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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Dia de chuva

 O que posso esperar

Depois de um dia de chuva

O que espero eu

Desta cidade envenenada

Nesta cidade de latidos

De gritos

De suspiros

 

O que posso esperar

Depois de um dia de chuva

O que me espera

Depois de um dia de chuva

Sentar-me?

Fumar-me?

Beber-me?

O que posso esperar

Eu

Depois de um dia de chuva

 

Depois de uma morte anunciada

O que posso esperar eu

Depois de um dia de chuva

Enquanto a noite regressa

Lentamente ao meu corpo

E espero

Que as estrelas em papel

Se transformem em mel

 

O que posso esperar

Depois de um dia de chuva

Quando os pássaros já dormem

E eu

Sei que não dormirei

 

Enquanto espero pelo que me espera…

Depois de um dia de chuva.

 

 

16/10/2023

sábado, 1 de julho de 2023

Na estrela do teu olhar

 

Conto as estrelas, são tantas, meu amor, são tantas as estrelas e cada uma com um desejo nos lábios, conto as estrelas e depois penso…, quantas estrelas tem o teu olhar,

Muitas, poucas, assim-assim, tanto me faz…

Conto as estrelas que brincam nesta misera folha em papel, conto o silêncio destas paredes, destes pequenos nadas que existem dentro de mim,

No fundo, sou um nada…

Um nada que escreve…

Versos ao nada.

Conto as estrelas da minha infância, conto as estrelas das primeiras paixões, conto as estrelas que existem nos teus lábios, tal como existem nos lábios das estrelas,

O desejo,

Conto as estrelas e perco-me no teu sorriso de perfume adormecido, embrulhado nas minhas palavras, quando das tuas lágrimas…

Acorda um pedacinho de sorriso.

Conto as estrelas da tua mão, conto as estrelas do teu cabelo, conto as estrelas…, as infinitas estrelas do perfume dos teus lábios.

Conto as estrelas que me afligem, mais as estrelas que não me desejam, e percebo que este pequeno nada, que sou, esconde-se dentro de uma pedra cinzenta, com olhos verdes, e cabelo pigmentado de beijos.

Conto as estrelas que há em mim, e sabes, meus amor…

Dou conta que em mim não existem estrelas.

Conto novamente as estrelas do silêncio e da solidão, abro a janele, fecho a janela…

E pergunto-me se estarei realmente…

Louco.

Conto as estrelas das amarras e do medo, conto as estrelas de todas as prisões invisíveis…, e de todas as flores comestíveis,

Conto as estrelas da paixão,

E dos pequenos e simples guardanapos de papel,

Conto as estrelas do meu fracasso…, e tantas, meu amor, tantas estrelas…

Onde posso escrever…

Quase anda.

Conto as estrelas destes livros espalhados pelo chão, que odeio, que me odeiam…, que se diga, meu amor, começo a ficar farto de livros e de livros dos livros…, com poemas, espalhados pelo chão…

Conto as estrelas de todas estas paixões e não paixões destes mesmos livros, e percebo,

Que tal como eu…

São apenas uns coitados,

Dos tristes coitadinhos.

Conto as estrelas… sei lá, meu amor…

Já nem sei o que são estrelas.

Conto as estrelas das minhas palavras, e deixei de ter palavras…, quanto mais estrelas…, conto as estrelas desta melodia que oiço, e perco-me nas estrelas do teu silêncio, antes que que acorde a manhã…, e me roube todas as estrelas da noite.

Se eu fosse um louco, um pequeno louco de nada, um triste louco, um louco…, de louco, queria ser uma estrela, na estrela do teu olhar.

 

 

01/07/2023

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Poetas que sofrem

 

Há estrelas que se suicidam,

Estrelas que se apagam no céu nocturno do desejo,

Há estrelas que nascem,

Que crescem…

Estrelas que morrem,

 

Há poetas que se matam

E morrem como as estrelas que se suicidam,

Poetas sem pão

E poetas com demasiado pão,

Poetas e estrelas e o silêncio…

E o silêncio da solidão,

 

Poetas que sofrem,

Que sofrem porque há estrelas que se suicidam…

Estrelas com lágrimas

E estrelas que desenham sorrisos,

Sorrisos no rosto dos poetas que se matam.

 

 

 

Francisco

domingo, 25 de junho de 2023

Pôr-do-sol

 

Não preciso de mais ninguém…

Não preciso do sol.

Não preciso da luz…

Não preciso da noite,

Tão pouco das estrelas,

E dos filhos da noite…

E do desejo das estrelas…

Não preciso de mais ninguém…

Não preciso do mar…

Tão pouco…

Da palavra de alguém…

Não preciso de mais ninguém

Enquanto dentro de mim

Crescer o pôr-do-sol…

 

 

 

25/06/2023

quarta-feira, 14 de junho de 2023

O rio luz

 

Neste pedacinho de luz

Que às vezes se esconde

Se esconde no teu olhar…

Que às vezes brinca

E alimenta o meu olhar…

Neste pedacinho de luz

Onde escrevo o teu nome…

Vêm a mim

(Quando cai a noite sobre a sombra das minhas mãos…)

Vêm a mim

Todas as estrelas do silêncio.

 

Neste pedacinho de luz

Que é ausente

Que é carente

Que ainda não tem nome…

Neste pedacinho de luz

Escondo o teu olhar…

E a paixão em fome.

 

Neste pedacinho de luz

Deste pequenino pedacinho de luz

Que sofre quando a madrugada se abraça à insónia

Quando a insónia me abraça

E me beija

Neste pedacinho de luz

Ao cair da tarde

Junto ao rio…

A este pequenino pedacinho de rio…

Que tem nome

Que ama

Que deseja…

E apenas o conheço…

Como o rio luz.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

14/06/2023

domingo, 4 de junho de 2023

Estrelas-do-mar

 

Não,

Não tenho pressa de beijar os teus lábios de mel,

Não tenho pressa,

Não tenho pressa de tocar nos teus olhos de mar,

Não…

Não tenho pressa,

Não tenho pressa de pegar na tua mão de Primavera…

E voar…

 

Não tenho pressa de escrever,

Não tenho pressa de desenhar…

Não,

Não tenho pressa,

Não tenho pressa de morrer,

 

Não tenho pressa,

Não,

Não.

Não tenho pressa de saber o dia exacto,

A hora exacta…

Do acordar das estrelas,

Porque elas vão acordar,

 

Não,

Não tenho pressa…

De tanta coisa…

De ter pressa…

 

 

 

Luís

04/06/2023

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Paisagem de Inverno

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Não tínhamos nada

Do nada que tínhamos.

 

Tirando isso

Éramos todos felizes,

Eu desenhava e escrevia à porta de casa

(fazia poemas e desenhos ao domicílio)

Ela

Ela vendia cigarros para engordar

E lembrei-me logo

Se eu estou tão magro…

Vai uns cigarrinhos…

e…

nada,

 

Fumei

Fumei

Fumei

Sempre magro e elegante como um varão de aço

Quatro ferros de dezasseis

Oito ferros de doze

Nos estribos ferro de seis

Afastados dez centímetros,

 

Sentava-me

A menina passava

Olhava-me

Sorria-me

E…

Faça-me um poema

Meu artista…

Que artista sei que fui

Que artista sempre serei

De várias artes

De vários ofícios,

 

E lá lhe fiz o poema…

Menina

Desculpe

É para o seu namorado

Ou

Namorada?

É para a minha amada,

Compreendi

Perfeitamente

Vamos recomeçar a aula,

 

Então é assim,

 

 

Dos teus olhos aquela paisagem de Inverno

 

 

Abraçava-te na lentidão de um relógio invisível

Abraçava-te tanto

Que nos perdíamos dentro de um cortinado de sono

Abraçava-te e mexia no teu cabelo de silêncio

Enrolava-o no dedo

E sentia o meu seio no teu ombro

Aos poucos

Morriam as horas

Mas muito antes

Já tinham partido todos os segundos

E todos os minutos

Apenas uma hora

Uma qualquer hora

Ficou junto a nós…

E poisou no teu púbis,

 

Abraçava-te sabendo que Deus desligou agora mesmo…

A luminosidade das cerca dos dez sextilhões de estrelas

Cem biliões de galáxias…

(e há parvos e parvas que julgam ser o centro de tudo, quando são o centro de nada)

Abraçava-te e ao mesmo tempo

Questionava Deus…

Porquê?

