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segunda-feira, 11 de março de 2024

A metamorfose dos pássaros

 

Um dia serei apenas poeira, e tu, um dia, serás a luz das minhas palavras; e antes que eu seja poeira, questiono-me se as minhas palavras, hoje, são mesmo palavras ou, pequenos devaneios, como dizem aqueles que não sabem, desconhecem, o prazer das palavras.

Os pássaros nascem pássaros e, não sabem voar. Eu não nasci pássaro, mas voava sobre o mar de Luanda, escrevia sobre o mar de Luanda, e hoje, pareço um pequeno rochedo à espera de que a maré se dissipe no pôr-do-sol.

Os pássaros têm a paixão nos lábios, eu tenho a paixão nas asas, em papel colorido, como os papagaios que a minha mãe construía nos finais de tarde, debaixo das mangueiras.

E os pássaros que nasceram pássaros, hoje são os sonhos que habitam em mim, como habitam os cheiros, como habitam as cores, como habitam os teus olhos, nas minhas palavras. Louco, eu? O que seria da loucura se não existissem pássaros que voavam nos céus de Luanda…

Depois, nasce o beijo entre dois simples olhares, olhares que se perdem no luar, enquanto no céu, os pássaros dos sonhos, esses, vagueiam sobre o mar, depois, nasce o beijo entre as minhas mãos e as tuas mãos, mas… serei sempre poeira.

Poeira…

Enquanto carrego sobre o meu frágil corpo a nuvem escura da saudade, esses mesmos pássaros, que não sabem o que é a saudade, gritam e choram, como eu, nas noites recheadas de insónia. Mas os pássaros sabem o que é a paixão.

A paixão dos pássaros.

De mim, apenas, a paixão das palavras…

E seremos dois corpos separados por um espelho; o espelho do medo.

 

 

 

(orgasmo literário)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Regressar, mãe?
O texto escreve-se no teu corpo, a partida pertence ao passado, triste, tão triste como fazer amor num vão de escada,
Os gemidos,
Os silêncios mergulhados na algibeira do cansaço, amanhã saberei se me pertences, maldito caixote em madeira,
Alguns tarecos, meia dúzia de fotocópias de fotografias,
O mar, mãe?
O mar... morreu,
Como morrem todas as coisas belas.


(ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Partiram, levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
Os livros,
E das coisas sem nome,
Sombras de mangueira?
E beijos, das coisas travestidas de saudade, dos livros lidos nas entranhas do desejo, caminhávamos entre quatro círculos de luz, abraçavas-me como se abraçam os pássaros, as acácias e os pindéricos cabelos de nata,
Amanhã amo-te...
Partiram, fugiram das noites embriagadas com direito a limonada e a sexo, construíram cubatas nos musseques da alegria, saltaram muros e muros, tinha medo das curvas da vida, adivinhava os beijos como sendo abelhas em flor, sobre as casas sem nome, idade, e
Sexo?
Só depois das seis,
E sonhos, de um dia regressar...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2015