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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Ribeira

 Escondo-me nesta fogueira

De vaidade

Que arde na lareira

Da saudade

 

Nesta fogueira sem nome

Desta fogueira sem idade

Com fome

E perdida nesta cidade

 

Escondo-me nesta fogueira

De sonhos interrompidos

Quando a noite foge para a ribeira

 

E o silêncio é luz-amanhecer

Nos sorrisos adormecidos

Dos sorrisos de perder

 

 

19/10/2023

sábado, 15 de abril de 2023

A fogueira

 Em que penso

Em nada

Penso que gostava que todos aqueles objectos

Amontoado de coisas e loisas…

Literalmente na fogueira.

Penso na alegria

De me sentar numa pedra

Uma pedra simples

E sorrir

Enquanto tudo arde.

E penso que ainda te amo

Claro que ainda te amo…

O facto de teres partido

Nunca deixarei de te amar

Mas odeio tudo aquilo que te pertenceu.

Odeio olhar-te dentro de um caixilho

Nem sequer te olho e finjo que não te olho

Odeio todas as coisas que foram tuas

E também odeio as minhas coisas (todos os meus livros)…

E não faço nada do que me pediste…

E o que faço

Faço-o ao contrário daquilo que me pediste.

 

 

15/04/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 28 de março de 2023

O fogo

 Ardem nesta fogueira sem nome,

Os sonhos,

Ardem nesta fogueira imunda,

Todas as palavras

E todos os luares,

 

Ardem nesta fogueira que transporto no peito

Todos os silêncios

E todas as madrugadas,

 

Ardem,

Dentro de mim,

Todos os rios

E todos os mares…

E todos os barcos,

 

Ardem

Todas as flores da Primavera,

Todos os horários desmedidos…

Ardem as canções

E os poemas…

E ardem as manhãs ensonadas…

E os poemas sofridos.

 

 

 

Alijó, 28/03/2023

Francisco

domingo, 16 de março de 2014

Testemunhas de uma fogueira em evaporação

foto de: A&M ART and Photos

Não sei quem és, como te vestes e o que pronuncias, não sei se és um pássaro em decomposição, uma árvore solitária que habita os jardins da cidade adormecida, tão pouco se és a madrugada, o Domingo quase a terminar, a noite a nascer, não, não sei o que és e quem tu és,
Como posso eu sorrir às tuas lágrimas? Percebes-me agora? O Domingo em término, a noite quase noite, a crescer e a erguer-se na tua boca de cristal, e quase não oiço as tuas palavras de porcelana, e quase, a janela da paixão a encerrar-se eternamente, para sempre e só..., hoje tu, amanhã eu, depois as pedras e os canteiros, as flores, os pinheiros de uma infância entre o mar e a montanha, sinto-me prensado, sinto-me um muro argamassado pela tristeza,
Quem sou?
Não sei, nunca soube, talvez... talvez no Domingo que vem, talvez amanhã, talvez no descanso das roldanas, uma corda em direcção ao sexto andar, subo as escadas, sinto-me cansado, os cigarros, a idade, a saudade, novamente os cigarros,
Oiço-os como testemunhas de uma fogueira em evaporação,
Cigarros vadios, como-os vivos, oiço-te e não sei
Quem sou?
Sim, e tu, quem és, o que fazes aqui, aqui dentro de mim?
Uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras,
E eu, eu sem poemas para ti,
Quem sou?
O vento, sim o vento, pensas que eu sou o vento? Sim, penso, imagino-te sentado na esplanada vazia, apenas uma mesa e quatro cadeiras, conversas com duas ou três sombras, bebes uma bebida invisível, pegas num livro, voltas a poisa-lo sobre a mesa, depois vais à gabardina e puxas de um pequeno caderno, acendes o cigarro, desorientadamente...
Quem sou?
O cigarro acende-se a ele próprio, ganha vida como as tuas palavras, sofre e chora, e acredita na tristeza como acredita que tu, sim tu
O vento!
Sim eu, percebo que me imagines como o vento quando se alicerça na minha pele, sim como o vento, quando rodopia em redor dos meus seios, e tu, e tu
Eu?
Oiço a voz, oiço-os a arder na escuridão de um final de Domingo, amanhã, amanhã talvez..., amanhã talvez “uma esplanada vazia, e regressa o dia da Poesia e eu sem poemas para ti... porque, porque não sei quem és, o que fazes dentro de mim, deixas-me cansado, ausente, embriagado, e sei que algures nessa cidade vives e choras, e recordas meia dúzia de cartas, poucas palavras”, e eu, e... eu,
Só, eu e uma corda em direcção ao sexto andar...
E eu, eu sem poemas para ti,
Quem sou?

