Mostrar mensagens com a etiqueta janela. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta janela. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Janela

 Desta janela oiço a voz do silêncio em desespero,

Desta janela, converso, desta janela converso com esta lareira,

E percebo que o meu corpo flutua,

Navega nesse mar imenso,

Deste mar sem nome,

Invisível da minha janela,

 

Desta lareira, desta lareira observo a minha janela,

Olho-a sossegadamente,

Como se olha para uma criança que acaba de brincar,

De cabelo ao vento,

No cabelo em flor,

 

Desta janela oiço a voz

Do silêncio em desespero,

Desta janela vejo a manhã a erguer-se,

Vejo a noite quando se deita junto a mim…

E tenho a certeza que o meu corpo flutua…

E desaparece quando regressa o luar.

 

 

01/11/2023

sábado, 30 de setembro de 2023

Janela

 Da minha janela,

Da minha janela, meu amor, um pássaro que canta,

Digamos que está feliz

E encanta

Este pobre rapaz

Este pobre… petiz,

 

Da minha janela,

Pessoas apressadas,

Mulheres em correria, compras, noites cansadas,

Um poema que morre

E um poema que se suicida no teu olhar,

 

Da minha janela, meu amor,

Nada,

O que tem a minha janela que todas as outras janelas não têm?

O mar,

A minha janela tem o mar

E os segredos do teu olhar,

 

Da minha janela, meu amor,

Nada,

Não tenho cortinado,

Na minha janela,

Da minha janela, uma flor,

Os teus olhos…

E um poema que se encanta

Com a minha janela,

Com o teu sorriso de oiro adormecido,

 

À janela,

Da minha janela,

Meu…

Pedaço de pigmento abraçado à insónia…

Desta janela,

Sem nome,

Sem cortinado…

 

Da minha janela,

Coitada da minha janela…

Ela está sempre triste,

Ela está sempre maldisposta comigo…

Da minha janela,

Os teus lábios de mel,

A Princesa das noites sem janela,

Desta janela, meu amor,

Desta janela apenas recebo os teus beijos…

 

 

30/09/2023

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Embondeiro

 Morreu abraçado a um embondeiro;

Quando lhe perguntaram de que tinha morrido,

Respondeu,

Morri de saudade.

 

Da minha janela oiço o mar

Da minha janela vejo as flores do meu jardim

A abraçarem

O mar,

 

Da minha janela pincelo o mar

Nos teus olhos,

Também eles,

Filhos do mar,

 

Da minha janela sinto o mar

Dos teus lábios

Nos meus lábios

Nas palavras que te escrevo

Das palavras que não recebo

Desta janela

O mar em despedida

Na despedida de te amar.

 

Deste mar,

Desta janela cinzenta

Deste amar

Do mar da minha janela,

No mar

Deste mar que em ti inventa

Que em ti abraça

Desta janela

Os teus braços

Que se vestem de mar

E me beijam em segredo.

 

 

31/07/2023

domingo, 18 de junho de 2023

Aos ausentes

 

Aos poucos…

Aos poucos despeço-me da vida,

Não da vida, vida,

Mas da minha vida.

Aos poucos despeço-me destes livros,

Quem gosta de livros…

Ninguém,

E os poetas,

São todos odiados…

Porque dizem o que sentem,

Porque escrevem…

Porque escrevem o que não dizem e escondem o que deviam dizer,

No fundo…

São uns idiotas.

 

Aos poucos despeço-me,

Aos poucos ainda tenho paciência para ouvir AL Berto…

Oiço-o a todo o dia,

Oiço-o a toda a hora…

Durante a noite,

E sim,

Sei lá eu…

 

Aos poucos despeço-me destes traços que semeio no branco papel,

São horríveis, confesso,

Horríveis,

Horríveis são os meus poemas…

E não me queixo,

E não me queixo…

Não me queixo com aquilo que não quis da vida,

E também não queixo…

Com o que a vida me quer tirar…

Ou dar,

E sim,

Sei lá eu…

 

Oiço-o…

E penso.

