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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Sábado

 Sábado

Meu amor

Sábado vou desenhar-te

Junto à ribeira,

Sábado vou escrever-te

Enquanto a lua está desgovernada,

Sábado

Meu amor

Sábado vou lançar ao rio

Esta fogueira,

Sábado

Meu amor

Vou desenhar os teus olhos

E esperar

Que acorde

A madrugada.

 

Sábado

Meu amor

Sábado vou pedir ao teu cabelo

Que me empreste o vento,

Meu amor

Sábado

Vou esconder-me no teu pensamento…

Meu amor

Sábado

Sábado vou amar-te

Como quem ama uma flor,

Sábado vou contemplar-te

Como quem contempla uma flor…

Sábado

Meu amor…

Sábado vou reler este poema

E pedir

Que sábado

Acordem nos teus lábios

O sabor da chuva

E o silêncio da manhã…

 

Sábado

Meu amor

Sábado vou desenhar-te

Junto à ribeira…

Sábado

Meu amor

Sábado vou escrever-te

E abraçar-me ao mar

Que não tendo sabedoria

Tem artimanha…

Tem estrelas coloridas,

Sábado

Meu amor

Sábado vou subir à montanha

E gritar

Que no próximo sábado

Meu amor

Eu seja uma pedra cinzenta…

Junto à ribeira

Onde vou desenhar-te…

 

 

13/10/2023

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Esconderijo

 Escondo-me na tua mão de oiro amanhecer,

Enquanto lá fora, uma pequena réstia de sono foge de mim.

Procuro nos teus lábios o teu doce olhar,

Sabendo que a chuva brevemente poisará no teu cabelo.

Escondo-me na tua mão…

Ao primeiro beijo da manhã,

Quando o Deus criador liga o interruptor da paixão,

E eu, olho-te incessantemente no espelho da madrugada,

Do silêncio que me abraça, ao silêncio que me deseja…

O meu esconderijo.

 

Escrevo-te enquanto ainda tenho forças para o fazer,

Não porque esteja cansado, ou doente, ou coisa alguma…

Mas vou-te escrevendo parvoíces,

Vou pincelando numa tela fria e nua…

Outras tantas parvoíces;

Diria que sou um parvo,

Um parvo que escreve parvoíces,

Um pequeno parvo que pincela numa tela fria e nua…

Parvoíces.

Eu, o eterno parvo das noites de insónia.

 

 

 

 

Alijó, 08/05/2023

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O cansaço


A fome de pensar.

O sorriso loucamente apaixonado pelo silêncio.

Os cigarros embriagados,

Loucos,

Descendo as escadas da doença.

A liberdade.

Quando se apaga a madrugada em ti.

Canso-me das palavras de escrever,

Dos sonhos,

E dos livros de morrer.

A insónia deitada na cadeira da preguiça.

As camufladas lâmpadas de néon suspensas nos teus seios de alumínio…

Quando lá fora, a tempestade de desejos, dorme nos meus braços.

A fome de correr.

Saltar.

Brincar…

Na tua boca de sofrer.

A fome de vencer.

O medo de morrer…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

29/11/2019

domingo, 5 de maio de 2019

A sombra dos teus lábios


A sombra dos teus lábios,

Suspensa no silêncio da noite.

Desenho a madrugada,

No teu corpo de escrever,

Escrevo palavras,

Silêncios de sofrer.

Em cio todos os pássaros,

Todas as abelhas,

No telhado da aldeia,

A sombra dos teus lábios,

Brincando na eira,

Escrevo palavras,

Parvas,

No teu corpo alvorada,

Desisto,

A melancolia,

Um dia,

Morta na calçada.

A sombra dos teus lábios,

Que a noite vê crescer,

É luar,

É mar,

É poema de sofrer…

A sombra dos teus lábios,

Os pinceis da revolta,

O jardim envergonhado,

Sem escolta,

Descendo a calçada,

O sem-abrigo desgraçado,

De livro na mão…

Deita-se no chão,

Dorme tranquilamente como uma pomba…

Engana a fome com o poema,

Bebe todas as sílabas do poema…

E morre.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

5/05/2019

segunda-feira, 1 de abril de 2019

As palavras que nunca te vou escrever


Tenho palavras na algibeira,

São tantas,

Que parecem os peixes voando debaixo do mar,

Por medo,

Por vergonha,

Estas palavras, as minhas palavras,

Nunca chegarão a ti,

Como a chuva invisível,

Que cai sobre o teu cabelo,

E, ele, sempre seco,

Esbelto como as estrelas.

