo viverei…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 8 de Agosto de 2015

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O fingidor de sonhos


Tenho asas nas pálpebras

Sou o solitário viajante das noites infinitas

Oiço a madrugada embrulhada em pedaços de lágrimas

E das palavras que incessantemente te escrevi

Já não preciso delas

Nem dos livros

Fotografias

Nada assim

Tenho nas mãos os secretos beijos dos teus lábios

Tenho no olhar a tua boca sonolenta

Em queda livre

Em direcção à cidade

Finjo que amanhã será um novo dia

Estará sol

E vão nascer nos teus braços tristes cordas de nylon

Transformar-te-ás num barco de papel

Sem bandeira

Comandante…

Nem precisarás de marinheiros

Ou vento para desceres a montanha da saudade

Imagino-te voando como as gaivotas sobre o Tejo

Sentava-me e fumava cigarros doentios

Depois escrevia num caderno o número de petroleiros contra o desassossego

Traziam a dor

E os movimentos pendulares do sonho

Tenho nas pálpebras

As asas

Que a madrugada há-de afogar nos Oceanos

Que a manhã há-de levar na algibeira

Para a outra margem

Fotografias

Em queda livre

Livre…

Como o luar dos amanheceres em vidro

Fusco

Cortinados abandonados numa janela sem sorriso

Fusco

Finjo…

Que tenho asas nas pálpebras.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 29 de Julho de 2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Os poemas masturbados


Sinto o teu odor no meu pensamento,

Sinto os teus sussurros nas veias que me transportam para o infinito amor,

Abraço os cansaços da dor,

Sinto a tua monotonia desfalecer

Junto ao rio da solidão,

Tenho medo,

Medo de partires sem me avisares da tua viagem sem destino,

Tanto medo,

Eu menino,

Sem berço,

Sem viver,

A vida entre equações quadráticas,

E…

E sonhos pinceladas de desejo,

Os beijos,

A maledicência,

Os poemas masturbados numa cartolina velha,

Em orgia,

Sinto o teu odor,

A tua raiva,

Sinto…

Sinto a tua partida

Da nossa alegria.


Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 19 de Julho de 2015