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sábado, 28 de outubro de 2023

Mundo

 Este mundo onde habito

E não me apetece habitar

Neste mundo onde caminho

E não me apetece caminhar,

Tão pouco, ver o mar.

 

Este mundo desalinhado

Podre e triste,

Frio e escuro,

Este maldito mundo apedrejado…

Deste mundo nunca visto,

 

Neste mundo desejado.

Este mundo onde habito

E não me apetece habitar,

Onde crianças morrem,

E os adultos…, e os adultos são proibidos de sonhar.

 

 

 

28/10/2023

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Grito

 Eu aqui

Sentado

Preocupado com a vidinha

… e milhões de crianças

MORREM

Eu aqui sentado

Fumando

Bebendo

Bebendo o que fumo

E fumando o que bebo

O que não bebo

E o que já bebi

Escrevendo merdas

Lendo merdas de engenharia

E chateado

Quase em combustão

Eu aqui

Sentado

… e milhões de crianças

MORREM

Como se fossem um apagão

 

Uma fogueira em desordem

Um Deus que olha milhões de crianças que…

MORREM

E ele

Feliz

Como eu

Fumando

Bebendo

Bebendo o que fuma

E fumando o que bebe

O que não bebe

E o que já bebeu

Coitado de Deus

Coitado

Está velho

Como eu

 

Eu aqui

Sentado

Escrevendo de perna cruzada

Fumando

Bebendo

Olhando pela janela

E nada

Ninguém

Um tremor de terra

Ou uma explosão

Puro silêncio

Virgem

Como a lã

 

Aqui eu

Cá estou eu

Sentado

Escrevendo

Bebendo

Fumando…

… e milhões de crianças

MORREM

Desaparecem como mortalhas em dias de neblina

 

Sentado

Eu aqui

Por aí

Porque sim

Escrevendo

Lendo

Bebendo

E fumando

As palavras

Depois as letras

E finalmente

Enrolo toda a pontuação

E vou-me

Vou-me para S. Martinho do porto

Com a minha amada

 

Eu aqui

Sentado

Preocupado com a vidinha

… e milhões de crianças

MORREM

Eu aqui sentado

Fumando

Bebendo

Bebendo o que fumo

E fumando o que bebo

O que não bebo

E o que já bebi

E de todas as coisas visíveis e invisíveis

Ele acorda

Abre os olhos

Olha-me…

- Foda-se

Escrevendo

Pintando

Fumando

Desenhando o que pinto

Às vezes

Pintando o que bebo

E bebo

Tudo aquilo que escrevi…

(É com cada moca)

Coitado

Coitado dele

Está velho

A ficar doido

Sem cabelo

Coitado de Deus

Coitado

 

Preocupados com a vidinha

… e milhões de crianças

MORREM

 

 

26/09/2023

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

A esta hora

 A esta hora milhões de coisas acontecem

Milhões de corpos se saciam na sombra do desejo

Milhões de pássaros

Voam sobre o mar

A esta hora

Milhões de coisas acontecem

Milhões de estrelas morrem

Milhões de estrelas nascem

Milhões de coisas

Ou coisas de milhões alguns

Milhões de luas

Milhões de planetas

De cores em milhões

 

A esta hora

Milhões de beijos acordam

Milhões de bocas comem

Milhões de olhos choram

A esta hora

Milhões de tostões

Que roubam a hora do milhões

A esta hora

Milhões de mãos se entrelaçam

Milhões de casas dormem

Milhões de casas acordam

A esta hora

 

Milhões de crianças sofrem.

 

 

18/09/2023

Francisco

quarta-feira, 24 de maio de 2023

Paisagem de Inverno

 

(desenho de Francisco Luís Fontinha)

 

 

Não tínhamos nada

Do nada que tínhamos.

 

Tirando isso

Éramos todos felizes,

Eu desenhava e escrevia à porta de casa

(fazia poemas e desenhos ao domicílio)

Ela

Ela vendia cigarros para engordar

E lembrei-me logo

Se eu estou tão magro…

Vai uns cigarrinhos…

e…

nada,

 

Fumei

Fumei

Fumei

Sempre magro e elegante como um varão de aço

Quatro ferros de dezasseis

Oito ferros de doze

Nos estribos ferro de seis

Afastados dez centímetros,

 

Sentava-me

A menina passava

Olhava-me

Sorria-me

E…

Faça-me um poema

Meu artista…

Que artista sei que fui

Que artista sempre serei

De várias artes

De vários ofícios,

 

E lá lhe fiz o poema…

Menina

Desculpe

É para o seu namorado

Ou

Namorada?