Estas palavras adivinham, morte,

Tempestades,

E tormentas…

Que só o meu veleiro sabe desbravar,

Como uma floresta doente,

Como os pássaros, também eles, recheados de palavras…

Mas…

São palavras que nunca te vou escrever,

Podia dizer-te que és um amor,

Um bombom,

Ou o luar quando a noite se vai banhar no Oceano…

 

Tenho palavras na algibeira…

Que não me servem de nada,

De palavras está a cidade infestada,

Como ratos,

Sem-abrigo,

Ou eu, um falido comerciante de palavras.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

01/04/2019

sexta-feira, 29 de março de 2019

O fogo do prazer


Não posso, desisto.

Não posso, finjo, caminhar em tua direcção,

Descalço,

Não posso,

Fingir que te amo.

Se te amasse, amava-te,

Se te escreve, escrevia-te,

Mas, não, não posso,

Fingir,

Escrever,

Se pudesse, lia-te, todas as palavras começadas por A…

Não posso,

Fingir,

Que te lia todas as palavras começadas por A.

Amar.

Começar,

Caminhar,

Não posso.

Fingir.

Que sou o mar.

Lanço no poço da saudade o beijo desenhado,

Na alvorada,

Na eira,

O beijo embalsamado,

Fingido,

Doente,

Caminhando, caminhar,

O fogo do prazer,

Quando o teu corpo adormece,

Arde,

Tudo arde,

Mesmo o entardecer.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

29/03/2019

sábado, 22 de julho de 2017

O cansado iluminado


Regressa a noite e não quero abrir os olhos,

Prefiro adormecer junto à lareira apagada,

Porque acesa já ela está,

O cansado iluminado,

Sentado,

Lê…

Escreve em ti o que lê…

E não tem pressa de partir,

Porque a partida é tristeza…

Desenhada nas paredes do meu quarto,

Regressa a noite,

Regressa o vento…

E o iluminado,

Cansado,

Foge em direcção ao mar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Julho de 2017

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Viver

Que sobre o amor nada tenho a dizer,
Saboreio a vida com prazer,
Todos os dias ao acordar,
Danço, escrevo e consigo navegar
Nos teus braços de manteiga,
Aceito,
Amo,
Percorro caminhos obscuros da maternidade…
Tenho em mim a saudade,
Da verdade,
Da sabedoria de nada saber…
A não ser…
Que a morte existe,
Persiste…
Persiste em me atormentar,
Navego no teu colo nascer do sol,
Quando o tempo se esquece de mim,
Tenho o teu jardim,
Desenhado,
Desenhado num caderninho…
Num caderninho dentro de mim,
Que sobre o amor nada tenho a escrever,
A não ser,
Viver.


Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 18 de maio de 2016

A melancolia da saudade


O cansaço absorve-me entre parêntesis de silêncio

E vírgulas de tristeza,

Por mais que eu queira…

Não consigo colocar o ponto final na escuridão nocturna,

Olho-te e vejo-te disfarçada de ponto de exclamação…

Ponto e vírgula quando acorda o dia,

E lá longe, muito longe daqui… oiço os apitos do ponto de interrogação,

Confundo-me com as palavras,

Disfarço e dou por terminado o texto…

Ponto final,

Paragrafo,

E o dia enrola-se na melancolia da saudade.

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 18 de Maio de 2016

terça-feira, 21 de abril de 2015

Conversas


Nossas palavras

Voando nas linhas curvilíneas do abismo

Sabes meu amor?