Que me despeço,

Não da vida,

Mas da minha vida,

Que só escrevo marda,

Que só desenho merda…

E sim,

Sei lá eu…

 

Aos poucos,

Aos poucos penso,

O que poderá pensar,

Um idiota como eu?

E que sim…

Que pensa…

Sei lá eu…

Em que pensa,

Sei lá eu em que pensa um idiota,

Sendo eu outro idiota…

Não sei…

Não sei em que pensa um idiota … um idiota como eu.

 

Mas a terra roda,

Deita-se, dorme e sonha…

E de tantas vezes,

Muitas vezes…

E quando oiço o AL Berto a declarar…

“o mar todo, entra pela janela” …

Abro a janela,

Espero…

Espero.

E mar algum entrou pela minha janela.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/06/2023

domingo, 11 de junho de 2023

Janela

 

Da minha janela,

Da minha janela deixei de ver o mar;

Não me importo…

Aos poucos comecei a odiar o mar…

E odeio a minha janela.

 

Da minha janela,

Da minha janela ouvia os pássaros,

Hoje,

Hoje nem sequer tenho uma janela…

Hoje nem sequer sei o que são pássaros.

 

E hoje,

Hoje nem sequer me tenho a mim.

Da minha janela recebia o dia,

Umas vezes vestido de poesia…

Outras vezes,

Muitas vezes…

Abraçado à madrugada,

Hoje,

Hoje nem recebo o dia,

E tão pouco… sei o que é a madrugada,

E a minha poesia é uma merda,

Tal como a minha janela…

São pedacinhos de nada,

São pedacinhos de tudo nas mãos de uma caravela.

 

Da minha janela,

Coitada da minha janela…

Tal como eu, um tolo perdido na alvorada…

E tenho pena dela,

Da minha janela,

E tenho pena de mim,

De mim…

Sem janela com vista para o mar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

11/06/2023

sábado, 31 de dezembro de 2022

À janela do teu olhar

 À janela

Desta pobre janela

Nesta pobre vida

Entre uma janela e uma pedra

A pedra

A pedra que quebra a janela,

 

E se eu tivesse palavras

Palavras

Simples palavras para atirar contra esta janela

Que é pobre

Que não é mais de que uma janela,

 

Mas há pobres janelas

Que têm ricos cortinados

Com flores

Com rendados

Nesta pobre janela

A janela que é quebrada

Pela pedra que quebra a janela,

 

Esta janela

De onde não olho o mar

Porque o mar

O meu mar

Não aparece à janela

Desta pobre janela

Desta pobre vida

E com janela

E sem janela

O dia esconde-se no teu olhar.

 

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Da minha janela

 Sei que desta janela nunca verei o mar

Porque o mar está longe

Muito longe

E desta janela

Também não verei o rio

Não está muito longe

E também não está muito perto,

 

E para que da minha janela

Eu

Eu mesmo

Veja o mar

E veja o rio

Preciso primeiro

Ir à janela

Puxar por um cigarro

Arregaçar as mangas da camisa

E gritar…

 

Marrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

Riooooooooooooooooo

 

Dou uma baforada no cigarro

Suspiro

E o mar e o rio e a lua e anoite

Todos

Entram pela janela

E deitam-se sobre a minha secretária.

 

 

 

 

 

Alijó, 22/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

A Janela

(ao meu avô Domingos)

 

 

Deixaste fugir

Os espantalhos dos campos de milho de Carvalhais

Fumaste todos os cigarros

Dos espantalhos dos campos de milho de Carvalhais

Ias à janela

Beijavas a lua

E voavas até ao apeadeiro mais próximo.

 

Cresceste

Fizeste-te louco

Caminhaste pelas calçadas e ruelas

De uma cidade morta

Com cheiro a incenso

E a sexo

E a merda.

 

Pensavas que os campos de milho de Carvalhais

Eram o mar disfarçado de pedra-pomes

Mas os campos de milho de Carvalhais

Eram canções de vento

Palavras enamoradas

Pensavas que os campos de milho de Carvalhais

Pertenciam às esplanadas

Onde fumavas cigarros de prata

Acepipes

E pequenas larvas.