(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Março de 2014

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As loucas palavras?

foto de: A&M ART and Photos

Como acreditar... como confiar... como? Apenas acreditando e confiando..., apenas navegando, apenas, sem mais, nada mais do que, como? Apenas, e muito, os livros e as personagens dos livros, os livros e as estórias dos livros, os livros, as mulheres, as mulheres e o corpo das mulheres, sós, apenas, como?
Como ser feliz quando não se é feliz, como, como acreditar... como confiar... como?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando?
Sendo, parecendo ser e não o ser, esperar, esperar, só, sentado, numa banco em pedra, frio e húmido, de esqueleto quebrado, os ossos acabados de submergir das profundezas vozes sem as ditas
Palavras?
As loucas palavras?
Sendo, eu sei, voando, se eu soubesse, voava dentro de ti, teu corpo de magnólia com perfume a desejo, e ficando, e deixando
As loucas palavras?
Como retirara venda dos olhos, se ela, se ela é de aço maciço, como cordas de sisal suspensas dos céu, servindo, como acreditando, apenas para acolher com doçura as velhas e cansadas árvores, as alegres e as tristes, como nós, e apenas, voando, e sendo, como tu, sofrendo como tu, apenas, assim... como as algibeiras da noite rompendo a madrugada e pintando o sobejante com acrílicos em cadáveres, quase a serem enterrados vivos na fogueira, sendo, acreditando e
Palavras?
As loucas palavras?
Sofrendo, e ardendo em ti quando transportas contigo a fogueira inventada numa noite de Inverno, quando sentados, nós, desenhávamos o fogo nas paredes do escritório, como acreditar?
Acreditando,
E
E como confiar?
Confiando,
Não o sei, apagando esse fogo, ouvindo a música das plantas, simplesmente... ouvindo e sonhando e
Acreditando?
E acreditando...
Acreditar? Brincando como palavras sós, desejosas de serem desejadas, brincando, brincando sós, nós, entre árvores e rios, e socalcos como telas envelhecidas das paredes novas do amor, acreditando?
Acreditar... que, talvez, o amor, viva como vivem os homens e as mulheres, brincando, e sofrendo, e acreditando... confiando, vendo e sendo, uma noite vestida com pregos e tábuas finas, e as lâminas de água, e os barcos envenenados com saudade e o silêncio,
Confiando?
Como confiar se amanhã pode não ser Sábado?
Sendo,
E apenas, voando como as nuvens de chocolate na boca das crianças, como, sendo, as proibidas manhãs com Sábados invisíveis, acreditando? Acreditar, sim, sim sendo, sentados como ontem, sentados a ver o mar, a regressar de longe, apenas e sós, sendo, eles,
Acreditando,
Acreditando?
Acreditando que assim sendo, amanhã, amanhã regressará para nós, os ditos sonhos, que vimos fugir, que vimos partir... como um tornado correndo montanha abaixo, sós, nós
Acreditando?
E em acreditar... eu... sofrendo, sofri, não dizendo que... amanhã poderá não ser Sábado,
Quem o garante?
Ele?
Ela?
Ou... vós, vós que sois cortinados de uma janela à beira do precipício...
Esperando
Acreditando que acreditar,
Não,
Não somos o vento, porque se o fossemos... tínhamos nãos mãos asas... e temos dedos, dedos de acariciar corpos sofrendo, corpos desejando, corpos... acreditando.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 16 de Agosto de 2013