Vêm aos teus lábios
As manhãs frias de
Inverno,
E deste vento açaimado
Escuto os pequenos
silêncios da tua mão,
Escuto-os e escrevo-os no
pavimento térreo da insónia
Que um dia me cobrirá de
sonhos,
Como das pedras se ouvem
os gemidos
Das noites em luar,
E sento-me no teu colo,
E das lágrimas que
vomitas sobre o meu peito
Encontro as sílabas das
searas do loiro trigo
Que aquele rio há-de
engolir,
E matar.
Vêm aos teus lábios
As manhãs frias de
Inverno,
E caminho até ao
infinito,
Umas vezes tropeçando nas
sombras dos embondeiros,
Outras, ouvindo as
gargalhadas dos mabecos
Em busca de carne…
E sento-me no teu colo,
como me sentava quando menino.
Alijó, 26/10/2022
Francisco Luís Fontinha