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sexta-feira, 23 de maio de 2014

há um dia apelidado de “FIM”

foto de: A&M ART and Photos

há um dia apelidado de “FIM”
um dia sem esqueleto
um dia esquecido nas esplanadas da cidade sem nome
há um dia com silêncios disfarçados de melodia
um dia poético
um dia procurando palavras
no teu resgatado olhar
há um dia apelidado...
com medo e cansado
há um dia laminado
que nas tuas mãos inventa baloiços
e meninos sorridentes,

há um dia
um dia “filho da puta”
um dia que te levará sem destino
um dia... um dia apelidado de “FIM”,

há um dia eternamente recordado
um dia feio
um dia desamado
há um dia que o teu corpo vai vacilar
desistir
um dia com janelas e pálpebras de mar
há um dia que será a noite
há as lágrimas do sofrimento
que nesse dia
o dia cessa de caminhar
pára
STOP...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

domingo, 17 de março de 2013

Zizi: - Odeio-te quando não fazes amor comigo

(Domingo)


Temos de terminar isto, fiz-te sofrer durante duzentas, trezentas... não mais de quatrocentas páginas, mas hoje, juro, hoje vou matar-te, deixar-te em pedaços, destruir este e os outros pedaços de papel para que nada, absolutamente nada sobre de ti,
Chamei-te Zizi,
Como podia apelidar-te de Maria, Teresa ou Marilú, e quando penso em ti
Marilú,
Recordas-me o incenso em brasa e o cheiro a mar quando ele vive a mais de duzentos quilómetros de mim, recordas-me as caves misturadas na noite, recordas-me a literatura travestida de orvalho abraçado a um cais de embarque, cortaram-te as correntes que te prendiam à terra achatada e agora navegas desesperadamente como o vento sem rumo, como as pessoas de mim
Sobre as árvores à espera que regresse a segunda-feira, hoje serás o último dos textos, quer queiras quer não, porque me cansei de ti, das tuas mãos e das tuas tristes palavras, também me cansei dos teus lábios, da tua boca
Zizi: - Odeio-te quando não fazes amor comigo, odeio-te quando te finges de espelho e estaticamente pareces um fio suspenso por um fio de nylon,
E tu sabias que era essa a minha vida, ou não?
Mas hoje morrerás, hoje deixarás de ser texto, palavras, imagens a preto e branco, hoje, Domingo,
Fato, cansado
De ti
Do cheiro do papel e dos livros,
Das tintas,
E das histórias,
Pareço, pareço um vagabundo numa paragem de eléctrico, vestido de negro, confundo-me com a chegada da noite, mas fico com a sensação que vão cair gotinhas de água com perfume de incertezas, dores musculares, e uma estrutura óssea quase em ruínas, doem-me os pilares, doem-me as vigas, doem-me os alicerces inventados por um engenheiro desgovernado, escrevia palavras nas coxas de Zizi, e levava-a a passear, quando
O Tejo já dormia e quase nem se via com as luzes reflectidas nos olhos da madrugada, chegavas tardíssimo a casa, chamavas por mim, eu dormia, outras
Fingia dormir,
Tínhamos sobre as almofadas de linho os quatro cubos de areia com cinco esferas de aço, tínhamos três janelas sem vidros, sem esquadria, apenas o buraco com imagens de
Matar-te-ei com com uma caneta de tinta permanente, e imagino-te a derramares-te pelas folhas do caderno como um pente nas faces do xisto antes de acariciado pelas mãos de um feliz travesti
Marilú,
Com imagens de manhãs brancas e noites cinzentas, como fotografias penduradas num cordel, e de mangueira a mangueira, olhavas-me
Olhava-te na vida de silêncio que inventaste para mim, e sobre mim, e depois de mim, e
Matar-te-ei hoje,
E deixarei de escrever-te, morrerás ao som de “The Enlightement” The Ratazanas, e depois fazer-te-ei descer as íngremes escadas da melancolia, até que desaparecerás nas ondas híbridas do oceano em cio, e eu queria tanto abraçar-te, e eu queria tanto beijar-te
Antes de poisar a caneta e escrever sobre a noite
FIM,
E não sabias que um barco vinha buscar-me aos cais dos acorrentados, e nunca soubeste que uma gaivota vinha a mim, como vieram todos os soluços das manhãs quando acordava e do outro lado do espelho
Apenas
Do outro lado do espelho um vazio chamado círculo, com olhos verdes, com pernas e braços e coxas e púbis, um círculo trigonométrico encaixado no crucifixo que a parede segurava com as mãos da insónia, e dizias-me
Odeio-te quando não fazes amor contigo...
Zizi?
Sim, amor
Não percebes que é propositadamente
O quê amor?
Que eu
Tu o quê amor?
Quero que me odeies...
Como se odeiam os poemas ainda não escritos dentro da minha cabeça de abobora, lembras-te do homem com cabeça de abobora? Talvez um dia, quando leres estas palavras, percebas
Quero que me odeies...
Que das minhas pobres palavras nunca vão nascer coisas para encantar os espelhos, as ruas, as ruelas e tristes casas de pasto, sobre uma pobre mesa de madeira vestida com uma pobre toalha de plástico, um copo e uma garrafa de vodka, tu preferias vinho, tinto, a empregada, já de idade avançada tinha acabado de deixar uma travessa com peixe frito, pão, azeitonas, dispensamos tudo, excepto as bebidas, não tínhamos fome, mas comíamos palavras
E sussurravas-me baixinho
Amor,
Sim Zizi,
Odeio-te quando não fazes amor comigo,
(e não percebias que era propositadamente).


(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha