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sexta-feira, 1 de março de 2024

Sono

 

Dormi

acreditando que era um pássaro

vestido de sapato

que a seiva dos teus olhos me abraçava

dormi

acreditando que te amava

que me amavas

e que o teu cabelo me odeia

 

Dormi

acreditando que a charrua que trago na mão

é uma pedra para eu lançar contra a janela do teu olhar

que o rego que leva a água aos teus seios

é um pequeno fio de luz

incendiado pelo sono

dormi

acreditando que a palavra que trazes nos lábios

ainda não foi escrita

e vou ser eu a escrevê-la

 

Dormi

acreditando que o mar é o teu corpo sofrido

mastigado pela ausência de uma vírgula

ou de um ponto de exclamação

dormi

acreditando que os teus beijos são magnólias

são estrelas

são peixes

e são flores

dormi

acreditando que era um pássaro apaixonado

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Dúvida

 Não sei meu amor

O que Deus reservou para nós

Se é que reservou alguma coisa para nós,

Não sei o que Deus pensa de ti

De mim

Mas eu sei o que penso de ti,

Meu amor (menina com olhos de mar e lábios de mel),

Não sei meu amor

O que Deus escreve sobre nós

Sobre mim

Sobre ti,

Mas eu sei o que escrevo sobre ti…

Quando desce a noite sobre esta lareira,

Que me aquece,

Que me inspira,

Que me abraça…

 

Não sei meu amor

O que Deus faz enquanto penso em ti,

E os meus lábios escrevem em cada milímetro quadrado do teu corpo,

E as minhas mãos desenham no teu corpo

O silêncio vestido de saudade,

Não sei meu amor

Se Deus algum dia vai compreender-me,

Se é que alguém consegue compreender-me,

Se Deus algum dia me vai oferecer

Um pedacinho de noite,

Com estrelas em papel,

 

Não sei meu amor

Se Deus sabe matemática

(Einstein dizia que não),

Mas isso também não nos interessa

Meu amor,

Não sei

Meu amor

O que Deus reservou para nós…

(Se é que reservou alguma coisa para nós,

Não sei o que Deus pensa de ti

De mim

Mas eu sei o que penso de ti)

Mesmo assim,

Acredito…

E sonho!

 

 

 

03/11/2023

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Montanha

 Sonho-te junto a este amontoado de sombras

De riscos invisíveis

Suspensos no tecto da insónia

Sonho-te junto a este amontoado de sombras

De palavras adormecidas

De poemas

E dias

E poesia envenenada

Sonho-te cansaço nocturno da madrugada

Flor em papel

Lâmina de sono

Nos teus lábios

 

Sonho-te junto a este amontoado de sombras

De corações de púrpura manhã sem nome

Tal como eu

Que também não tem nome

Tal como eu

Que também sonho

Que desenho

E me escondo

No cimo da montanha

 

Sonho-te junto a este amontoado de sombras

De inúmeras janelas viradas para o mar

Do mar dos teus olhos

Aos olhos do teu mar

Pertinho dos rochedos

Pertinho do céu

Sonho-te acreditando que as nuvens são os teus lábios

E nos teus lábios há uma janela

Uma janela especial

Onde te sonho

E beijo

No cimo desta montanha.

 

 

16/10/2023

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Sonho desejar-te no sonho

 Sonho-te em constante amar-te desejo

Sonho-te inventando noites sem dormir

Sonho-te desejando-te desejar-te

Nos meus braços

Ao lado do meu livro de poemas,

 

Sonho-te em constante amor-beijo

Que brinca nos caniçais

Que brinca na tua sombra

De sonhar-te amar e amar desejando

Que também tu me sonhes,

 

Que também tu me desejes desejando

Que me sonhas

Que me desejas nos teus secretos sonhos

Sonho-te na vergonha do poema

Quando ele acredita que te sonha,

 

Que também ele te deseja tanto ou mais do que eu…

Sonhando-te

Desejando-te

Neste sonho em papel

Deste sonho mergulhado na ausência,

 

Sonho-te enquanto te sonho

Que te beijo

E desenho na tua boca

O silêncio nocturno dos pássaros sem nome…

Que te sonho tanto… que te sonho tanto e fico com fome.

