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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Todos os dias

 Todos os dias,

Estas tristes janelas se encerram,

E o sol…

Esconde-se nos arbustos do cansaço,

Todos os dias,

Há luar na minha noite,

Todas as noites,

Há palavras nos meus tristes lábios,

Todas as horas,

Todos os dias,

A solidão dos dias,

A solidão das horas,

Quando um velho relógio

Se esconde na alvorada,

Um transeunte invade o jardim do sonho…

E as minhas acácias morreram de saudade,

Todos os dias,

Dias em pequenos voos sobre o mar,

Todas as horas,

Todas as palavras,

Todos os dias em delírio…

Nas nuvens encarnadas,

Depois,

O sangue laminado

Jorra na planície do medo,

As janelas encerradas,

A padaria fora de serviço,

O café amargo…

Entre dias,

Depois dos dias,

Nas horas sem dias…

E pergunto-me

Quando acordam os cisnes do teu olhar,

Sabendo que todas as janelas,

Todas as horas,

Todos os dias,

Minutos,

Segundos de nada…

Deste calendário envenenado,

ENCERRADO.

 

Alijó, 22/09/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 9 de julho de 2017

Sonho desmiolado


Onde adormece o corpo que desapareceu na madrugada!

Estou aqui,

Sentado à lareira,

Estou aqui escrevendo palavras para queimar na lareira…

Antes de adormecer,

Estou aqui,

Esperando que regresse o sonho da clandestina noite sem escuridão,

Aqui…

Aqui me encontras, todos os dias, e todas as noites,

Perdi o barco da infância,

Perdi a terra húmida de quando criança,

Aqui,

Aqui me encontro, à tua espera, sonho desmiolado,

Aqui sentado,

Aqui me encontras,

Sonolento dia sem alvorada,

Estou aqui,

Todos os dias, e todas as horas,

Aqui me encontras, aqui me encontras antes de morrer,

Todos os dias,

Todas as noites…

A todas as horas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 9 de Julho de 2017

domingo, 20 de julho de 2014

As sanzalas embalsamadas!


Aos dias ímpares, as horas que me são roubadas por uma mão sem nome,
as sílabas disparadas pela espingarda das sanzalas embalsamadas,
o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço, ele evapora-se, ele... ele transforma-se em zinco lamaçal,
há uma criança inventada, uma criança perdida na saudade...
aos dias ímpares, as horas malvadas,
que alimentam a dor,
que... que engolem todos os amanheceres,
e do meu corpo, apenas o coração de pedra ficou adormecido na eira da poesia,

Aos dias ímpares, o triste calendário envergonhado,
a desassossegada fantasia de um texto alienado, quando arde na fogueira da tua pele,
uma cidade nos espera, uma cidade em papel...

Aos dias ímpares, as horas, os minutos, e os... e os milésimos de segundo,
alguns em liberdade, e outros... e outros acorrentados a um envelhecido veleiro,
hoje não há vento,
hoje... hoje apenas a límpida tarde de pano a soluçar sobre as árvores do triângulo equilátero,
é este o meu Mundo?
ter uma cidade sem candeeiros em desejo,
ser filho de um desenho que o tempo apagou numa longínqua parede,
e contento-me com todos os dias ímpares, as horas que me são roubadas...

E a tua mão... e a tua mão, um dia, terá um nome, idade, raça, sexo... religião,

Aos dias ímpares, a geometria na doçura da caligrafia,
um poema morto, um poema descendo a calçada em direcção ao infinito...
e o meu corpo não cessa no púlpito do cansaço...

E o poeta permanecerá eternamente nas sanzalas embalsamadas!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Julho de 2014