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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Teu beijo

 Sento-me nesta cadeira fria

E cinzenta

Sento-me nesta cadeira em solidão

Que lamenta

A flor-cardo que afugenta do coração

O medo que sentia,

 

De me sentar

Nesta cadeira

Escura e fria

Parecendo o remorso de uma ribeira,

 

Sento-me nesta cadeira

E pela janela olho a manhã em despedida

Que corre calçada abaixo em correria

Não percebendo que nesta cadeira

Habita o sonho da partida

Em direcção à fogueira,

Em direcção ao nada,

 

Nesta cadeira fria e escura e sem madrugada

Sentada

Sobre mim a forca da alvorada

De corda na mão e silêncio nos lábios

Me aponta a caneta para escrever

O meu último desejo;

Escrever até morrer,

E morrer em teu beijo.

 

 

25/10/2023

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Novo dia

Trazem-me a despedida

E as últimas lágrimas da madrugada,

Trazem-me o vento em partida

Quando a saudade se esconde na calçada,

E a noite é um pedaço de nada,

 

Trazem-me o vento

E pedem-me para não pensar,

Como posso eu abdicar do meu pensamento

E do sorriso do mar,

Quando o amar… é apenas uma nuvem sem sentimento,

 

Trazem-me a paz e as flores do amanhecer,

Trazem-me a poesia

E as palavras de escrever…

Que deixarei de o fazer,

Quando acordar o novo dia.

 

 

21/08/2023

Francisco

sábado, 12 de agosto de 2023

Cair da noite

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

Beijo-a como Deus me beijou.

Ao cair da noite

Pego no teu cabelo

E acaricio como Deus me acariciou

Junto ao rio

 

Quando eu procurava aquele navio

Que me transportaria para o desconhecido.

Ao cair da noite

Afugento o mar dos teus olhos

E dou às abelhas que brincam nos teus lábios

O doce mel da madrugada.

 

Ao cair noite

Beijo-te como Deus me beijou,

Como Deus escreveu no meu corpo

Os silêncios da noite,

Como Deus desenhou no meu corpo

O cair da noite.

 

Ao cair da noite

Pego na tua mão

E beijo-a como Deus me beijou

Enquanto cai a noite

No teu cabelo de Cinderela adormecida.

Ao cair da noite

Quando desisto da despedida

Vou em busca da noite

E vou à procura da tua mão

E de uma nova partida.

 

 

 

12/08/2023

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Despedida

 Despeço-me dos teus olhos de mar

Despeço-me dos teus lábios de mel

Ausento-me dos teus olhos

E dos teus lábios

Amordaçados

 

Despeço-me sem me despedir

Sem deixar palavras sobre a geada

Despeço-me assim

Sem mais nada

Junto a este jardim

 

Despeço-me da noite

Noite

Quando a noite

Também se despede de mim

Despeço-me quando se ergue a madrugada

 

E depois de me despedir

Dos teus lábios de mel

E dos teus olhos de mar

Vou à procura do poema

Vou desenhar dentro de mim… um novo dia

 

Vou escrever em mim

Um outro poema

Despeço-me dos teus olhos

E dos teus lábios

E desta fogueira em chama

 

 

08/08/2023

domingo, 16 de julho de 2023

Navio

 

Despeço-me deste navio, deste porto envenenado, deste navio sem rumo.

Despeço-me deste pobre navio, que perdido no mar,

Que esquecido de mim

Que me odeia,

Que tem raiva da minha sombra.

Despeço-me deste navio,

Enquanto do outro lado do rio, uma gaivota em cio,

Me segreda,

Que este navio é um fantasma que a noite trouxe,

Que a noite há-de levar,

Para longe.

 

Despeço-me deste navio que me odeia,

Que não tem nome,

Nem bandeira,

Neste navio em pequenos parágrafos de desejo,

Descendo a calçada,

Subindo ao ponto mais alto…

Daquela muralha,

Despeço-me deste navio,

Deste comandante louco,

Deste comandante poeta,

Quando sei que este navio,

Aos poucos,

É uma janela para o mar.

 

Despeço-me deste navio…

Pedacinho de luz

Que corre sobre a ponte,

Deste navio enferrujado,

Doente,

Cansado…

Despeço-me deste navio com cheiro a putrefacção

E poesia de esquecer,

Neste navio de amar

Quando este navio,

Qualquer dia…

Me abraçar.