Sinto-me sem esperança

Vontade de acreditar

Não

Meu amor

Deixei de acreditar

Sinto-me um afluente

Em busca do silêncio

Sinto-me a montanha

Acorrentada ao amanhecer

Sou uma árvore caduca

Sem saber o verdadeiro preço da paixão

Não

A paixão não se vende

Transacciona

Ou colecciona

Não é facturada

Com IVA

Sem IVA

A paixão se sente

Quando acorda o dia

Visto as calças do avesso

Troco a camisa pelo pijama

E durmo

Sabendo que nos teus lábios

Habitam narcisos

Orquídeas

E sombras

A paixão é como a tempestade

Liberta-se do corpo

Voa

Voa nos finíssimos fios da saudade

Não penso

Nas tuas palavras indigestas

Traiçoeiras

Circunferências de tristeza

Que apenas o teu corpo conhece

Ama

E sente

Todas as noites

Tinham inventado as cartas de amor

Desenhavas tão mal

Meu amor

Os corações pareciam rochas embriagadas

E as setinhas…

Uma serpente venenosa

Enrolada

Nos Sábados sem nada fazer

Sabes

Meu amor

Não existe amor nenhum

Invento-te para esquecer a solidão

E as noites em frente ao espelho

A… a pedir perdão

Perdão porque errei

Sempre erro

Sempre

É o meu destino

Amar

As folhas de papel pinceladas pelos teus cabelos

Escrever no teu perfume

“Esqueci-te”

Nem os teus ossos

Existem dentro dos nossos livros

Folheio-os em buca da tua sombra

Uma personagem minha

“A Silvina”

Que por acaso era a minha avó…

Meu filho

Um dia

“Esqueci-te”

Nem os teus ossos

Nem os teus carinhos

Nada

Meu amor

Nada voando nas campestres avenidas do sexo

Hoje

Hoje sinto-me “o maior filho da puta do mundo”

Um dia

Sem ti

Meu amor

E repentinamente

Escrevo meu amor

E no computador aparece…

Mar…

Coisa estranha

Meu amor

Já devia estar embrulhado em mim

E não

Eu aqui a escrever parvoíces

O amor

Como se eu fosse Doutorado em “O Amor”

Nada

Doutorado não sou

Licenciado sou quase

Mas tu

Meu amor

És a poesia vibrante das tendas de circo

O sexo na ardósia do sexo

Dois homens beijam-se

Meu amor

Como o Tejo se beija

A cada regresso

Olhei-te

Corrias de livro na mão

E eu

Eu tive a sorte de encontrar uma das personagens

Não

Não era a minha avó

Era a “Deusa das Crenças Perdidas”

Ouvir-te sem sentido

Nenhum

Esta triste noite

Sinto-me triste

Meu amor

Esta semana

Parece um túnel sem fim

Nada

Não aconteceu nada

Mas…

Mas adivinho qualquer coisa

Ou o regresso de um grande amor…

… Ou a partida de um grande amado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 21 de Abril de 2015

domingo, 5 de abril de 2015

Para ti meu amor


Desce a noite pelos teus ombros de silício

Percebo na tua voz

O silêncio poema da paixão

O falso livro

Embrulhando-se nos teus seios

Em prata

A sombra

O prateado fugitivo

Descansando o olhar numa livraria

Livros

AL Berto

Lobo Antunes

 

Saramago

Pacheco

Livros

Estórias

Cesariny

A sombra

Lapidando o teu corpo

Oceano de palavras

Mergulhadas no teu púbis

A madrugada

Livros

Perdidos

 

E achados

O amor

Meu amor

O significado verdadeiro da saudade

Nos dardos envenenados da solidão

A fala

Não

A sanzala mergulhada em lágrimas de cartão

O vento trazendo as coxas do capim

Oiço-a enquanto durmo

Os seios minúsculos

Masturbados na poesia nocturna da alegria

 

A noite

Não

A fala

Os lábios incinerados na lareira do prazer

O suor alicerçado à tua pele

A húmida vagina em imagens tridimensionais

O PET

O maldito PET

O juízo

A mentira

A insónia

Novamente

 

Triste


As ruas do teu sofrimento

A lotaria da vida

Morres

Não morres

Vives

Em mim

Meu amor

Vives nas minhas veias semeadas de tempestade

A saudade

Novamente

 

No meu corpo

O pénis encarcerado numa estrofe

O enjoo da solidão

Quando à nossa volta gravitam

Sombras…!

A penumbra tarde de Novembro

Nas janelas do Hotel da Torre

Belém

A vagina procurando cacilheiros de luz

Um cigarro

Dentro de mim

Aso beijos

 

E eu sabia que a carta

Sem destino

Morreu

O amor das sílabas encarnadas…

Travestis amigos numa mesa

A vertigem do amanhecer

Acariciando pássaros e cavernas de medo

Não tenho morada

Cidade

Casa

Rua…

Mas tenho um poema para ti meu amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Abril de 2015