 

 

27/09/2023

terça-feira, 18 de julho de 2023

Poeta só,

 Procuro-te neste amontoado de esqueletos em papel

Onde te escondes quando acorda a noite,

Procuro-te no silêncio que me abraça

Quando o mar dos teus olhos

Poisa na janela do meu sonhar,

 

Procuro-te nas palavras que te escrevo,

Das palavras que jogas ao vento,

Nas palavras que habitam o meu pensamento,

 

Procuro-te enquanto acorda o pôr-do-sol

E os teus lábios de mel

Se dependem de mim,

Deste poeta inconformado,

Deste poeta só…

E envergonhado.

 

18/07/2023

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Mão do sono

 Às vezes, são as palavras que não acordam,

Dormem profundamente no silêncio de uma flor,

Outras vezes, são as manhãs dos alegres sorrisos

Que descem do céu e poisam junto ao rio,

Às vezes, olho os pássaros que habitam no teu cabelo,

Árvore sofrida do Inverno…

 

E nas outras vezes,

Aquelas vezes em que esqueço, das vezes que recordo…

A mão do sono,

E percebo que de todas as vezes, tantas vezes,

O meu corpo balança nos teus lábios,

 

Dos teus lábios,

Que às vezes, de quase todas as vezes,

Roubo os beijos,

Todos os beijos que de tantas vezes…

Em todas as vezes,

Desenham em mim…

Escrevem em mim…

O pôr-do-sol,

 

Nas vezes que me sentei,

Nesta pedra de silêncio…

Desta pedra onde chorei;

Às vezes, são as palavras que não acordam,

Dormem profundamente no silêncio de uma flor,

Quando das tuas mãos, meu amor,

Das tuas mãos em delírio…

Regressam a mim as estrelas.

 

 

 

 

Alijó, 03/02/2023

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

O desejo

 Não sou o que desejei ser,

Tão pouco desejei ser o que sou.

 

Desejar que amanhã

Esteja um lindo dia de sol

Com vinte e oito graus de temperatura

E humidade mínima,

Mas sei que estamos em Janeiro

E é Inverno,

E amanhã nunca estará um lindo dia de sol

E tão pouco com vinte e oito graus de temperatura,

 

Para quê desejar?

 

Desejar que o mar entre pela minha janela

Sabendo eu que não tenho janela

Que vivo longe do mar,

E mesmo que tivesse uma janela

E vivesse pertinho do mar,

O mar nunca entraria pela minha janela,

E se eu gritar mar

(como no poema de AL Berto)

O mar todo não entra pela minha janela,

 

Para quê desejar?

 

E quando me perguntavam

O que queria ser quando fosse grande

(o que desejava, o que sonhava)

Respondia com o silêncio…

 

Agora percebo que não queria ser nada

 

Então para quê desejar

Ou sonhar

Ou sonhar que se deseja

Quando o desejo morreu

Morre

Como morrem os sonhos ao acordar…

 

Para quê desejar,

Desejar o sonho de sonhar?

 

 

 

Alijó, 16/01/2023

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 

Se és o vento,

Leva-me.

Se és um abraço,

Abraça-me.

Se és um beijo,

Beija-me.

 

Se és um livro,

Deixa-me escrever em ti,

Desenhar os teus lábios

Na manhã quando acorda.

Se és a lua,

Semeia a luz no meu corpo cansado,

 

Quando chora.

