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terça-feira, 26 de março de 2024

O sorriso de uma criança…



Nada mais belo que o sorriso de uma criança.

Nada mais belo que uma manhã de sol, fria, e o sorriso de uma criança…

 

Hoje quero ser criança,

Brincar de mão dada com os pássaros da manhã,

Inventar o abraço no loiro silêncio de um qualquer jardim.

 

Hoje quero ser criança,

Como todas as crianças…

 

Um sorriso.


Nada mais belo que uma mãe a afagar o sorriso de uma criança! 

 

(Francisco)

sábado, 10 de junho de 2023

As estrelas das minhas mãos

 

Vou por aí, andando e pensando, quando me dizem que não devia pensar, porque um tolo não pensa, porque quem pensa, é um tolo pensante…

Vou, vou andando e por aí… ao som de Black Magic Women,

Vou por aí, andando e pensando, pensando e voando… e enquanto voo, eu penso, penso que se não existisse a gravidade, que se diga, não era grave, no entanto, eu penso,

Que não precisava de asas para voar, não, nada disso, penso que…

Em tanta coisa que penso,

Mas penso.

E que sim, que avencem as tropas de Santarém em direcção ao Terreiro do Paço,

Sentava-me e pensava, e contava todos os cacilheiros que invadiam os meus olhos, meu Deus, eram tantos e tantas…

Para a frente,

E para trás,

Uns eram cegos, outros eram lindos… e outras,

Outras pareciam uma pequena bolha numa mísera folha de alumio, no entanto, muito depois, o AL, perceba-se, símbolo químico do alumínio, em criança…

Sabíamos na ponta da língua qual era o símbolo químico da navalha,

K2ou3,

As tropas de Santarém estão a fazer a aproximação ao Terreiro do paço, e eu, e eu aqui sentado em frente ao Terreiro do Paço, como se fosse uma criança com cabelos compridos e loiros…

Nada de bom tenho, pensava, do pouco que me sobeja, não me sinto… digamos, discriminado,

Tenho mais sonhos sonhados do que a maioria de todos estes cacilheiros, e mesmo assim, querem que eu seja…

Deus.

Raio.

E se Deus quiser, um dia, qualquer dia, tanto me faz… o dia, desde que seja de noite, com luar, sem luar…

As tropas começam a desenhar sorrisos nos lábios da noite, eu tinha ficado por aquelas bandas, talvez tivesse adormecido num qualquer banco de jardim, não seria a primeira vez,

E a bolha, como os cacilheiros, dançava nas mãos de uma criança, que não gostava que as acácias chorassem,

Mas elas, teimosamente,

Choravam.

Vou por aí, andando e pensando, quando me dizem que não devia pensar, porque um tolo não pensa, porque quem pensa, é um tolo pensante…

E tanto as tropas como eu, estávamos a cagarmo-nos para o tolo, se pensava ou não pensava, se fodia ou não fodia, e a maior parte das vezes, era fodido,

Escrevia cartas durante a noite, para a noite. Eles e elas e os cacilheiros…

Indiferentes que eu tivesse dormido num banco de jardim.

Erguia-me, olhava-me no espelho da manhã, desenhava com um lápis de cor um pequeno sorriso na mão, e voava…

Quando nos teus braços, já as tropas de Santarém colocavam as algemas nos teus lábios,

Um baixote, muito baixo e muito gordo, que agora é proibido de dizer e de escrever,

Mas claro, eles querem que eu me foda, e claro também, eu, eu quero que eles se fodam,

Nomeadamente quando esse mesmo baixinho e gordo das tropas de Santarém informa a madrugada,

Alô, comando territorial do sono,

Lisboa é nossa.

Bravo, bravo…

Que sim. Que felizes eles estavam…

E eu, dormia num banco de um qualquer jardim da cidade dos sonhos.

Abraçava o Tejo, o Tejo abraçava-me, e sabíamos que numa qualquer manhã daquela Primavera… morreria a insónia.

Por aqui, cacilheiro número três mil e oitocentos, calça quarenta e quatro,

E na boca,

Na boca esconde um pedaço de sargaço.

Somos muitos, ouvia-os, e mesmo assim, não aconteceu nada…

Vou por aí, outras vezes por aqui, e de tolo em tolo, tínhamos tomado a cidade dos sonhos e toda a cidade era apenas nossa,

Não acreditava em janelas, não acredito em Deus,

E às vezes, converso com Deus…

E que não devia pensar, e que sou um tolo pensante, penso,

Penso como apareceu toda a matéria do Universo, toda ela concentrada num pequeno espaço como o da cabeça de um alfinete, e claro, eu acredito…

Eu acredito.

No entanto, o tolo que pensa, pensa

Quem colocou toda a matéria do Universo dentro daquele pequenino espaço do tamanho do da cabeça de um alfinete?

Claro que não foi Deus, porque naquela altura, certamente

Andaria muito ocupado.

Mas penso.

E admitindo que numa qualquer tarde, enquanto Deus se deliciava com o seu cigarro, ele, ele resolvesse colocar nesse mesmo pequenino espaço do tamanho do da cabeça de um alfinete,

Toda a matéria,

Será?

E toda a matéria, de onde veio?

Das mãos das tropas de Santarém que agora mesmo tomaram Lisboa aos cacilheiros,

Que porra.

O alfinete de tanto esperar, dizem que Deus é tão perfeito e ao mesmo tempo,

Muito vagaroso,

Diferente

De preguiçoso,

O desgraçado do alfinete, espirrou… um grande espirro…

E voilà,

E definitivamente

É criado o Universo,

Há bebidas grátis, há porco no espeto…

Claro que as coisas menores,

Aos poucos,

Foram crescendo no arvoredo da tarde.

Por aqui, por aí,

Os tolos que pensam, são os mesmos tolos que Deus enviou para Marte.

E até hoje,

Ainda não regressaram, nem regressarão mais.

Para concluir, senhor professor, diria que toda a matéria que existe no Universo veio do nada,

Portanto,

Do nada,

Um pouco de anda,

Poderá nascer tudo,

Acredita nisso, Francisco?

Acredito, professor, acredito…

E há quem duvida de toda a beleza criada por Deus…

E há quem duvide da existência de Deus.

 

 

 

 

Francisco Luís

Terreiro Paço, 10/06/1013

(ficção)

quinta-feira, 25 de maio de 2023

O poeta de Deus

 

(feliz dia de África)

 

 

Não sei,

Não sei como será o Inverno

No Inferno,

Não o sei…

Mas… quem o saberá?

Farto-me de escrever poemas a Deus…

E Deus está literalmente a cagar-se para mim,

Não me importo,

Quero lá eu saber de Deus,

Tal como ele,

Quer lá Deus saber de um tal de Fontinha…

 

Não o sei,

Quem o saberá…

Vocês sabem como será o Inverno no Inferno?

E de um tal de Inferno disfarçado de Inverno?

Não, não me interessa…

Em criança, até um determinado período da minha vida…

E que vida,

Meu Deus,

Que rica vida eu tive…

Não sabia o significado de Inverno.

 

E era muito feliz!

Muito mesmo…

Tão feliz que…

No meu Inverno,

Trazia os meus calções e as minhas sandálias de couro…

Que couro, meu Deus,

Que calções…

E quer lá saber Deus dos calções e das sandálias…

Deus,

Deus passa todo o seu tempo a escrever poesia…

Entre calções,

Tão feliz que fui…

Muito feliz,

E do meu Inverno,

Que Inverno,

Aquele meu Inferno,

De aprender o significado de Inverno…

Quando eu…

 

Tudo esqueci,

As sandálias, os malditos dos calções, o Mussulo, tudo,

Tudo mesmo.

Durante muitos anos,

Muitos mesmos,

Queria perguntar ao meu pai porque choravam as acácias da minha infância…

E tudo,

Já não me lembrava de nada…

Apenas…

Machimbombo…

Que coisa, esta, do Inverno ser Inferno…

E Deus, o poeta, ser tudo…

Tudo o que não fui,

Tudo o que não quero ser,

Ser o quê…

Mais um, por aí…?

 

E chorei.