 

Mas daquela janela

De onde conseguias observar a torre da Igreja

E todos os cacilheiros com destino a Santa Cruz da Trapa

Havia uma ponte invisível

Com odor a naftalina

E lábios de saudade.

 

Cansavas-te dos campos de milho de Carvalhais

Galgavas as sombras

E as ribeiras de pólen

Dos campos de milho de Carvalhais

E à janela

Iluminada pelo silêncio da noite

Lá estava ele o coitado do espantalho

Com mãos de vidro

E pernas de vergonha…

 

Não tenhas medo

Meu querido irmão

Das infinitas palavras que habitam o dicionário

Não tenhas medo

Meu grande irmão

Do sono

Da paixão

E da morte,

 

Tudo faz parte

Tudo é vida

(Tudo é fado)

E umas vezes é sorte.

 

Escrevia cartas ao sono

O garoto mimado

Como se o sono fosse um gajo porreiro

Mas o sono

Que tal como os campos de Carvalhais

É um grande filho da puta

Embriaga-se durante a noite

E durante o dia

Vai à janela de Carvalhais

Puxa de um cigarro

E em silêncio

Apanha o primeiro cacilheiro com direcção a Santa Cruz da Trapa…

 

Os livros comiam-me

(e se ainda fossem gajas!)

Agora livros…

 

Quem quer um gajo com livros

Com discos

Com isto e aqueloutro

Sem tudo

Com nada

Ausente

Astronauta

Cançonetista

E nas horas vagas

Trapezista de circo ambulante

E stripper.

 

Íamos à Cárcoda

Sentávamo-nos sobre as pedras

Conversávamos de gajas

E até me queria impingir uma gordinha

Com sotaque de futura empresária…

Não gostei da ideia

(não por a moçoila ser gordinha, mas não nasci para ser capitalista)

E vender artesanato

Pior ainda…

Não nasci para nada.

 

Pelas seis horas da madrugada

A janela

Aos poucos

Fechava-se como se tratasse de um caracol

E escondia-se dentro do quarto,

 

E da algibeira

Sem perceber porque tinha lá pedaços de néon

E um cachecol das estrelas em papel

Acordavam as espigas de milho dos campos de Carvalhais,

 

E o silêncio era tal…

Que ouvíamos a respiração ofegante da tristeza.

 

 

 

 

 

 

 

Alijó, 20/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Geometria da paixão do sono

 À tua janela

Das minhas palavras ensonadas,

Na tua boca estes transversais silêncios,

Luzes, estrelas, beijos de luar

Que poisam nos lábios dos pequenos círculos do sono,

 

À tua janela

A geometria da paixão que das tuas mãos

Invade os quadriculados olhares,

E no peito, trazes as noites junto ao mar…

Sem que de dentro de nós

 

Acordem as palavras incógnitas

Que semeávamos no rio,

Haja alegria quando as noites

Têm janelas com braços,

E pequenas fotografias de medo,

 

À tua janela

Uma estátua de sal olhava-me,

E antes da minha entrada nos teus braços

Eu sabia que tinhas uma lâmina de geada

Que se alicerçava no meu rosto,

 

Pego neste relógio de pulso, e cansado

De me avisar que a noite vem em viagem,

Que as flores dos teus cabelos

Dormem nos lençóis da insónia…

Como dormiam todos os pássaros junto à tua janela.

 

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Os lençóis do desejo

 Éramos quatro paredes, uma janela rectangular com acesso à rua onde um pequeno fio de luz incidia ao acaso sobre esta, na parede em frente à janela, um pequeno crucifixo em madeira parecia inventar o sono, quando sobre a cama, junto à parede onde ele estava pendurado, Mariana, seminua e com pose de silêncio sobre a pobre cama e coberta de lençóis envenenados pelo desejo, com uma qualquer publicação desconhecida aprisionada pelas mãos finas e débeis, murmurava as palavras invisíveis do pós madrugada, quando percebeu que ele enquanto tinha os cotovelos poisados no parapeito e numa das mãos o segundo cigarro da manhã, perguntou-lhe pausadamente

Que fazes?

Penso.

Só pensas?

Não.

E depois de uma longa pausa, de imaginar o mar ao longe, disse-lhe que com o pequeno fio de luz que abraçava a janela de vez em quando, iria puxar o mar e trazê-lo até esta.

Ela, sorriu.

Ele, sorriu.

Sobre a almofada pequena, semeava os cabelos loiros e finos da cor do sol e cansados como a lua de dar voltas à terra e mais parecendo uma linda seara de trigo nas mãos do Vale da Cabra, quando de soslaio

Acreditas que o Universo é infinito?

Tal como duas rectas paralelas se encontrarem no infinito.

E se essas duas rectas paralelas nunca se encontrarem no infinito?

O Universo é finito…

Ela, sorriu.

Ele olhou-a como se com o triste olhar que lhe pertencia desenhasse um longo e silenciado beijo, junto ao seio esquerdo, no direito, escreveu

E se amanhã chover?

E devagarinho, em pequenos soluços, foi puxando o mar até o estacionar junto à janela, e sentiu-o muito pertinho da mão, então

Enquanto chapinhava na água, sussurrou

Porra, e se as rectas se encontram mesmo?

Quero lá saber das rectas…

Poisou a pequena publicação sobre a mesinha-de-cabeceira, levantou-se e em pedacinhos de sombra aproximou-se dele, abraçou-o, colocou os braços sobre os ombros inclinados para o longínquo jardim e

Amo-te.

Ele, sorriu.

Vês, aquele barco lá ao fundo?

Sim, vejo, o que tem?

É o primeiro barco que vejo há mais de três anos por estas bandas…

E olha que estou aqui desde as seis horas da manhã até às vinte e três da noite,

E depois?

Depois vou desenhar barcos no tecto da alcofa…

Sabes?

Diz.

Esta noite sonhei que fui mãe e era uma menina

Como as rectas?

Parvo.

Muito parvo, mesmo.

Encerrou a janela, sentou-se na cama por alguns segundos, encostou a cabeça à parede e de olhar inclinado, enquanto o crucifixo lhe perguntava

Em que pensas?

Penso como será bela a noite, quando aquele barco estacionado lá longe, entrar pela janela, colocar os joelhos junto ao meu corpo e deitar-se no meu peito.

Acreditas mesmo?

Não sei!

Umas vezes acredito que duas rectas paralelas se encontram no infinito, outras, pelo contrário, que estas nunca se vão encontrar;

Então o Universo pode ser infinito ou finito, é isso?

Ele, sorriu.

E quando olhou para o lado, sobre a almofada pequena, ela semeava os cabelos loiros e finos da cor do sol e cansados como a lua de dar voltas à terra e mais parecendo uma linda seara de trigo nas mãos do Vale da Cabra, ouviram-se as silenciadas ondas de paixão mais lindas que alguma vez foram observadas.

 

 

 

 

Alijó, 25/10/2022

Francisco Luís Fontinha

(ficção)

domingo, 17 de janeiro de 2021

Rosa geada

 

Flui o amor

Na rosa pétala geada,

Nasce nos teus lábios o sabor a amêndoa cansada.

Desparece a madrugada,

Nas páginas do poema flor;

Eis a manhã do meu sonhar.

Todas as horas e, todos os relógios a cantar,

Todas as flores na tua mão

Dançando a cantiga de embalar…

Flui o amor

Na rosa pétala geada,

Entre conversas de conversar

Entre murmúrios de adormecer.

Pobre coração!

O teu.

Janela para o jardim do amor,

Fotografia em flor,

Máquina volátil de enganar,

Revoltam-se todas as flores

Deste jardim de madrugar.

Flui, flui o amor

Nesta mão pétala rosa geada,

Canção de embalar,

Sorriso de nevão,

Cantiga,

Lágrima água ao acordar;

Dai-me a vossa mão,

Senhor, senhora, menina de brincar.

O doce lençol de linho,

Na triste cama da Donzela adormecida,

Menino,

Menina…

Foto muito querida.

Flores,

Paus,

Pedras de atirar,

Canções de mendigar

Quando a aldeia está a arder,

O fumo alimenta-a

Como todas as rochas de sofrer.

Encontrarás um dia o alegre destino?

Só aos Sábados,

Só aos Sábados, menino.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó-17/01/2021