Dormi
acreditando que era um
pássaro
vestido de sapato
que a seiva dos teus olhos
me abraçava
dormi
acreditando que te amava
que me amavas
e que o teu cabelo me
odeia
Dormi
acreditando que a charrua
que trago na mão
é uma pedra para eu
lançar contra a janela do teu olhar
que o rego que leva a
água aos teus seios
é um pequeno fio de luz
incendiado pelo sono
dormi
acreditando que a palavra
que trazes nos lábios
ainda não foi escrita
e vou ser eu a escrevê-la
Dormi
acreditando que o mar é o
teu corpo sofrido
mastigado pela ausência
de uma vírgula
ou de um ponto de
exclamação
dormi
acreditando que os teus
beijos são magnólias
são estrelas
são peixes
e são flores
dormi
acreditando que era um
pássaro apaixonado