Se és uma tela,

Deixa-me pintar em ti a Primavera,

Como fazem os pássaros,

Ou as flores,

Como fazem as palavras,

 

Se és uma lágrima,

Diz-me que o poema não morreu,

Diz-me que as palavras

São fertilizante para as tuas tristes noites;

Se és sol…

Não te canses de me iluminar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 23/02/2022

sábado, 25 de julho de 2020

Sem tempo


Suicídio. Acrílico s/tela 50x70. Francisco Luís Fontinha


Sem tempo, esta escuridão de azoto,

Descendo nas borbulhas do sono,
E, meu amor, a tristeza quando a partida,
Às vezes complexa, de um olhar, talvez cansado,
Começa a desenhar-se no sorriso de uma esfera.
Uma caixa de vidro, uma janela em pedra,
Uma lágrima entre sorrisos e nuvens,
Vem a nós o corpo circunflexo da insónia,
E, nos teus seios, a alvorada envenenada pela escuridão.
Desenham em traços de água, o sono dos justos,
Os emagrecidos amanheceres da palavra escrita.
Sem tempo, meu amor,
Para dormir debaixo das árvores,
E dos silêncios da morte;
É tão triste, a morte, meu amor,
Quando morre o livro,
Quando é assassinada a palavra,
E uma nuvem de fumo educada,
Deita-se solenemente na manhã a despertar.
Sei que há dias tristes, muito tristes e, aqueles, menos tristes, mas felizes,
Onde brincam criancinhas vestidas de pano,
Amarrotado,
Pequena folha em papel que arde na sanzala,
Basta um sorriso,
Uma pequena lágrima,
Para nascer em ti o poema prometido.
Sem tempo, amor,
Sem tempo neste corredor de sonhos.


Francisco Luís Fontinha
25/07/2020

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O sonho


Todas as coisas, possíveis, impossíveis,
Acontecem quando nasce em mim a noite.
O corpo range de sono, perco-me nas palavras da saudade,
Quando regressa a madrugada,
E, todos os pássaros voam em direcção ao mar.
Um barco chilreia, voa sobre o jardim das cantarias,
Flores dispersas, como mendigos apressados,
Brincando na eira,
Olham o cereal,
Deitam-se no chão,
E, sonham com o luar.
Todas as coisas,
Infinitas, finitas, nas mãos de Deus.
Um esqueleto de silêncio vagueia nas pálpebras da insónia,
Morrem as pedras do meu pobre jardim,
Levantam-se as migalhas da fome,
Quando um carnívoro de sombra, às vezes cansado, levita na escuridão da solidão.
Tenho fome;
Tive pai, mãe, e, nada mais…
Agora, tenho a floresta,
Os papagaios em papel, de três cores,
E, num pequeno caderno quadriculado, invento o sonho,
Imaculado, distante, ausente,
Como todas as coisas,
Possíveis, impossíveis.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
29/01/2020

sábado, 30 de novembro de 2019

O sono encarcerado


O sono traz o sonho.

O sonho, o meu, alimenta-se das teias de aranha da madrugada.

O sonho, encarcerado.

Menino.

Drogado.

O sono dentro de um cubo de vidro.

Quando o sonho, da parte de fora, fode o xisto cansado da viagem.

O sonho é um travesti.

Travestido de sono.

Deita-se na calçada.

Come cigarros de vento.

O sono é um veneno.

Como o sonho.

Um engano.

O sono traz o sonho.

O sonho, meu amigo, é o prazer das prostitutas em delírio…

Zangam-se.

Comem-se.

E nada faz querer que a noite tenha culpa da constipação dos proxenetas da alvorada.

O sono.

No sonho.

O relógio das pedras enamoradas.

Cansadas.

Das tuas garras.

O sonho encarcerado.

Dentro da casa abandonada.

Fria.

Cansada.

O sono é um filho da puta.

Às vezes, aparece.

Outras,

Muitas,

De mim se esquece.

Não o si.

Quando sonho, quando avida, se aquece.

O sonho, no sono, embriagada mulher.

A tristeza, do sono, quando o sonho, emagrece.

Pum. morre o sonho.

Morre a saudade.

De sonhar.

Da vaidade.

