Mostrar mensagens com a etiqueta metástases. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta metástases. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Metástase

 Há-de regressar a metástase do silêncio

Ao teu corpo desengonçado

Enquanto este rio de sangue

Corre para as umbreiras do amanhecer,

 

Há-de regressar deste rio sangrento

A fome e a peste

A solidão

E as amendoeiras em flor,

 

Há-de regressar a metástase do silêncio

Da fina flor desenhada

Deste pobre corpo

O corpo dependurado na manhã,

 

Há-de regressar

Regressar às sonâmbulas madrugadas

O sorriso suspenso nos teus olhos

Quando das metástases do silêncio

 

Este corpo

Corpo que dizem que me pertence

Que não acredito

Porque já nada me pertence

Se alegra na noite de mim.

 

 

 

 

Alijó, 17/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 12 de novembro de 2017

O eterno acusado


Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me da chuva e do sol,

Das províncias desgovernadas,

Dos socalcos inanimados,

Tristes…

Cansados.

 

Acusais-me do cansaço,

De ser o menino dos papagaios

E das estrelas em sombreados tentáculos,

Acusais-me de o mar não regressar…

 

E de matar.

Acusais-me do eterno ventrículo agachado no musseque,

Das palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Acusais-me das palavras gastas,

Tontas,

Nas paredes da solidão.

 

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me do medo,

Da morte em segredo,

Acusais-me do sofrimento

Nas montanhas solidificas dos livros

E dos momentos passados na escuridão de um velho bar.

 

Acusais-me da dor,

Das metástases ensanguentadas de um corpo em delírio…

Acusais-me de nada,

De tudo,

Até da triste madrugada…

Que a sombra alimenta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Novembro de 2017