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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Este poema

 


Ausento-me.
Enquanto ainda tenho beijos,
Enquanto ainda existem abraços,
Enquanto este relógio não pára de caminhar…
Ausento-me.
Enquanto este poema não morre.

Ausento-me.
Enquanto esta cidade não dorme,
Enquanto este rio não deixa de correr para o mar.
Ausento-me.
Ausento-me,
Enquanto escrevo e a tua mão não deixar de me tocar.


domingo, 18 de fevereiro de 2024

Menino criança

 



Fui menino

Fui criança

Fui o mar

Fui barco,

 

Fui menino dos calções

Menino dos papagaios de papel

Fui montanha

Cacimbo

E fui sanzala,

 

E hoje…

Sou poeta,

 

Poeta apaixonado,

Por ti…!

 

18/02/2024


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Pensamento

 


Não sei em que penso

Se penso

Não sei se deveria pensar

Ou não pensar,

Pensando

Fumando,

Ou amar.

 

Não sei em que penso

Se penso

Pensando que não penso,

Pensando no meu sofrer,

Sofrendo,

E não o ser,

 

Sendo.

 

05/02/2024


sábado, 2 de janeiro de 2021

Sonham todos os pássaros do Ujo…

 

Quando a cidade se despede do pó e,

Uma nuvem de silêncio acorda no Vale do Tua,

A cidade morre; como morreram todas as pedras da cidade.

A terra adormece na insónia sombra da manhã,

O rio corre entre rochas e suspiros,

Como dois amantes,

Antes de nascer o Sol.

Ai senhores, tão nobre beleza!

Deitar-me enroscado ao cobertor de cinzas,

Da poeira morna do meu velho cigarro,

Erguer-me e, lentamente, aconchegar o meu estômago ao pobre silêncio granítico da alma.

A mesma cidade de há pouco,

Despenteada, de barba enrugada, caminha lentamente nas margens do Tua,

A alma veste o veneno mais belo da montanha,

Como uma criança,

Deitada na esperança.

Sonha o homem,

Sonha a mulher,

Sonham todos os pássaros do Ujo…

Até que um relógio de sombra,

Se senta na minha mão.

A invisível parede de vidro,

O fumo agreste do néon silêncio,

O barco em papel, o poema escrito no barco em papel…

Como todas as palavras das margens deste rio.

Oh Tua!

Mensagens cíclicas em nome de Deus,

Beleza do teu prazer,

Quando a cidade se despede do pó e, todos os Céus –

São motivos para escrever.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó – 02/01/2021