Da verdade.

De cansar.

O sonho.

O sono.

Dentro de quarto incompleto.

Entre lágrimas.

Entre linhas.

Entre ossos.

Esqueletos vendidos na feira.

O sonho.

O sono.

Não regressam além-fronteira.

Triste, aquele que sonha.

Alegre, aquele, que desiste.

De dormir.

De se vestir.

E resiste.

Ao temporal do sonho.

Não ao sonho.

Sim ao sono.

Sim ao sono.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

30/11/2019

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Sou


Sou,

Sou tudo aquilo que tu não querias que eu fosse,

Sou a escuridão,

Pássaro,

Avião,

Sou,

Sou a pétala de rosa que trazes nos lábios,

O poema cansado que beijam os teus seios…

Sou,

Sou pedreiro,

Carpinteiro,

E coveiro dos textos imperfeitos.

Sou,

Sou os socalcos que iluminam o teu olhar,

Sou a penumbra madrugada quando vais trabalhar,

Sou,

Sou a esperança de viver,

E deitar-me na tua mão esfomeada.

Sou a roseira do teu quintal,

Sou a melodia do teu corpo,

Quando iluminado pelo Sol…

Sou,

Sou tudo aquilo que tu não queres que eu fosse.

Sou,

Sou o amanhecer,

O charco embriagado da tua boca,

Sou,

Sou o poeta do inferno,

O camuflado sem-abrigo,

Apaixonado,

Sem trigo.

Sou…

Sou tudo aquilo que eu quero ser;

Um sonhador,

Lenhador…

Poeta candado…

Das noites em flor!

 

 

 

Alijó, 12-06-2019

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 12 de março de 2019

O caderno de geada


O cachimbo suicida-se nas mãos do poeta.

Era noite, caminhava pelos trilhos que a geada tinha desenhado, e na mão, o caderno embalsamado pelas palavras da morte, tinha medo do escuro, tinha medo dos versos envenenados pelo luar, e mesmo assim, caminhava, caminhava,

O cachimbo embrulhado em metástases desesperadas pela fadiga do corpo, do fígado saía o camuflado texto das palavras inventadas pelas crianças da aldeia, às vezes, poucas, tinha fome, e

Fumas?

E, fumava desalmadamente até o nascer do Sol, poisava a caneta sobre a mesa-de-cabeceira, atirava o caderno contra o espelho, sonhava;

Sonhava!

O cabelo que outrora lhe tinha pertencido, fugiu para a praia mais distante, ficando ele, apenas com o usufruto do rio, uma enxada, rangia lá longe, nos socalcos, e, o cachimbo

Sonhava!

E, o cachimbo de mão dada com o caderno, como o amor de duas flores, uma roseira e um craveiro, uma sombra de luz poisava na boquilha, marinheiro agreste dos oceanos enlouquecidos, o falso milagre,

Sonhava…

E, suicidou-se na minha mão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/03/2019

sábado, 12 de maio de 2018

Flores


Gostava que as tuas mãos fossem palavras,

Sonhos encantados nas páginas de um livro embriagado,

Gostava que as tuas mãos fossem fósseis,

Pedaços de ossos,

Adormecidos no lençol da madrugada.

 

Gostava que as tuas mãos fossem um sorriso,

Um rio envergonhado correndo para o mar,

Gostava que as tuas mãos tivessem nos dedos pequenos dardos de sangue…

Quando acorda a lua.

 

Gostava que as tuas mãos fossem papéis,

Pedacinhos de jornal,

 

Entre parêntesis,

 

Em cada final de tarde.

 

Gostava que as tuas mãos fossem um carrossel,

Com crianças de sombra,

Gostava que as tuas mãos fossem um poema,

Cantado pelo silêncio,

Nos lábios de uma pomba.

 

Gostava que as tuas mãos fossem a Primavera,

Flores,

Jarras envenenadas por flores…

Das flores desencontradas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Maio de 2018