E chorei sem perceber que chorava…

Que apenas me recordava,

De ter chorado,

Não porque me apetecesse chorar…

Mas chorava,

Tinha medo de me perder,

E um dia, perdi-me, por aí…

Um dia, meu Deus…

Um dia…

Chorava porque tinha frio,

Chorava porque tinha medo,

Chorava porque me sentia só…

Qualquer coisa que nasceu comigo, não me pertencia…

Tinha morrido,

E até hoje,

Hoje… nada,

Até hoje não sei a coisa que morreu,

E que até hoje,

Não consigo dizer que coisa é essa…

E se não há coisa,

Não haverá cadáver,

Nem haverá crime…

 

(peço desculpa pela ausência, mas assuntos do foro privado chamavam-me)

 

A minha mãe,

Coitada da minha mãe…

Tal como eu,

Também ela chorou muito…

Muito…

Éramos assim…

Como deslocados,

Ausentes de corpo e alma,

Não,

Nunca acreditei na existência da alma…

Nunca.

A minha mãe,

Coitada da minha mãe…

Eu chorava,

E eu sabia que a minha mãe chorava porque eu chorava…

Éramos ausentados,

Deslocados da terra e do primeiro pigmento de cor…

Abraçava-me a ela,

E ela mentindo-me, dizia-me… um dia, um dia meu filho…

Um dia tudo vai melhorar…

 

Um dia,

Um dia cairá chuva na minha mão,

Um dia,

Um dia…

Não sei,

Não sei como será o Inverno

No Inferno,

Não o sei…

Mas… quem o saberá?

Farto-me de escrever poemas a Deus…

E Deus está literalmente a cagar-se para mim,

Não me importo,

Quero lá eu saber de Deus,

Tal como ele,

Quer lá Deus saber de um tal de Fontinha…

Ou do Inverno no Inferno,

Do Inferno a infernar o Inverno…

Quer lá ele saber…

A não ser…

Que Deus seja accionista do Inverno e credor do Inferno…

Ó pá,

Deus é comunista…!

Deus não é nem nunca será capitalista…

 

Veremos, um dia…

Um dia, um dia veremos.

 

 

 

Francisco

25/05/2023

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Criança

 

(acrílico s/tela. 70cm x 100cm)

 

 

E de encanto em encanto,

Ao triste momento,

Quando o desalento…

Sem tempo, traz o vento…

 

E abraçado ao vento,

Esta pobre criança sem alimento,

Brinca, sonha e chora… quando esta criança em sofrimento

Se esconde nos teus olhos de encanto,

 

Quando esta pobre criança sem alento,

Acorda do sono em pensamento,

E de encanto em encanto…

Esta pobre criança… é a criança do momento.

 

 

 

Alijó, 01/05/2023

Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de abril de 2023

Amar

 Não mates

Não mates a criança que brincava dentro de ti

No bairro da Vila Alice

Ou no Madame Berman

Não mates a criança que brincava

Comigo

Quando nos perdíamos às escondidas

Debaixo do sombreado das mangueiras,

Lembras-te?

De quê, mãe?

Quando desenhavas no olhar

O perfume das mangas

E ficavas sentado… eternidades

Ainda o consegues desenhar?

Não, mãe…

Perdi o traço do perfume das mangas

Já não sei desenhar o perfume das mangas, mãe…

 

Não mates

Não mates meu querido filho

Não mates a criança que brincava dentro de ti

A criança que era apaixonada por barcos

Que amava as estrelas do tecto do quarto…

As estrelas que falavam, mãe?

Sim, claro, essa mesmo…

E chegavas lá

Sentavas-te na cama…

E adormecia, mãe

Adormecia enquanto elas me contavam estórias

E faziam comigo brincadeiras…

Tantas brincadeiras, mãe

 

 

Não mates

Não mates a criança que brincava dentro de ti junto ao Baleizão

Oferecíamos-te gelados

Não gostavas

Oferecíamos-te sumos

Não gostavas

Oferecíamos-te rebuçados

Não gostavas

Oferecíamos-te chocolates

Agora gosto, mãe

Agora como chocolates,

Eras um ranhosinho

É ranhosinha, mãe

Ranhosinha…

Não mates

Não mates o meu menino

Não mates a criança que brincava dentro de ti

E construía papagaios em papel

E coisas

E muitas coisas

Mas… mãe?

Sim?

És tolo

Eu sei, mãe

Eu sei

 

Não mates

Não mates a criança que brincava dentro de ti

Aqui

E ali

Não

Não meu querido filho

Não mates essa pobre criança

Das brincadeiras

Não a mates

Mas, mãe?

Sim…

Que criança é essa que brincava dentro de mim, mãe?

É a vida, meu filho

A vida…

A vida?

O que é viver, mãe?

Viver, meu filho…

Viver é amar

Amar.

 

 

 

Alijó, 29/04/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Flor do teu cabelo

 Se o vento vier, se o vento me escutar,

Pedirei ao vento …

Tempo,

Pedirei ao vento os olhos da menina do mar.

 

Se o vento vier, e trouxer uma flor

Na eterna flor em teu cabelo amordaçado,

Deixo nos teus lábios um recado…

Dos teus lábios de amor.

 

Se o vento vier, se ele vier um dia,

Peço ao vento que faça do meu rio de esperança…

Um rio de poesia,

 

E que o vento me deixe viver,

Viver como uma criança,

Uma criança sem sofrer.

 

 

 

Alijó, 24/04/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 29 de janeiro de 2023

Sorriso

 No sorriso de uma criança

Cresce uma flor imaginária,

Invisível como a lua em dias de silêncio,

Que conta estórias em pedacinhos de mar…

 

Do sorriso de uma criança,

De todas as crianças,

Acorda o sol desenhado por Deus,

 

No sorriso de uma criança,

Brincam as manhãs…

Todas as manhãs,

Que uma criança,

Transporta no olhar.

 

 

 

 

Alijó, 29/01/2023

Francisco Luís Fontinha

domingo, 30 de outubro de 2022

Daquela noite o abraço teu

 



Ninguém gostava de nós.

Éramos árvores

Plantadas no silêncio do mar

E tínhamos sempre uma criança

Que nos abraçava quando regressava a noite.

 

 

Alijó, 30/10/2022

(texto e quadros de Francisco Luís Fontinha)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Depois, a maré ensanguentada, morre de alegria.


O regresso nunca mais.
A terra húmida, depois das lágrimas da tarde,
Ficou lá, no outro destino do menino dos calções.
Todas as sombras, choram, ditam palavras aos esqueletos de silêncio,
Que as mãos, trémulas, seguram, enquanto cai a noite,
O corpo, levita, desassossega na madrugada,
Sente-se o vento, negro, prateado, nos lábios do Diabo,
O regresso…
Nunca, nunca mais,
Porque a solidão namora as flores em papel, do jardim imaginário.
E o menino, com o tempo, cresceu.
Um relógio de luz, quando acorda o menino,
Alicerça-se nos braços lânguidos que o espaço alimente,
Dos calções, nada, nem a cor se aproveita,
Talvez, as árvores, as árvores plantadas por ele,
Hoje, nada, como os calções,
Pedaços em madeira, trapos, lágrimas desajeitadas…
Tudo, tudo morre, naquela terra prometida.
O mar, enfurecido, sacia-se nas rochas metamórficas do cansaço,
Um barco, espera pelo menino dos calções,
Estaciona-se junto à cidade,
Homens, marinheiros, mulheres, sem fazerem nada,
Espera que regresse o menino,
De longe,
De nada,
Ninguém.
O regresso nunca mais,
A terra húmida, depois um finíssimo fio de nylon,
Procura na multidão da cidade, o menino prometido,
Da terra sonâmbula,
Que o viu perder-se,
No meio do capim.
Machimbombos tropeçam nas finas lâminas da saudade,
Porque apesar de tudo, sempre, o menino, viveu na saudade,
De regressar, um dia,
À sua cidade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
03/02/2020

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

As mãos de uma criança


Perde-se no tempo o sonho da saudade.
Invento coisas, pequenas frases suspensas nos cortinados da solidão,
E, ao longe, a camuflada madrugada em desespero.
Dizem que ela, a tempestade,
Vem alicerçar-se nas janelas do silêncio,
Como um livro desempregado, só, triste…
Invento coisas.
Perde-se no tempo o sonho da saudade.
O alegre canino, que habita nas sombras desta velha cidade,
Corre em direcção ao mar,
Veste-se de veleiro vadio,
E zarpa sem ninguém dar conta da sua ausência.
Fico triste, vê-lo partir como partem os pássaros para a outra margem,
Sem destino,
Sem rumo,
Rodopiando dentro do vento,
Canções de chorar.
Levita o cansaço da noite,
Quando o dia já pertence ao passado,
Morre nas mãos de uma criança,
E jamais acordará em mim.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
20/01/2020