Mostrar mensagens com a etiqueta cereais. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cereais. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Transeunte faminto


O que faz a palavra na mão do transeunte faminto;

Comerá a palavra o transeunte faminto?

Comerá o faminto transeunte a palavra?

E se forem muitas palavras?

Muitos livros?

Como ficará o transeunte faminto!

 

Eu escrevo palavras.

Confesso que já tive fome.

Confesso que já me apeteceu comer as minhas palavras.

Mas fui infeliz ao cultivá-las!

 

Como quem cultiva o cereal e depois, da colheita,

Não tem coragem de comer o pão do cereal que cultivou.

 

Um livro come-se na madrugada.

Folheia-se no infinito deserto do pensamento.

Um livro não se como.

É indigesto durante a noite.

Um livro só é comestível quando se faz amor na madrugada.

Quando os pássaros poisam no peito da amada.

E o livro, ao poucos, em pedacinhos, como as migalhas da manhã…

Desparece no estômago do transeunte faminto.

 

Assim, para não me zangar com o vento,

Semeio palavras no meu jardim.

 

E sou tão feliz assim!

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

14/10/2019