 

 

 

16/07/2023

domingo, 9 de julho de 2023

Despedida

 

Quando se despede

O silêncio dos teus lábios,

Quando se abraça o silêncio,

Que ainda há pouco se despediu de ti…

E dos teus lábios,

Há um beijo sobre o mar,

Que se despede,

Dos meus lábios…

No silêncio dos teus lábios.

 

 

09/07/2023

sábado, 8 de julho de 2023

Porquê

 Despeço-me de mim, despeço-me das coisas simples, despeço-me de todo o silêncio que construí,

Despeço-me deste cansaço, despeço-me deste esqueleto que transporto…

E do último abraço,

Às vezes, às vezes pareço o meu pai…

(no final da doença)

Que me questionava

Se era de dia

Se era de noite,

Depois dizia…

Sabes filho, já nem sei se é dia…

Já nem sei se é noite…

Tanto faz

Dizia-lhe eu,

 

Despeço-me das sílabas que lancei ao mar,

Despeço-me das palavras que escrevo…

Das palavras que escrevi…

Dos rabiscos

Da chuva,

Despeço-me das primeiras luzes da manhã,

Despeço-me da última estrela que me olhou…

E se esconde dentro de um círculo de luz com olhos verdes,

 

Despeço-me da solidão,

Ela despede-se de mim…

Trocamos um abraço,

Gravamos os nossos nomes dentro do nosso coração…

E partimos para esta invisível viagem,

Despeço-me da poesia,

Do dia,

Da noite,

Quando quase sempre a noite despede-se de mim,

 

Despeço-me da geometria,

De Deus,

E novamente,

Da poesia,

Que morra a poesia e este poema de “merda”,

Despeço-me da Terra e do mar,

E do mar e da Terra,

Despeço-me em silêncio,

Dos barcos da minha infância,

Despeço-me…

Sem saber o que é a despedida.

 

 

08/07/2023

Francisco

terça-feira, 4 de abril de 2023

A despedida

 Despeço-me. Despeço-me de tudo, menos da vida. Despeço-me desta personagem parva, desta personagem imbecil, desta personagem que escreve cartas à manhã e ao mar, que escreve poemas ao luar e às noites de insónia,

Repentinamente, ele tombou da janela, como tombam os pássaros depois de acasalarem…

Estava sol, dentro de portas, uma fresta de silêncio redopiava sobre a secretária, quase nua, quase só…, como todas as secretárias que tive, poisada junto ao cachimbo de água, junto à pedra de haxixe, junto ao isqueiro, junto ao ultimo cigarro, junto ao revolver, junto ao ultimo poema, estava a fotografia de uma triste manhã junto ao mar.

E quando o mar incendeia os corpos, e quando do mar regressam os corpos em transe, eis que esta personagem percebe que o mar deixou de existir, que todos os favos de mel suicidaram-se numa noite de Primavera e da algibeira retirou a espada, cravou-a no peito, e voou…

Deus te guie… meu querido.

A maré tinha subido, e de todas as preias-mar que tinha observado, ele percebeu que nunca mais teria as estrelas em papel no tecto da alcofa; paciência, pois como diz o povo, é a vida.

Ultimamente, trocou a vida pelo (MEF) Método dos elementos Finitos, e entre a vida e o (MEF), escolheu beber o seu último copo de uísque, como se na manhã seguinte partisse para uma longínqua viagem, sem retorno, sem bagagem, sem esqueleto para lhe atrapalhar a vida.

Poisou os cotovelos sobre a secretária, escreveu palavras simples, porque em qualquer despedida a simplicidade é a melhor conselheira, pegou na pedra de haxixe, fez um pequeno (paivo) e quando terminou de o fumar, pegou no revolver e

Coitado, coitado do senhor Mário de Sá-Carneiro, coitado, tão novo, coitado…

Acontece a todos os poetas. Acontece a todas as personagens que se despedem dos poetas.

Estava sol, dentro de portas, uma fresta de silêncio redopiava sobre a secretária, quase nua, quase só…, dois corpos cambaleavam na embriaguez do desejo, sobre a pele dela pequenas gotículas de suor com sabor a paixão brincavam como duas crianças num qualquer jardim público; e coitado dele, coitado, tão novo…

Pegou-lhe na mão, levou-a aos lábios e beijou-a, tão intensamente que pequenos gemidos perfilavam-se junto à janela para serem os primeiros a observar o regresso daquele enorme petroleiro que desde a infância se tinha perdido e só agora tinha descoberto o caminho para casa.

