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domingo, 31 de outubro de 2021

As palavras de amar

 

Tenho na mão

A mais bela flor do anoitecer,

 

Tenho na mão

A mais bela palavra para escrever,

 

Tenho na mão

A mais bela pintura de se ver,

 

Tenho na mão,

A tua mão de viver.

 

Tenho na mão

O mais belo poema de amor,

O mais belo silêncio em flor,

Tenho na mão a tua mão,

Na tua mão, meu amor.

 

Tenho na mão

A noite a crescer,

Enquanto na tua mão,

A minha mão não se cansa de dizer;

De dizer

Que na minha tua mão,

Existe um poema a crescer,

Existe um poema que adormece no chão.

 

Tenho na mão

Todos os beijos de beijar,

Todas as palavras de amar,

Tenho na mão,

Na minha tua mão,

Os olhos do mar.

 

Tenho na mão,

Na minha tua mão,

As palavras de amar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 31/10/2021

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Corpos como cansaços da solidão

foto: A&M ART and Photos

O corpo como o cansaço da solidão, submerso nos cadeados braços dos beijos encostados aos arbustos teus lábios, sentia-se a penumbra fria pele silenciosa como um texto acabado de escrever, ouvia-se ainda o cheiro da tinta, negra, derramada da caneta de tinta permanente, velhinha mas ainda de excelente saúde, como os teus olhos, quando me olhas e perdes a voz, ficas afónica, perdes-te nas palavras, desorganizas-te como textos escritos sobre os joelhos de um qualquer vagabundo, encerras os olhos, desces o cortinado do escritório, sentas-te no sofá e inventas mil desculpas para não me ouvires,
Percebo-te, claro, havíamos um dia de descobrir o buraco de minhoca que nos separou, é evidente que para o comum dos mortais não nos entende, às vezes, eu mesmo não consigo entender-te, e quando pego no livro de equações de Einstein para nos entendermos, mesmo assim, fico sem saber... quem sou eu? E tu, ainda existirás como mulher? Não serás hoje apenas um pequeno ponto de luz na distância mais longínqua? Pergunto-me enquanto fecho o livro, esqueço as equações e recordo-te conforme uma flor quando nasce, nua, viril, semicondutor os teus seios em púrpura de novos desenhos esquecidos no frio betão de ontem,
O amor, o amor desperdiçado, por medo, vergonha, timidez, por falta de luzes ou porque as estrelas deixaram de brilhar, parvoíces, medos sem significado, o amor desperdiçado entre as silvestres manhãs de neblina que absorviam os Sábados de Novembro, eras tua ainda, e depois de abrirmos a janela virada para o Tejo, uma golfada de ar entrava-nos e iluminava-nos o quarto ainda desarrumado, lá fora, apenas sentia o fumo do meu cigarro em curvas para depois se dissipar contra os fios de aço que prendiam um petroleiro à calçada, mesmo debaixo da nossa janela...
Ai o amor,
E era Sábado em ti,
A despedida do rio e as lágrimas minhas como desejos em voos de madrugada amanhecer, deixaste de ocupar o lado esquerdo da almofada, e as gaivotas nunca mais poisaram no peitoril da tua janela, aquela, a única que tínhamos com acesso ao rio, depois, veio a chuva, o granizo, as geadas, o frio, o inverno disfarçado de ódio, quando ódio nunca viveu nas nossas pequenas mãos, depois as palavras, as palavras que teimas em não pronunciar, por medo, vergonha, sofrimento, por amar, o mar, entender-te como entendo os barcos, não, não sentado
A alvorada de ti sobre mim, os dias tristes antes da chegada do Natal, passeava-me na rua e esquecia-me dos néons correndo a cidade, à solta em cada rua que eu entrava, olhava-os e quase que me pareciam cadáveres sem esqueleto, corpos, corpos como cansaços da solidão,
Ai o amor,
E era Sábado em ti,
Hoje, procuro a tua mão entre os escombros da saudade, não a encontro, vejo-me através do espelho da minha amiga Maria, sentado, triste, procurando um jardim para me aportar, lançar âncoras ao fundo, e entre fumo e luzes invisíveis, contar as gaivotas de sorriso igual ao teu e quantos apitos por minuto se ouvem dos engasgados barcos de porcelana, velhos, que sobre a mesa da sala de jantar, navegam, como moscas e abelhas, à procura de ti, como eu, entre escombros e falsos cinzeiros, e de ti, nada, nem um sorriso observo à entrada da barra, e lembro-me que deixaste de ser barco, e hoje, não sei, nunca o soube, depois dos Sábados de Novembro
E era Sábado em ti,
E tu, ainda existirás como mulher? Não serás hoje apenas um pequeno ponto de luz na distância mais longínqua?
Era sábado de luz...

(não revisto)
Francisco Luís Fontinha