 

E dos teus olhos

Minha galáxia das manhãs em geada

Dos teus olhos

As primeiras lágrimas da tua pele…

E com medo que a única hora que tínhamos…

Morresse também

Beijo-te loucamente

Até que uma nuvem de luz poisou nos teus lábios

 

Da tua querida que te ama,

 

Olhe

Menina

Não tenho muito jeito para estas coisas

Mas…

Olhe…

Foi o que me saiu

Ela pega na pequena folha em papel

E enquanto lia

Percebi que no rosto dela…

Brincavam pequeninas gotículas de saudade…

Chorou

Olhou-me…

Perfeito

Quanto é?

Olhe

Pelo poema são cinco euros

E pela assinatura…

Quarenta cêntimos de euros

Pagou-me

E

 

O beijo

Constrói-se aos poucos

O beijo é como o acordar das borboletas

O beijo sai do poema

Salta a rede de vedação…

E procura incessantemente a boca…

 

Palavras

Palavras meu amor

Palavras

Dias

Noites

E mais palavras

Menos as outras palavras

O poema é assim mesmo…

É como o beijo

É como a chuva

Nem todos beijam

E quase todos se molham,

 

E troco palavras por beijos

Beijos por livros usados

Livros usados por outros livros usados

E troco o silêncio

E apenas

Por outro silêncio,

 

Chateia-me

Revolta-me

Saber que existem crianças

Que não são crianças como eu fui…

Eu

Que fui desejado

Que fui muito amado

E feliz

Ainda eu

Às vezes

Me queixo da puta da vida…

E que dirão estas crianças da puta da vida e de um Deus pacientemente sentado numa pedra cinzenta a olhar-nos…

 

Não tínhamos nada

Do nada que tínhamos.

 

Não tínhamos nada…

Mas tínhamos tudo…

Tínhamos amor.

 

 

 

Alijó, 24/05/2023

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Estrela semeada

 Semeio esta estrela de cor silêncio

Em teus lábios de prazer luar,

Semeio esta estrela que ainda não tive coragem de apelidar,

E não sei se ela vai sobreviver,

Ao vento,

À chuva,

Ao desejo…

Ou ao teu doce olhar.

 

Semeio esta estrela brilhante,

Sem nome…

Nos teus lábios de prazer luar,

E esta estrela me guia

Quando subo a montanha…

Semeio esta estrela de cor silêncio

Na tela da vida,

Quando da vida…

 

Apenas recebo os beijos do mar.

Semeio esta estrela desejada

Nos teus lábios em feitiço,

Quando esta estrela semeada…

É poema, é madrugada,

Semeio esta estrela de cor silêncio

Em teus lábios de prazer luar,

Em prazer teus lábios da noite apaixonada.

 

 

 

Bragança, 04/05/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 1 de maio de 2023

O nada de tudo ou nada

Não podemos ser tudo

Quando somos o nada menos o tudo,

Não podemos ser isto,

Não podemos ser aquilo

E aqueloutro,

Só porque queremos ser,

Isto e aqueloutro…

Quando queremos ser tudo…

Às vezes,

Muitas vezes

Somos o nada menos o tudo,

 

E o nada seremos sempre,

Sempre que lutamos por ser o tudo

Acabando por sermos o nada,

Não podemos ser pássaro

Se não tivermos asas para voar…

E podem dizer-me que um pássaro

Sem asas

É um pássaro,

Mas não é um pássaro qualquer… e não é a mesma coisa…

Um pássaro sem asas… é o nada,

 

Um pássaro que não canta,

É um pássaro,

E sem asas e sem cantar…

Continuará a ser um pássaro,

Mas…

Para que quero eu um pássaro,

Que não canta,

Que não voa…

Que apenas me serve de adorno

Sobre a mesinha-de-cabeceira

Onde guardo o isqueiro os cigarros e a pistola?

