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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Outono

 O que posso eu oferecer-te no primeiro dia de Outono,

A não ser, um pedido,

Que te dispas, lentamente,

Devagarinho,

Que poises aqui uma pétala,

Ali, outra pétala,

Mais além…, uma outra pétala.

 

Que te dispas, como se despe o poema,

Ao cair da tarde,

Junto ao rio,

O que posso eu oferecer-te no primeiro dia de Outono,

A não ser, um pedido,

Que te dispas, suavemente,

E as restantes pétalas… lança-as ao vento,

E guarda apenas uma,

Para te recordares de mim.

 

 

22/09/2023

sábado, 28 de março de 2015

A morte entre parênteses


Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada

Como as andorinhas desnorteadas

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Sobre a cidade

Dos sonhos

Acordar

O espelho da vida

Em liberdade condicional

Espera

Caminha

A pedra ensanguentada

Das ruelas em flor

O ruído ensurdecedor dos morangos

E das plásticas cabeças de alfinete

O fato prisioneiro no guarda-fatos

O meu esqueleto

Dentro do fato

Os sapatos

As meias

E todo o resto

Em chamas junto ao rio

Não entendo o perfume dos teus lábios

O sorriso que se alicerça em ti

E me sufoca

Quando acorda a noite

E a noite me transporta

Para a carta sem remetente

Oiço-te

E não percebo porque brilham os teus cabelos

Dentro do cubo de gelo

Da paixão

Em aventuras

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Saudade…

Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro

Cacos

Sílabas

Na seara do cansaço

Atrevo-me a olhar a lua

E não querendo ofender ninguém…

A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer

Não sei

Como poderia eu saber

Se as candeias se extinguiram nas marés de prata

Os sonhos

Os sonhos acorrentados ao silêncio

O medo de amar

Não amando

E comer

Todas as pétalas da rosa embalsamada

Tão triste

Eu

Neste cubículo de lata

Sem janelas

Sem… sem nada

Como uma simples folha de papel

Desesperada

Sobre a secretária

Eu mato-a com a caneta

Escrevo palavras

Palavras

Que só o mar consegue entender

E… escrever

Nos meus braços

Dentro de mim há buracos negros

E as equações da relatividade

Sós

Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento

Como eu sabia

Antes de a madrugada bater-me à porta

Olá bom dia

Meu amor…

Hoje não

Volte para a semana

Não

Não quero comprar nada

Hoje

Porque sinto a solidão

Nos arrozais

E nos pássaros

Que os homens constroem

Enquanto o poeta morre…

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 28 de Março de 2015

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Elas as bailarinas

foto de: A&M ART and Photos

Imaginas-me?
descreve-me como és se ainda não o és
isto é
imaginas-me imaginando caminhar mar adentro
escrever na areia os verbos emagrecidos das pétalas doiradas
descreve-me
e imaginas-me... como um barco que se afoga no Oceano
imaginas-me como um náufrago sufocado com imensas palavras
desenhos
ruas
portas e janelas
e bancos de jardim

Belas
as flores
e os canteiros das intermináveis manhãs de Outono...

Elas
as bailarinas sem sono
imaginas-me?
candeeiros de papel
fios
meias...
cobertores imaginados quando me imaginas...
imaginas-me... deitados
o silêncio entrelaçado na tua mão
o beijo entalado nos teus lábios
imaginas-me?
eu... eu apaixonado?

Belas
as flores
e os canteiros das intermináveis manhãs de Outono...

Imaginas-me sendo o Sol?
mulher criança velho doente?
pigmeu cansado ausente...
sombra árvore e presente
imaginas-me... farto das palavras
dos versos
dos poemas e das... putas
parvas...
traiçoeiras madrugadas
nocturnas drogadas as tílias em chá...
e eu... esperando que me imagines...
… descreve-me como és se ainda não o és.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Dezembro de2013