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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Todos os dias

 Todos os dias,

Estas tristes janelas se encerram,

E o sol…

Esconde-se nos arbustos do cansaço,

Todos os dias,

Há luar na minha noite,

Todas as noites,

Há palavras nos meus tristes lábios,

Todas as horas,

Todos os dias,

A solidão dos dias,

A solidão das horas,

Quando um velho relógio

Se esconde na alvorada,

Um transeunte invade o jardim do sonho…

E as minhas acácias morreram de saudade,

Todos os dias,

Dias em pequenos voos sobre o mar,

Todas as horas,

Todas as palavras,

Todos os dias em delírio…

Nas nuvens encarnadas,

Depois,

O sangue laminado

Jorra na planície do medo,

As janelas encerradas,

A padaria fora de serviço,

O café amargo…

Entre dias,

Depois dos dias,

Nas horas sem dias…

E pergunto-me

Quando acordam os cisnes do teu olhar,

Sabendo que todas as janelas,

Todas as horas,

Todos os dias,

Minutos,

Segundos de nada…

Deste calendário envenenado,

ENCERRADO.

 

Alijó, 22/09/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O trigo silêncio da madrugada


Serás a eterna folha de papel,
a pele húmida da tempestade que me embrulha quando cai a noite na eira de Carvalhais,
oiço o espigueiro atrapalhado no interior das canções de um sino em delírio...
oiço a tua ofegante voz quando tentas tocar-me... e foges, e desapareces no trigo silêncio da madrugada,
serás a eterna folha...
onde vou escrever os meus beijos, onde vou escrever as minhas caricias e os meus desejos,

Serás o rio onde me vou sentar,
os socalcos seios onde poisarei a minha cabeça...
depois... depois de acordar,

Serás a migalha de prazer que deambulará numa cama inventada,
os lençóis de seda que as tuas mãos aprisionam..., os sótãos do amanhecer,
e os gemidos quando és penetrada,
serás o luar,
e os versos ensonados das manhãs de liberdade,

Serás a eterna folha de papel,
a tinta ensanguentada dos orgasmos poéticos,
serás a eterna claridade dos espelhos de brincar,
o carrossel de uma cidade..., o cansaço de uma noite de amar,
serás o trapézio que se esconde na ardósia da tarde...
… a geometria nocturna de um corpo entranhado pelo poeta sem nome!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 8 de Agosto de 2014

domingo, 15 de dezembro de 2013

pequenos nadas

foto de: A&M ART and Photos

a minha cidade despede-se do teu corpo em decomposição
um putrefacto sorriso acorda nos lábios da solidão
a minha cidade vive
como serpentes dentro de um aquário
a minha cidade é um corredor sem saída...
a minha cidade vive
e escreve nas paredes do medo
o silêncio prometido

a minha cidade és tu
nua despida em pedaços de leito das avenidas perdidas
a minha cidade dança
tem mãos de seda
e seios de indefinidos sons com abraços de musicalidade em palavras vãs
vãos de escada em sofrimento desejando o trono da fortuna
nua
tua mão singular no meu peito plural

o pronome avança contra o néon de sémen
e os telhados da minha cidade
ardem
como loiros cabelos suspensos nos arames do suicídio...
a minha cidade é uma puta com edifícios escumalha em lãs madrugadas
ovelhas
cabras...
e... e pequenos nadas.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 15 de Dezembro de 2013