quinta-feira, 28 de março de 2013

Comboio para o Grafanil

foto: A&M ART and Photos

Imagens, solstícios de imagens descem metodicamente do tecto do impostor prazer que a luz provoca nos corpos negros, absorvidos pelos espelhos e pelos cortinados de espuma, onde te ajoelhas, onde te deitas, onde
(me masturbo)
Imersas minhas mãos nos solavancos que os vidros de areia escrevem nas paredes de barro depois das chuvas dos finais de tarde, lamento informá-lo mas
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
Mas ficou-nos sobre a mesa-de-cabeceira as fingidas pétalas dos perfumes embriagadas depois de caírem sobre as lajes de granito os melancólicos ossos da paixão dos peixes, havíamos construído e declarado guerra aos apaixonados cansaços vestidos de sobretudo encarnado, circulavam pela cidade, durante a noite, em busca de imagens, comida e simples jornais desvairados que alguém tinha deixado nos caixotes do lixo, um dos títulos anunciava a possibilidade da queda do governo, e se ele cair, que caia, mas que não se aleije, salvo seja, senhores das imagens que entram pelos meus olhos, eu nua, eu com uma câmara fotográfica em busca de um passado desperdiçado nas clareiras águas salgadas das praias com varanda para as traseiras, íamos à janela, e suspendíamos os seios no peitoril cinzento com saliva esverdeada, perguntávamos-lhe o que tinha, e ela respondia-nos
Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo)
Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço... todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer Dona Menina Amélia... olhe
Seja o que Deus quiser,
E se ele não quiser, paciência, venham as imagens esquecidas, venham os bancos de jardim com ripas de madeira, venham eles e elas, todos e todas, a luz e a escuridão, o silêncio e a algazarra, o branco e o negro, e as pedras, e
(os barcos de papel com melodias entrelaçadas nos dedos)
E as flores, todas as flores, não falando nas algibeiras com a laje apodrecida, as moedas, poucas, caem até se estatelarem na cave, sombria, e sem janelas e sem abraços, coitadas, infelizes, aqueles e aquelas, pobres miúdos de porcelana com sorriso de nuvem embebida no sono longínquo das amendoeiras em flor, e se eles caírem?
(Imagens, muitas, loucas e loucos, como as árvores do Outono mergulhadas em rochas de iodo, e tédio, e cansaço... todos, temos, lamento informá-lo mas... cessaram as imagens a preto-e-branco, e se eles caírem, paciência, uns vão dizer que vamos melhorar, outros que nada mudará, eu nem sei o que lhe dizer Dona Menina Amélia... olhe), um dia perceberás a minha cabeça, um dia perceberás que sou tão normal como todas as outras pessoas que circulam à nossa volta, como são as moscas, como são as abelhas, como são todas as imagens, e todas as palavras
Normais,
Sou normal como qualquer árvore do jardim de Luanda, ou como qualquer machimbombo ou como o Mussulo, normal, sou, como a estrada para o Grafanil, ou
Normais,
Ou o cheiro da terra depois da chuva, e um dia, um dia perceberás que apenas a mulher da máquina fotográfica, essa sim, louca como os comboios em direcção ao Tua
(pare, escute, olhe... atenção aos comboios)
Proibido fumar, peço desculpe PROIBIDO O TRÂNSITO PELA LINHA,
E o Tua morto,
É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair
Caiu como vão cair os finos fios de luz das mandíbulas empobrecidas, loucas, loucas, loucas como uma montanha de areia, com braços de aço e olhos de plástico, simplesmente, se caírem que não o façam sobre mim,
(É como lhe digo Dona Menina Amélia, se cair)
O importante são as imagens, e por muito que eu o descreva, acredite em mim, só vendo, consegue vossemecê imaginar uma mulher nua dentro de um quarto escura a fotografar sombras? E junto à mulher um escadote com acesso ao infinito? Consegue?
É claro que não, Fígado,
(ela morreu de tédio, desassossego, ou)
(me masturbo),
Ou por falta de luz...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Uma cratera de saliva no vulcão da insónia

