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quinta-feira, 20 de abril de 2023

Barco de amar

 Ando às voltas

Com este barco que deixou sonhar,

Deste pobre barco de grandes revoltas…

Nas revoltas do mar.

 

São pequenos círculos de encarnado sorriso,

São marés e ventos,

São homens sem juízo,

São homens de poucos lamentos.

 

E este barco, este pobre barco… que a poesia quis amordaçar…

Este barco sem dia,

Este barco escondido no luar

 

Quando da noite acorda a lareira.

Deste pobre barco de triste melodia…

Nos olhos de uma singela ribeira.

 

 

 

Alijó, 20/04/2023

Francisco

domingo, 1 de janeiro de 2023

A prisão do mar

 Da prisão

À da alma quando a vendes ao diabo

Na prisão de ventre

Da prisão dos braços

E das palavras que brincam nos teus braços,

 

A prisão sem pão

À prisão com pão

Tudo é prisão

Tudo

Tudo é uma prisão

Da prisão ao salário

Do salário às nuvens

A prisão do mar

Na prisão de um barco

Um barco preso no mar

Do mar sem salário,

 

A prisão da chuva

E do vento que transporta a chuva

Depois temos a prisão da lua

Do luar

E do corpo que dorme no luar,

 

À prisão do corpo

Quando este corpo semeia no teu peito

Uma prisão de silêncio

Numa prisão de desejo

E se o desejas

Prende-te ao desejo

Acorrenta-te às sombras que a noite deixa nos seios dela,

 

A prisão vaginal das manhãs sem poesia

À prisão do poema

Quando o poema

Dorme na tua cama

Dorme em cada dia,

 

E se a tua cama for um livro

Um livro com um só poema

Um poema

Uma mão

Quando te masturbas na madrugada,

 

Tudo

Tudo é uma prisão

Ou uma não prisão

De nada

Ou com tudo

Que a prisão aprisiona o teu pensamento,

 

A prisão de uma lareira

Quando um pássaro vadio canta à tua janela

E o pássaro sem pão

Pede-te que o libertes

Libertes da prisão

Na prisão deste mar,

 

A prisão dos teus mortos

Em uma prisão de fotografias

Na prisão de um álbum

À prisão numa pequena caixa de sapatos

Na prisão de uma lápide

Quando a lápide é uma prisão

De quatro pedras graníticas

Sem sol

Sem nada;

Uma prisão enganada.

 

 

 

 

 

Alijó, 01/01/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Deus do mar envenenado

 Se eu pudesse ser

Eu era

Barco ou caravela

Nuvem foguetão

Poeta sem escrever

Se pudesse

Eu ser

Que eu seria

Não sei bem o que queria ser

Mas nunca seria

Ser

Ser o que eu sentia.

 

Se eu pudesse

Meu Deus do mar envenenado

Eu queria ser

Ser árvore porta-aviões ou poeta desamado

Sendo não ser

Ser um esqueleto enforcado.

 

E se eu pudesse

Ser eu o vento

Aquele vento que levanta do chão

A pobre enxada

Do rico camponês…

E se eu ainda o quisesse

E pudesse ser

Ser sem saber

Que um pobre coração

Voa até à lua de ser

Porque não sendo o querer

Também não o serei querendo

Que ser

Ou não ser

Ser o poeta.

 

E sendo eu o vento

Ou uma pedra de adorno

Prefiro ser gente

Do que ser…

Do que ser (morno).

 

Se eu pudesse ser

Sabendo que depois o era

Sem perceber

Ou saber

Como se constroem as canções de Inverno,

 

E sendo hoje a lareira da noite

Onde já queimei os braços

Agora as pernas…

E mais logo o restante esqueleto

E à chegada do autocarro

O pobre viajante

Sem bagagem

Ou esperança de o ser

Porque não o sendo

E o querendo

O rio corre sempre para o mar

O mar que está a arder.