É para a minha amada,

Compreendi

Perfeitamente

Vamos recomeçar a aula,

 

Então é assim,

 

 

Dos teus olhos aquela paisagem de Inverno

 

 

Abraçava-te na lentidão de um relógio invisível

Abraçava-te tanto

Que nos perdíamos dentro de um cortinado de sono

Abraçava-te e mexia no teu cabelo de silêncio

Enrolava-o no dedo

E sentia o meu seio no teu ombro

Aos poucos

Morriam as horas

Mas muito antes

Já tinham partido todos os segundos

E todos os minutos

Apenas uma hora

Uma qualquer hora

Ficou junto a nós…

E poisou no teu púbis,

 

Abraçava-te sabendo que Deus desligou agora mesmo…

A luminosidade das cerca dos dez sextilhões de estrelas

Cem biliões de galáxias…

(e há parvos e parvas que julgam ser o centro de tudo, quando são o centro de nada)

Abraçava-te e ao mesmo tempo

Questionava Deus…

Porquê?

 

E dos teus olhos

Minha galáxia das manhãs em geada

Dos teus olhos

As primeiras lágrimas da tua pele…

E com medo que a única hora que tínhamos…

Morresse também

Beijo-te loucamente

Até que uma nuvem de luz poisou nos teus lábios

 

Da tua querida que te ama,

 

Olhe

Menina

Não tenho muito jeito para estas coisas

Mas…

Olhe…

Foi o que me saiu

Ela pega na pequena folha em papel

E enquanto lia

Percebi que no rosto dela…

Brincavam pequeninas gotículas de saudade…

Chorou

Olhou-me…

Perfeito

Quanto é?

Olhe

Pelo poema são cinco euros

E pela assinatura…

Quarenta cêntimos de euros

Pagou-me

E

 

O beijo

Constrói-se aos poucos

O beijo é como o acordar das borboletas

O beijo sai do poema

Salta a rede de vedação…

E procura incessantemente a boca…

 

Palavras

Palavras meu amor

Palavras

Dias

Noites

E mais palavras

Menos as outras palavras

O poema é assim mesmo…

É como o beijo

É como a chuva

Nem todos beijam

E quase todos se molham,

 

E troco palavras por beijos

Beijos por livros usados

Livros usados por outros livros usados

E troco o silêncio

E apenas

Por outro silêncio,

 

Chateia-me

Revolta-me

Saber que existem crianças

Que não são crianças como eu fui…

Eu

Que fui desejado

Que fui muito amado

E feliz

Ainda eu

Às vezes

Me queixo da puta da vida…

E que dirão estas crianças da puta da vida e de um Deus pacientemente sentado numa pedra cinzenta a olhar-nos…

 

Não tínhamos nada

Do nada que tínhamos.

 

Não tínhamos nada…

Mas tínhamos tudo…

Tínhamos amor.

 

 

 

Alijó, 24/05/2023

Francisco Luís Fontinha

As crianças

 Um dia, o vento, um dia o vento será poema…

E dos teus lábios de mar,

Erguer-se-á a montanha.

 

Um dia, um dia a escuridão vestir-se-á dos teus olhos,

E deixará de haver noite,

E nunca mais haverá luar…

 

Um dia, um dia deixará de haver crianças pobres com fome maltratadas imundas analfabetas violadas e molestadas…

Um dia, um dia haverá só crianças. As crianças.

 

 

 

Francisco

24/05/2023

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Crianças

 Enquanto esta pequena folha de papel vagueia nos meus olhos,

Há crianças que morrem de fome,

De doença,

Pela guerra…

São os filhos da ganância,

São os filhos sem voz,

São os filhos da ignorância,

 

Enquanto olho esta pequena folha de papel,

Há crianças que são violadas,

Crianças maltratadas,

Enquanto escrevo nesta pequena folha de papel,

Há crianças,

Umas felizes,

Outras infelizes…

E há crianças mimadas.

 

 

 

Alijó, 18/05/2023

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Tempestade

 

Escuta,

Acredita que depois de uma tempestade,

Uma grande tempestade,

O Sol brilhará nos olhos da madrugada,

 

A lua crescerá nos lábios da noite,

E há uma criança que nos sorri…

Porque as crianças,

As crianças são o Sol de cada dia

E a lua de cada noite,

 

Escuta,

Não deixes que as tuas lágrimas

Sejam a rega daqueles que ficam felizes com a tua tristeza…

 

Escuta,

Ouve,

Caminha junto ao mar,

E quando perceberes,

O mar…

O mar estará poisado na tua mão.

 

 

Alijó, 10/01/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Instante

 Primeiro levaram todas as crianças da montanha

Depois levaram todas as árvores e todos os pássaros

Num final de tarde

Levaram as pedras e todos os animais

Caiu a noite

E levaram a lua e todas as estrelas

 

E roubaram a noite

 

E aqui estou

Perdido nesta montanha de insónia.

 

 

 

 

 

Alijó, 05/12/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 10 de abril de 2022

Querido imbecil

 

Quando um imbecil cortas as asas a um pássaro,

Ele,

Não voa,

Mas um pássaro sem asas, sonha e,

Voa.

 

Quando um imbecil corta o sorriso às tuas flores,

Elas, choram, elas ficam tristes,

Mas uma flor sem sorriso,

Sonha e,

Alegra o dia de uma criança…

 

Quando um imbecil diz que as tuas palavras são nadas,

Que as tuas palavras são asas cortadas,

Quando as tuas palavras são tempestades…

Quando um imbecil diz que és apenas uma montanha,

Um pássaro de asas cansadas.

 

 

Alijó, 10/04/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

As três sílabas do sono

 

São estas pedras,

Onde me sento e te suplico,

As três sílabas do sono;

O medo,

A saudade,

A solidão.

 

São estas pedras,

O silêncio que alimenta a noite,

A escuridão das estrelas,

Quando se ergue o beijo,

Quando se deita a manhã…

Quando morre um relógio de pulso.

 

São estas pedras,

O corpo que brinca na montanha,

A criança que corre,

A criança que chora;

São estas pedras,

As pedras sem hora.

 

 

Alijó, 08/02/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Tela invisível


Penso em ti,

Pareces um desenho cansado numa tela invisível,

Sofres em silêncio para eu não perceber,

Finges que o mar habita o nosso quintal,

E que está tudo bem…

Claro que não está tudo bem…

O trânsito é infernal dentro dos nossos corações,

As ruas são estreitas, pequeníssimas…

Como as ruas de brincar dos brinquedos das crianças,

Choras,

Choras na escuridão para que eu não perceba…

Mas sabes que eu dou conta de tudo,

Conheço o teu cabelo quebradiço,

Conheço o teu rosto de granito e xisto…

Em direcção ao rio,

Penso em ti…

E não sei o que será de mim sem a tua presença…

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 19 de Setembro de 2017

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Escolho-te


Escolho-te pelas desventuras dos segredos proibidos.

Escolho-te pela vaidade das madrugadas sem dormir,

Quando no horizonte se esconde uma andorinha selvagem, triste, sonolenta…

Escolho-te pelas nuvens de prazer que sobrevoam as cidades desertas, e cansadas.

 

E dos fantasmas as alegrias do teu olhar,

Escolho-te pela luminosidade da alvorada antes de acordar,

Golpeando a terra abandonada,

E fria da solidão…

Escolho-te porque nascem estrelas no teu sorriso de silêncio adormecido,

Quando não vêm as lágrimas do destino.

 

Escolho-te quando na minha mão poisas, brincas, saltitas como uma criança.

Escolho-te nas tempestades do deserto,

Ou nas ribeiras descendo a montanha…

E quando te escolho… acorda o dia no meu relógio sentado à lareira.

 

 

Francisco Luís Fontinha

23/11/2016

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Crianças de luz


Não penso
não imagino as palavras semeadas nos relvados da saudade
não penso
não durmo
acreditando nas marés de vidro
descendo da montanha
imagino...
riscos suspensos na alvorada
crianças de luz gritando pela liberdade
e nada
nem ninguém
nas ruas desta cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 28 de Fevereiro de 2015

sexta-feira, 16 de maio de 2014

amanheceres triangulares


dizem-me os teus olhos
pequeníssimos lençóis de solidão
fios de seda em desejo coração
manhãs adormecidas e sem poiso
dizem-me os teus olhos
que há madrugadas quadriculadas
e amanheceres triangulares
dizem-me...
quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada
e uma criança abandonada
aprisiona o teu olhar e me diz...
o que dizem os teus olhos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

terça-feira, 15 de abril de 2014

sonhos com sabor a papel...


nos teus lábios habita o solstício da paixão
sinto o odor cansado do teu cabelo voando sobre as sombras da solidão
há lágrimas no teu sorriso
há insónia na tua noite construída de trapos e cortinados negros
e dos teus olhos
o silêncio das caricias desenhadas pela mão de um coração
sinto-o
e oiço-o
como os sonhos que vivem dentro de mim
nos teus lábios habita o sofrimento envenenado
e lá fora alguém grita o teu nome
sons metálicos cambaleando sobre a dor
traços
triângulos
círculos com olhos verdes
nos teus lábios a imagem da criança em pequenas viagens
espera pelo machimbombo
um homem puxa-o com um cordel imaginário
e de rua em rua
e de casa em casa
leva mangas e cacimbo e capim
tem nas mãos a dócil fotografia de uma cidade perdida
o mar alicerça-se às pernas do menino...
a criança vê nos zincos telhados outros meninos
meninas
e sonhos como os dele...
sonhos com sabor a papel...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 15 de Abril de 2014