Um dia, quem sabe, todos os poemas de Inverno se transformem em rosas, um dia, talvez amanhã, ou, poderá ser mesmo num Sábado qualquer, um dia qualquer, apenas um, de um calendário de papel, ou daqueles virtuais que os nossos portáteis inventam para nós, e tão parvos, eles, que se nós quisermos hoje não é hoje, e se nós quisermos hoje é ontem, Dezembro de 1966, ou, ou se eles quiserem amanhã, amanhã terça-feira de Março de 2015, um dia, quem sabe, todos os poemas
Fiquem como as minhas mãos, pérfidas, com perfume de vulcão estacionado no centro de uma cratera, com nuvem de vapor que fingem ser cortinados, das janelas das palavras, quando chega o murmúrio das imagens a preto e branco do álbum de fotografias do Pai Fernando, Angola está lá, como estão os carris onde ontem passeavam comboios para Mirandela, e hoje, hoje apenas linhas curvas, rectas, círculos de lágrimas das rochas metamórficas com sombras de pedra, ele acompanhava a linha de bicicleta pela mão, chegava ao Tua, e subias as curvas inclinadas com sabor a saudade, apenas, apenas para dar um beijo à mãe, fiquem todas, hoje não, hoje
Os carris e os túneis da saudade dentro de um álbum de fotografias,
Hoje, hoje não, quem sabe amanhã, todos os poemas se transformem em rosas de papel, quem sabe, ontem as flores tenham conspirado contra o homem dos livros de granito, quem sabe, hoje sim, eu, ele, nós os dois, sejamos esqueletos de vidros com mãos de arame, hoje quem sabe, eu, ele, eu e ele, os dois, sejamos pedaços de pedra mármore do túmulo de um dos manuscritos de Gogol que ardeu na fogueira, louco, tu e eu, dentro de um buraco de areia, os nossos corpos parecem raios de sol mergulhados em barcos de esferovite com um motor de um carro de brincar, comprávamos pilhas com sabor a limão, e ele, e eu, e eu e ele e o barco de esferovite, perdidamente apaixonados como as águias nocturnas do chocolate amargo,
Os carris e os túneis, que têm?
Um dia, a escuridão transformar-se-á em lençóis de prata com almofadas de oiro, E os carris? pergunta ele, que têm? Respondo-lhe eu, Nada... Responde-nos os barco de esferovite com o velho motor do carrinho de brincar, as pilhas, sabiam a limão, amargo, o dia quando regressei e descobri que era um esqueleto de vidro com mãos de arame, pergunto-lhe
Lembras-te? Claro que sim, como me lembro do dia quando disfarçada de água da chuva entraste em mim, numa tarde de Agosto, tinhas livros numa das mãos ínfimas, pequenas, como os rochedos das praias imaginárias da nossa infância, e claro que
Não me recordo dos vidros partidos no recreio da escola,
Amanhã, amanhã, amanhã terça-feira de Março de 2015, um dia, quem sabe, todos os poemas vestidos de arame-farpado, em redor de um campo de minas como os seios camuflados dos grandes edifícios que se escondem nas cidades e dão abrigo aos sem-abrigo, todos, amanhã, quem sabe um dia destes, no calendário virtual do meu portátil, eu, eu encontre os restos de saliva que sobejaram das palavras mordidas pela serpente do envenenado homem das luzes de linho, cansei-me, cansei-me dos calendários de papel com números complexos, matrizes, equações diferenciais loucas de amor por integrais triplas, e no entanto, ninguém, ninguém à espera delas na cama nua das quadriculas de insónia,
Calçavas uns sapatos rabugentos, ouvia-os enquanto descias o passeio que aproveitavas para observares distraidamente os manequins nus, esqueléticos, das montras com roupas adormecidas pelos candeeiros da noite embaciada pelo perfume das rosas junto à cabine telefónica, de vidro, alumínio, e palavras que desconhecíamos, e não sabíamos que dias depois
Os carris e os túneis, que têm?
Debaixo do braço transportavas um livro de Érico Veríssimo “Clarissa”, a chave de acesso ao teu cofre, eu, hoje, hoje talvez não, amanhã, amanhã sim, eu já o tinha lido, e confesso que enquanto conversávamos sobre o livro íamos caminhando em direcção ao tempo-espaço de Einstein, e hoje percebo, amanhã, amanhã talvez, terça-feira de Março de 2015, o murmúrio das imagens a preto e branco do álbum de fotografias do Pai Fernando, Angola está lá, como estão os carris onde ontem passeavam comboios para Mirandela, e hoje, hoje apenas linhas curvas, rectas, círculos de lágrimas das rochas metamórficas com sombras de pedra, ele acompanhava a linha de bicicleta pela mão, chegava ao Tua, e subias as curvas inclinadas com sabor a saudade, apenas, apenas para dar um beijo à mãe, fiquem todas, hoje não, hoje
Os carris e os túneis da saudade dentro de um álbum de fotografias,
Como ficaram as tuas palavras dentro de mim, todas, elas, disfarçadas de chuva de Agosto em final de tarde.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha