As
línguas abraçadas no céu-da-boca
A
chuva argamassada contra o silêncio nocturno
Em
redor de dois corpos invisíveis
O
prazer nas palavras
Saltitam
enquanto folheamos um livro sofrido
Em
lágrimas
Da
morte inanimada
O
Sol embrulhado dentro de quatro paredes
O
tecto desce
Desce…
E
tomba no pavimento lamacento de um dos corpos
O
fim da tarde evapora-se
Nos
lábios de um cigarro
Negro
Noite
Sombrio
Como
os pássaros da minha aldeia
Subo
aos teus cabelos
E
sento-me nas avenidas envernizadas da madrugada
A
cidade cresce
Os
automóveis enfurecidos
Em
raiva
Como
os cães selvagens
Montanha
abaixo
A
ribeira espera-os
Como
visitantes insignificantes
O
sexo suspenso nos cortinados do desejo
Os
gemidos
E
as sílabas da saudade
Há
no teu corpo
Vapor
de água
E
cristais de prata
A
imagem das tuas coxas em finas lâminas de desassossego
O
mar
O
mar dentro de ti
Construindo
marés de esferovite
E
alguns sorrisos apaixonados pelo sono
Perdi-me
neste tempo infinito
Quando
ainda existiam equações de areia
No
quadriculado olhar
Hoje
Sou
uma caneta avariada
Que
deixou de escrever palavras
Que…
Que
tem uma lápide sobre a secretária
E
uma fotografia
Húmidas
vogais
Agarradas
às escadas da paixão
Sem
saberem que a morte
Não
é a morte
Que
o medo
Não
é… o medo
Voar
Sofrer
enquanto caminho sobre um arame
(sempre
quis ser trapezista)
Artista
de circo
Palhaço
Andante…
Sem
nome
Quando
acordo e sinto que estou vivo
A
praia parece a eira de Carvalhais
Graníticas
espigas de cio
Nas
frestas do sonho
Oiço
o sino da Igreja
Quase
a desfalecer
Tensão
alta
(dizem)
E
nos teus cabelos
As
luas de Saturno
Envergonhadas
E
Titã…
Entre
beijos e poeira…
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira,
31 de Março de 2015