A casa, a casa.

Coitado dele, coitado…

Tão novinho, vinte e seis anos…

Uma fina e espessa massa cinzenta soltou-se do crânio e todas as frestas de silêncio foram tapadas por esse amontoado de pedacinhos de carne, osso e sangue…

Deus te guie, meu querido, Deus te guie até ao Inferno,

Acreditava ele.

Depois de lhe beijar a mão, enquanto ela desenhava sorrisos no olhar dele

Amas-me?

Ele, atrapalhado, como quando está no processo criativo e lhe faltam as palavras para terminar um poema ou um texto, olhou-a, sorriu

Sim, amo-te.

Pegou no copo de uísque que estava sobre a secretária, levou-o até aos lábios, e em pequenos tragos, tal como já anteriormente se tinha despedido da personagem parva, imbecil, estúpida…, sim, essa, aquela que escrevia textos e poemas e cartas… e despediu-se também do copo e despediu-se também da espada que tinha cravado no peito.

Despeço-me antes que a tarde se despeça de mim, despeço-me desta personagem parva, imbecil, desta personagem que escreve cartas e textos e poemas…

Aos gatos, que são meigos.

Coitado dele, coitado do senhor Mário de Sá-Carneiro…

Coitado.

Tão novo.

Uma fina e espessa massa cinzenta soltou-se do crânio e todas as frestas de silêncio foram tapadas por esse amontoado de pedacinhos de carne, osso e sangue…

Deus te guie, meu querido, Deus te guie até ao Inferno, Deus te guie e te dê o merecido descanso, o sono eterno, porque amanhã

Amanhã… amanhã não poemas,

Amanhã… amanhã não cartas,

Sem remetente,

Com remetente,

Cartas que escrevo, a gatos, porque são meigos.

Coitados de todos os gatos, que lêem as minhas cartas, que lêem os meus poemas…

Coitados deles e dele,

Coitado,

Tão novinho, tão novinho…

 

 

 

 

Francisco

(04/04/2023

segunda-feira, 27 de março de 2023

Despedida

 Despeço-me de ti, meu amor,

Enquanto o sono não me consome,

Enquanto o sono não me come…

Como comeu o meu pai,

Como comeu a minha mãe.

 

Despeço-me de ti

E das flores do nosso jardim,

Despeço-me das tardes junto ao mar,

Das noites debaixo do luar,

Despeço-me de ti, meu amor,

Enquanto o sono não me consome…

Enquanto o sono não me come.

 

Despeço-me dos livros,

Das telas e dos livros…

Que já devia ter queimado,

Tal como das minhas palavras,

Que me despeço,

Entre abraços e pingos de alegria,

Porque meu amor, a despedida…

A despedida é alegria.

 

Despeço-me de todas as coisas,

Que de belas,

Nada têm…

O que tem de belo uma flor,

Um poema,

Ou uma simples tela?

De belo nada têm…

Apenas têm sofrimento,

Dor…

E noites de insónia.

 

 

 

Alijó, 27/03/2023

Francisco

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Os cheiros e as sombras e os sons do Mussulo…

 Encostou a mão na minha face

Deu-me um beijo

E enquanto me olhava

Escondeu-se no capim,

 

Foi assim que a melhor amiga da minha infância de Luanda

Se despediu de mim,

 

Eu e a Fátima brincávamos

E inventávamos coisas

Coisas que apenas as crianças entendem,

´

E tal como ela habita dentro do álbum fotográfico do meu pai

Também eu provavelmente ainda brinco no álbum dos pais dela,

 

Provavelmente a Fátima tem filhos

Tem netos

(ao contrário de mim)

Provavelmente ainda se recordará do menino dos calções

Tal como eu me recordo dela

E quem sabe

Um dia

Numa qualquer rua do Planeta Terra

Encontraremos as sombras e os cheiros e os sons do Mussulo,

 

Porque as pessoas morrem

Mas os cheiros e as sombras e os sons do Mussulo…

Nunca morrerão.

 

 

 

 

 

Alijó, 04/01/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 28 de março de 2020

Necrologia


O tempo que passa,
Desassossega o desespero,
Finto a vaidade,
Perco o emprego,
Vagueio na distância,
Ilumino-me,
E, perco-me no cansaço dia.
Tenho pena,
Daqueles que por lá passaram,
E, desavergonhadamente,
Lá continuam,
Esperando as pedras que caiem do silêncio,
Aos poucos,
Em cio,
Os pássaros loucos,
No desvaneio da solidão.
O tempo passa,
A fome aperta,
Neste desespero acontecimento,
Dos novos marinheiros,
Entre sexos e chapas de zinco,
O rio, comem-me,
Quando a maré se abraça ao cansaço.
Todas as vezes, algumas, o tempo passa,
O mar envaidece-se de sonolências madrugadas,
Calcárias manhãs de Primavera,
Ao deitar,
Sobre o travesseiro da insónia,
Esqueço-me de acordar,
Tomo café, todos os dias,
E, vejo no jornal, a minha foto,
Necrologia,
Perdidos e achados,
Despeço-me,
Até logo,
Abraços.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
28/03/2020

domingo, 12 de janeiro de 2020

As cobras


(lavar a loiça, coisa e tal, arrumar a cozinha… decididamente, não tenho muito jeito para isto; sou melhor na poesia)


As cobras que habitam o meu jardim,
São silêncios de solidão,
São palavras suspensas na minha mão,
Dos livros absorvidos por mim.
As cobras que habitam o meu jardim,
São nuvens de espuma,
Brancura da vida,
No mar da despedida.
São transeuntes embriagados,
Ninhos de pássaro abandonados,
As cobras que habitam o meu jardim,
São a esperança de viver,
Estar calado,
Quando a Primavera acordar,
Sorrir,
E caminhar sobre os parêntesis do cansaço.
As cobras,
Que habitam o meu jardim,
São flores amestradas,
Papoilas envenenadas,
Pela geada,
Pela sombra da calçada.
As cobras,
Que habitam,
O meu jardim,
São lágrimas.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
12-01-2020

domingo, 30 de julho de 2017

Os barcos da solidão


Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Um raio de luz desce e poisa-lhe na mão amachucada pela alvorada,

O silêncio frio da despedida…

Quando o Tejo se esconde na madrugada,

Os barcos da solidão, cansados de esperar pela partida,

Uma casa abandonada, recheada de flores adormecidas,

Canções de amor, palavras esquecidas…

Não mão do escritor,

Sempre tive sonhos,

Viver sobre o mar da esperança,

Levantar bem alto o levante sofrido da escuridão…

Quando criança,

Pegava num pedaço de papel…

E escrevia-te, não percebendo que não existias…

Amanhã nova caminhada,

Amanhã nova estória…

Ensanguentada,

Liberta da memória,

E dos pilares de areia da saudade,

Nos olhos, a penumbra pomba adormecida,

Vive-se vivendo na tentativa de partir…

E nada deixar sobre a mesa… sobre a mesa sofrida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 30 de Julho de 2017

terça-feira, 11 de julho de 2017

O capim da saudade


A casa descalça no sombrio destino da pele camuflada pelo capim da saudade,

O cacimbo poisa docemente no teu sorriso, como uma gaivota de vento enrolada na árvore da solidão,

Foge de mim e abraça-se à liberdade…

Até que a noite se veste de negro…. E no chão

Queimado pelo suor do teu cabelo, levita na imensidão do Universo…

Escrevo-te este pobre verso,

Sem saber se saberás ler,

Ou escrever,

 

Um tentáculo de papel absorve-te na ribeira da montanha adormecida,

Sinto o levante amante que sou nas tuas lágrimas,

Como uma pedra ressequida…

Do velho xisto exposto ao Sol da manhã embainhada na espada da serpente envenenada pelo silêncio,

E dou-me conta que sou apenas eu neste inferno…

 

Viver é passar os dias aqui sentado a olhar o mar suicidado numa tarde de Verão,

Viver é passear-me com o teu caderno debaixo do braço esquerdo,

Onde guardo a tua carta de despedida…

E o teu pedido de partir,

 

E a fuga é uma miragem com vista para o mar…

 

Assombrado,

 

Reconheço que da tua ausência nasceu um poema parvo,

Tão parvo que tenho vergonha de o transcrever para o papel…

 

Encerro docemente o caderno na minha mão e escondo-me de ti.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 11 de Julho de 2017