 

O nada,

Sempre que o tudo…

Não é o tudo,

É quase como o Universo…

Tão infinito tão belo tão escuro tão… tão nada,

De que me serve a beleza do Universo?

De que me serve se o Universo é finito,

Não finito…

Ou assim-assim…

Ou o nada…

De que me serve saber que toda a matéria do Universo se encontrava concentrada no espaço do tamanho da cabeça de um alfinete,

Vê lá tu… meu amigo, do tamanho da cabeça de um alfinete,

Depois…

Dizem que explodiu…

Expandiu-se…

E hoje…

O nada,

De que me serve saber de nublosas, buracos negros…

Buracos negros em vómitos,

Velocidade da luz,

Que fiquei com raiva de Einstein quando percebi que…

Vê tu, meu amigo,

Que teoricamente é possível viajar no tempo…

Odeio este gajo só por isto,

E por anda,

Imagina meu amigo, imagina viajarmos no tempo…

E encontrar aquela gaja horrível,

Aquele gajo…

Qualquer coisa,

De nada, obrigado…

Estes e outros fantasmas da noite,

E anda por aí, e anda por ali…

Anda por cá e vai cavalgando montes e vales,

Pedras e montanhas,

Noites de lua cheia…

E o nada,

O zero absoluto…

Zero graus celsius,

O quase tudo,

Ou o quase nada,

 

De que servem as palavras,

Os poemas…

E a madrugada?

Quando o sono,

Quando o sono apenas estorva…

Não deixa viver,

Não deixa respirar…

De quase tudo,

Ou de quase nada,

O que adianta passares a noite em discussão…

Se Deus,

Se Deus existe, existiu…

Ou nem por isso?

Se Deus criou alguma coisa…

Tu,

Tu vais morrer, existindo ou não existindo Deus,

Universo…

Ou buracos negros,

Ou o raio que os parta,

E nunca te esqueças, meu grande amigo,

Nunca te esqueças que setenta por cento do peso do teu corpo…

É água,

E o resto…

Merda,

E o quase nada,

Depois,

Temos a luz vestida de noite,

Lindíssima como as estrelas,

Lindíssima como sempre,

A sempre bela noite,

Bela e puta…

Também ela,

Tal como eu,

Um pedacinho de nada,

Uma molécula de desejo… nos olhos da alvorada,

Dentro de um recipiente…

A poeira do teu corpo,

 

Não,

Não podemos ser tudo,

Quando nasceste para ser o nada,

Quando nasceste travestido de equação matemática,

Complexa…

Ordinária equação complexa do terceiro grau ou do quarto grau…

Uma complexa equação diferencial,

De uma mão, da outra mão,

Acordam,

O nada,

E o tudo…

Ou o quase tudo,

E quase nada,

 

Sim meu amigo,

De que te servem as canções da alegre Primavera,

Quando a tua Primavera…

É quase nada,

Do nem quase tudo,

De entre o tudo e o nada,

 

Depois,

Depois dizem que estás louco,

Internam-te em psiquiatria…

E que sim,

Ao nascer do dia,

Coitado do rapaz…

Coitado dele,

E às vezes, nem tudo é o tudo,

Nem o nada é o tudo,

De nada,

Nem o nada…

Nem o tudo,

Não me digas que às vezes o nada é o tudo?

Ou quase tudo?

Quando não preciso de nada,

Não meu amigo,

Eu, eu sinceramente já não te digo nada,

Nada,

Que nem tudo é tudo,

E que nem tudo é o nada…

Quando tu,

Quando eu,

Meu grande amigo,

Somos o nada,

 

E o nada é um conjunto vazio,

Tem jarras com flores,

Tem poemas de amor e sedução,

Olha…

Tem um rio,

E tem o mar,

O mar de ninguém,

No mar de nada,

Quando o quase tudo,

Nasceu, cresceu, morreu…

Sendo o quase nada…

E do quase nada,

Vês apenas o sorriso do clitóris

Quando se ergue na tua mão… a doce madrugada…

Que de tudo,

Não tem nada.

 

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha