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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Pigmento de cor

 Morres-me enquanto poisa o silêncio

Sobre a caruma do meu corpo

Também ele

Em morte insónia

Morres-me a cada minuto

A cada segundo

Milésimo… de segundo do segundo

Que me morres

Morres-me enquanto cada pigmento de cor

Cai sobre esta folha de papel

E pergunto-me o que me interessa esta a folha de papel

Com pigmentos de cor

Se tu me morres

Se tu me habitas

Também eu

Em morte silenciosa

Morres-me enquanto o Outono caminha em direcção ao Inverno

Que traz o frio

Que traz o Inferno

De que me morres

Antes de acordar o luar

Antes de adormecer a chuva

No teu olhar

De que me morres com falta de ar.

sábado, 30 de setembro de 2023

Morte

 Em pó me transformarei

Do pó nasci e me criei

Poeira

Grãos de areia que fogem da peneira

Pedaços de nada

Que se vestem de madrugada

Sem eira nem beira

 

Nem nada na algibeira

Em pó serei

Do pó acordei

Sem saber o preço do luar

Ou quanto custa um shot de noite

No pó inventei

Poemas que sonhei

Poeira… envelhecida poeira

 

Na poeira que serei

Serei pó

Serei húmus com sabor a ausência

Da ciência

Em viver antes de ser pó

Antes de ser poeira

E estar só

 

Em pó me transformarei

Do pó nasci e me criei

Poeira

Sem saber o preço da morte

Que está pelos olhos da morte

Do pó à poeira

Eu serei

Areia

Mar e poeira

 

 

30/09/2023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Esconderijo do silêncio

 Podíamo-nos esconder dentro deste cubo de silêncio

Que alimenta a noite

E que da noite,

Levanta voo dos teus olhos de mar.

 

Morres-me quando as gaivotas fogem do teu olhar

E constroem sobre o prado verdejante

As primeiras lágrimas que a manhã vomita.

Embriagado seja

O sono

Quando me morres

Depois das pequenas coisas

Despertarem pela madrugada.

 

Morres-me quando dentro deste cubo de silêncio

Que se abraça à noite

Zarpar deste porto sem nacionalidade

Destas mãos que se cansam de viver

Nesta vida de enganos,

O meu teu corpo moribundo,

 

Esperando a morte,

Às vezes,

Desejando a morte,

Quando se esconde nos teus lábios de mel.

 

Morres-me quando deixo sobre este papel

As madrugadas das estrelas de cartolina,

Morres-me quando me alicerço à manhã…

E procuro na manhã,

O que nunca vou encontrar;

Um pedaço de chocolate com sabor a saudade.

 

 

 

09/08/2023

domingo, 23 de julho de 2023

Retracto

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Estás com muito bom aspecto

E até pare que os anos não passaram por ti.

 

Olho o teu retracto.

Escondo no teu retracto, o meu retracto

Um qualquer

Pode ser no Mussulo

Pode ser aqui

Ou ali.

 

Olho o teu retracto

E olha…

Quem diria

Parece que os anos se esquecem de ti

E se lembram de mim.

 

Olho o teu retracto

E confesso-te

Que começo a odiar o teu retracto

E todos os meus retractos.

 

Olho o teu retracto

E não vejo nada

Nem um sorriso disfarçado

Tão pouco

Os segredos da madrugada.

 

Olho o teu retracto

E vejo o meu rosto abraçado a um baloiço

E enquanto me transmites a força necessária para eu voar…

Eu olho o teu retracto

E no teu retracto

Escuto os silêncios do mar.

 

 

 

23/07/2023

Luís

Marte



Suicido-me com o primeiro sorriso da manhã

Agarro-me ao vento

Abraço-me ao vento

E peço

E peço ao vento

 

Suicidar-me com o primeiro silêncio da manhã

Nas palavras que escrevo

E que lanço

Sobre o papel

 

Suicido-me com o primeiro abraço da manhã

Quando Deus desliga as estrelas

E lança sobre a Terra a alegria

De quem pensa

Que não pensa

Que a poesia

É vida

E que da vida

Suicido-me com o primeiro desejo da manhã

 

Suicido-me com o primeiro olhar da manhã

E que Marte me escuta

E me vai levar

Para as suas planícies

 

Suicido-me com o primeiro grito da manhã

Que na madrugada cresceu

E na minha mão

Depois de me suicidar com o vento…

Morreu

 

Suicido-me com o primeiro lençol de tristeza

Que no mar habita

Sem saber quando é dia

Sem saber quando é noite

Porque se suicidou ele com um beijo

E apenas sabe

E nunca se esquece

Que o poeta se suicidou…

Com a palavra; Amo-te.

 

 

 

 

23/07/2023

Francisco

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Milan Kundera, até sempre…

 


Foi através do meu grande amigo Luís Grifo que na minha juventude comecei a ler Milan Kundera.

Foi uma paixão à primeira que me acompanhou até hoje.

Fico triste em saber que Kundera acaba de falecer.

Fica a obra e a saudade das conversas que tive com amigos sobre Milan Kundera.


segunda-feira, 26 de junho de 2023

As árvores do desejo

 

Voa a paixão nas tristes árvores do desejo

Que abraça o medo da solidão,

Quando na claridade

De um beijo,

Um tamarino em tua mão

Chama a si a clepsidra da saudade,

 

E do homem que sou,

Dos meus olhos tristes no sémen das palavras envenenadas

Uma árvore se cansou

Como se cansam no fervilhar do prazer

As madrugadas que não tenho, nas madrugas em que vou,

Não vou mais viver,

 

Viver para quê, se a vida é apenas uma sombra de luar

Em direcção à morte,

E quando se vive a paixão nas tristes árvores do desejo,

No triste orvalho sem destino,

Há sempre uma flor cansada de gritar…

De gritar por aquele triste menino,

 

E deste corpo sem sorte,

A nuvem de luz sem tino

Corta a cabeça milenar das cansadas

Espadas,

Nas espadas… deste pobre menino,

Menino que espera pela morte.

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Baloiço

 Sem mim

De mim

Sem mim este baloiço se suicida

Quando cair a noite

Junto ao rio

 

Sem min

Este baloiço de espuma

Que se despede a cada madrugada

Da outra madrugada

 

Este baloiço

No baloiço de nada…

Este baloiço de espuma

Sem nada

Entre mim

Da morte e outras coisas…

 

Que sorte

Se ele morresse

Se ele se matasse…

Sobre o baloiço da noite

Do baloiço da sorte

Enquanto a noite…

Baloiça nas mãos de Deus…

 

Sem mim

De mim

Outro baloiço

De corda ao pescoço…

No baloiço da morte

A sorte

De morrer…

Quando cair a noite junto ao rio.

 

 

 

Francisco

16/06/2023

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Mar dos teus olhos

 

Morre o mar

Nos teus olhos salgados

Morre o sono

Nos teus lábios pincelados de tristeza,

Morre a noite

Na tua mão

Morre a noite na tua mão

Meu amor,

Morre a noite anterior

E a noite que já penhoramos…

Morre no teu púbis

Toda a poesia que escrevo

Porque também ela

Meu amor

Morre como morre o mar

Nos teus olhos salgados,

 

Nos teus olhos de sonhar.

Morre o mar

Meu amor,

Morre o mar nos teus seios prateados…

Daquele mar

Teus olhos salgados

Que morrem

Como o mar,

Com o mar…

Dos dias sonhados,

 

Morre o mar

Meu amor,

Morre o mar nos teus olhos…

Morre a lua

Meu amor…

Morre a lua na tua boca,

Dos dias que não somos

Aos dias que parecemos,

 

Morre o mar

Nos teus olhos salgados

Morre o sono

Nos teus lábios pincelados de tristeza,

Morre o mar

Meu amor,

Meu amor…

 

 

 

 

Francisco

29/05/2023

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Morte

 Morres no interior das minhas mãos

Enquanto lanço para o mar

A enxada com que escrevo…

Morres tal como eu

Aos pucos

Morro…

No interior das tuas mãos.

 

Morres nos olhos desta montanha

Que subo

E que recuso descer…

Onde me sento e durmo

Como um sonâmbulo amaldiçoado.

 

Morres

Cadáver desgovernado

Príncipe do silêncio

Maldito sejas

Poeta

Poeta do enforcamento.

 

Abraço-te

Enquanto morres dentro deste meu corpo

Deste pequeno corpo ensanguentado

Doente

Envenenado pela solidão nocturna do Adeus.

 

Morres no interior das mãos

Como morrem as sombras quando acorda a noite

Morres

Cansaço em despedida…

Espingarda da paixão

Que não se cansa de disparar contra a multidão

Pedacinhos em papel

E barcos em cartão.

 

 

Francisco

19/04/2023

domingo, 16 de abril de 2023

Tinta permanente

 Pega na tua melhor roupa

E veste-a.

Depois

Procura a espingarda de tinta permanente,

Uma pequena folha em papel…

E dispara.

Mata tudo aquilo que dentro de ti habita,

Dispara,

Dispara…

E suicida-te na paixão das palavras.

Não tenhas medo de morrer…

Não tenhas medo em morrer acorrentado às palavras,

Dispara,

Mata;

Mata tudo aquilo brilha quando nasce o dia…

Mata e dispara

Puxa o gatilho

Porra

Mata-me

Caneta dum caralho.

 

Veste a tua melhor roupa.

Penteia-te e barbeia-te,

Calça os teus melhores sapatos,

Depois,

Puxa de um cigarro,

Acende o cigarro,

E dispara,

Mata tudo,

Mata.

Mata todos os poemas de merda que escreveste.

Não tenhas medo de puxar o gatilho da tua esferográfica…

 

Mata.

Mata-te.

Mata-os e mata as flores do teu canteiro sonolento,

Dispara,

Não tenhas medo de disparar essa velha espingarda,

Não tenhas medo de o fazer,

Mata tudo.

E depois mata-te…

Puxando o gatilho de tinta permanente.

 

 

Francisco

16/04/2023

domingo, 2 de abril de 2023

Cinco pedras de sono

 Ao preço que está a morte

Nem apetece morrer

Ao preço que está a fome

Nem apetece comer

Quanto mais viver

Neste País sem nome

 

Ao preço que está a morte

De todas as mortes

Nem apetece morrer

Comer…

Tanto faz

Quando as palavras são lágrimas

E as lágrimas

São as sobras das palavras

 

Ao preço que está a morte

(está pela hora da morte)

Ao preço que estão as flores

Os beijos

E os abraços

Ao preço de custo

Ao preço da morte

A morte

Nos meus braços

 

 

Alijó, 02/04/2023

Francisco

sexta-feira, 24 de março de 2023

Esta estrada

 Esta estrada

Uma linha curvilínea suspensa no espaço

Onde caminho

Caminho…

E sei que não me levará a sítio algum,

 

(e como a maioria das estradas

Não nos levam a sítio algum)

 

Esta estrada

De curvas e subidas ingremes

Sempre abraçada a um Deus arrogante

A um Deus impiedoso

Esta estrada,

 

Onde caminho

Onde estou

Onde morrerei como uma serpente

Bebendo o veneno

Em pequenos tragos,

 

Esta estrada

Abraçada a outra estrada

Sem estrada

Na minha infeliz estrada

De ter uma estrada…

 

 

 

Alijó, 24/03/2023

Francisco

quarta-feira, 22 de março de 2023

Cubo de vidro

 No esplendor da noite

Um fio de sémen

Poisa na sombra adormecida do meu esqueleto,

E da paixão dos pássaros,

Oiço os gritos de um Deus arrogante…

Distante dos rostos envenenados da solidão,

 

O rio,

Morre na minha mão…

Como morreram todos os rios,

Como se suicidaram todos os rios que conheci…

Todos,

Todos na minha mão,

 

Desenho no teu pincelado olhar

A tristeza que os dias transportam desde a montanha,

O sol, o sol esconde-se numa pequena caixa de sapatos,

E do corpo,

As pequenas lâminas da alegria…

Fogem em direcção ao mar,

 

Cai a máscara sobre o chão lamacento do silêncio,

Ouvem-se os gritos e gemidos da morte…

E da minha mão,

O enforcado rio em pedacinhos de sorriso…

Feliz;

Feliz porque deixou de sofrer…

E agora…

Brinca dentro de um cubo de vidro

Com janelas adormecidas

E olhos adormecidos…

 

 

 

Alijó, 22/03/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 8 de janeiro de 2023

O revolver da solidão

 Um dia

Um dia morres e ninguém se vai recordar de ti

Um dia

Um dia acordas

E sobre a mesinha-de-cabeceira

Tens poisado o revolver da solidão,

 

E uma fotografia de quando era menino

Um dia quando fores à janela

O rio que olhavas

O rio que abraçavas

Deixou de estar lá

Partiu para o mar,

 

Um dia deixas de ter casa

De ser homem

De ser criança

Um dia morrerás…

E nem o coveiro que te enterrou se lembrará de ti,

 

E quando a tua última palavra escrita morrer

Um dia

Quando chegar esse dia…

 

Não querias que chegue esse dia!

 

 

 

 

Alijó, 08/01/2023

Francisco Luís Fontinha