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sábado, 1 de julho de 2023

Anónimo

 Habito,

Habito dentro deste cadáver emprestado,

Fingindo que este cadáver emprestado,

Me pertence,

Não,

Este cadáver emprestado,

Nunca,

Nunca me pertencerá,

 

Habito neste planeta de enganos,

De estrelas mortas

E de mortas

Palavras,

Não,

Este cadáver não me pertence…

E terei de o devolver…

E terei de desenhar na minha mão

Um outro cadáver

Com um outro nome,

 

Habito,

Habito dentro deste pequeno círculo,

Que me rouba o sono,

Que não me dá fome…

Habito,

Habito dentro deste livro que escrevo em segredo,

Sem palavras,

Sem medo…

Apenas desenhando silêncios…

E rochedos,

 

Habito,

Habito dentro deste cadáver,

Que não me pertence,

Que nunca me pertenceu…

E sofro,

Muito…

Porque preciso de o devolver…

E não sei a quem pertence.

 

 

 

01/07/2023

Francisco

quarta-feira, 26 de março de 2014

Os cadeados invisíveis do desejo


Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,
vives pedindo-me palavras, vives... regateando silêncios entre carris de aço,
dizes-me que sou um cadáver embriagado,
triste... triste e sem cansaço,
sem o cansaço pedestal do azoto,

Dizes-me que amanhã não há paixão,
que todos os rios são solitários e casmurros, e... e sem mãos para as caricias do amanhecer,
sinto-te embalada no gatilho do incenso coração,
sem a espingarda neblina teu olhar, sem... sem flores a envelhecer,
e mesmo assim, dizes-me que sou um transeunte envenenado pela solidão,

Dizes-me que sou a tua nuvem colorida,
mas apenas o dizes quando te convém,
dizes-me que na madrugada nua...
não há nada, nada, nem ninguém,
porque me dizes ser eu uma estrela de algodão?

Dizes-me que não entendo os teus lábios em puro cristal,
que sou desastrado, ingénuo... que sou um falhado,
que sou o teu livro do mal...
como petroleiros da insónia esperando o marinheiro apaixonado,
como o triste vagabundo... no Inferno da cidade dos canibais,

Dizes-me que a noite é uma construção em néon adormecido,
pergunto-te se nos teus seios habitam jasmins, amoreiras... rosas encarnadas,
respondes-me que não, e dizes-me que há em ti o sorriso envelhecido,
como gelatina encaixotada nas janelas desalmadas,
e depois, depois... desapareces entre as rochas e os cadeados invisíveis do desejo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Março de 2014