 

E depois vem a traineira

Do querer

E a do saber

Nunca sabendo

Sem o saber

Que querer

Se pudesse

Ser

Ou não ser…

Este vagabundo poeta do amanhecer.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 21/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 1 de agosto de 2017

A janela com vista para o mar


Uma janela com vista para o mar,

O barco da despedida espera-me, e brevemente estarei nos teus braços,

Um livro recheado de imagens a preto-e-branco,

Renasce na tua mão. Posso manuseá-lo, mas perco os desenhos imaginados pelo louco autor das searas imaginárias,

Enquanto o trigo se despede da planície…

 

Eu brinco com o teu olhar escondido na sombra das árvores.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Agosto de 2017

sábado, 7 de março de 2015

As mãos de um sábado...


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


habito dentro deste livro inacabado
existo porque gritam as palavras
e os sonhos amargurados
não tenho tempo para olhar o mar
nem percebo o cheiro deste rio envenenado pelo silêncio
um cigarro
mal-educado
apagado
sessenta anos encurralado nestes socalcos sem nome
habito
dentro
do livro inacabado...

os tristes sorrisos das lanternas da solidão
vendo-me
vende-se
tudo
nada
coisas estranhas
esta calçada
viva
vivo
apagado
não tenho
o tempo

nem a vida
de marinheiro
sou um barco enferrujado
sou o aço triturado pelas mãos de um sábado...
apenas
outras coisas
como as simples janelas de uma prisão
prisão
a prisão
do meu falar...
habito
habitar no teu peito de livro encalhado.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Março de 2015

domingo, 13 de julho de 2014

Este poema com o nome de beijo!


Horrível,
este poema sem marinheiro,
feliz deste barco embrulhado no vento,
desgovernado,
só...
só... e em sofrimento,
faltam-lhe as palavras,
faltam-lhe... faltam-lhe os encantos dos murmúrios de Inverno,
este poema... filho do Inferno,
que arde na lareira do desejo,
horrível...
este poema com o nome de beijo!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Julho de 2014

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A banheira do prazer


Enquanto te absorves na banheira do prazer e te libertas das caricias minhas palavras,
eu, um incipiente nocturno das fábulas sem habitação, construo o teu corpo com a espuma imaginaria que poisa nos teus seios de marfim,
de escultor nada tenho,
e imagino-te pintada no poema cansado da madrugada,
enquanto te banhas e te absorves..., nada em ti eu desejo, porque a ténue luz do silêncio te come, e alimentas o olhar das personagens solitárias da cidade do caos...
a paixão embainha-se no cortinado que nos separa, eu de um lado, e tu... tu... mergulhada, molhada, à espera das minhas mãos sem rumo, como a geada quando esconde o sorriso dos loucos pássaros,
e eu, eu um incipiente nocturno das fábulas sem habitação,

Apaixonado?
talvez... talvez não,
porque sou um acorrentado ao cais dos sofridos beijos em noites de tristeza,
eu pregado à insónia?
talvez... talvez não,
porque não estando apaixonado, porque não sendo o perfume dos teus cabelos..., sou, sou um delinquente invisível do amor,
sou uma gaivota que levita quando desapareces do meu olhar e te transformas em rio,
e sei que o teu corpo fundeado na banheira do prazer... é um barco, um barco com nome de mulher...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 2 de Abril de 2014

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Gaivota embriagada

foto de: A&M ART and Photos

Sinto-me uma gaivota embriagada em busca do barco adormecido,
um livro perdido,
na tua mão,
esquecido,
na tua mão,
cansada de amar,
sinto-me o volátil nocturno inferno das canções ensonadas,
o velho e eterno... triste coração das estrelas apaixonadas,

Triste Inverno,
sinto a madrugada construída numa folha em papel,
triste, triste, não amada,
triste, triste... como todas as vozes caladas,
silêncios desertos em bosques de areia,
uma veia de aveia,
uma veia... uma veia sentido-se como eu, uma gaivota embriagada,
à procura de um barco, à procura do céu.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 9 de Fevereiro de 2014