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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O beijo poético…


Meu amor,
Existes?
Perturbo o teu sono,
Visto-me de abelha e brinco na colmeia da tua insónia,
Sorris, brilham nos teus olhos as minhas palavras,
Habitam nos teus seios os meus desejos, os meus versos…
O rio que corre nas minhas veias,
Há dentro de mim uma África perdida,
Socalcos, vinhedos…
Barcos coloridos que atracam nas tuas mãos,
Meu amor,
Existes?

Perturbar o teu sono é poesia,
São canções inventadas por estórias, são searas de trigo dançando ao som do vento…
Perturbar os teus sonhos, deitar-me no teu corpo… como se eu fosse a tua pele de alecrim em flor,

A montanha que nunca dorme,
O luar que jamais cessa de brilhar,
Meu amor,
Existes?
Nas frívolas manhãs de Primavera, e… e absorver os teus lábios de livro em construção,
Percorrer o silêncio de uma ponta à outra, sem me cansar de te olhar,
Sorris…
Olhas-me…
Existes?
Estrela-do-mar,
Que me ilumina ao deitar,
E sem pressa… e sem pressa ofereço-te o beijo poético…



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 7 de Agosto de 2014

domingo, 22 de setembro de 2013

Eras mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Eras mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão, havíamos de terminar a noite entre resmas de papel, cinzeiro recheado de beatas, neblina ensurdecedora que os cigarros vomitavam sobre a mesa decorada com objectos insignificantes, eras mármore sobre um piano coberto por um cobertor de areia, regressavam no final do dia...
Pombas, gaivotas e barcos enjoados devido à forte ondulação que as horas incompletas e mortas, pelas finas espumas que os marinheiros traziam no pulmão alcatroado por um empreiteiro de algibeiras encurraladas das tempestades que o medo, de vez em quando, deixava cair sobre o silêncio, os olhos, os olhos
Fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Comprido como a fome, as andorinhas regressavam ao local do crime, e as janelas de cristal sempre lá, suspensas nas árvores com ventoinhas eléctricas, do tecto, a chuva do teu cheiro, a catinga mergulhava na sombra nocturna do cinzento púbis que embebia a madrugada em despedidas ao Verão, regressado de longe, vêem-se as superfícies lisas das coloridas faces com lábios de amanhecer, ao longe
Aos olhos?
Vêem-se-lhe as pernas arqueadas e poisadas sobre o parapeito virado para as traseiras onde brincava um robusto quintal, velho, barbudo, atulhado de lixo, lixo... e aqui e além
O cheiro a catinga,
Os caixotes de lixos até não aguentarem mais alimento, vomitavam-se e sujavam as laminadas passadeiras em pura lã virgem, o pastor reclamava o preço a que lhe pagavam a lã, as ovelhas gritavam
Gatunos, gatunos...
O preço da água é um roubo,
Gatunos, gatunos... e o coitado do chibo endiabrado, correndo de leira em leira... até encontrar um rio com peixes voadores, até encontrar a mulher mais bela do cinzeiro onde ardiam algumas das beatas... e o lacrimante púbis enjoado devido às difíceis encostas cobertas por placas de xisto, e mármore gratinado nas doces tristes algas da solidão, havíamos de terminar a noite entre resmas de papel, cinzeiro recheado de beatas, neblina ensurdecedora que os cigarros vomitavam sobre a mesa decorada com objectos insignificantes, eras mármore sobre um piano coberto por um cobertor de areia, regressavam no final do dia...
Gatunos, gatunos...
O preço da água é um roubo,
Aos olhos?
A catinga absorvia o ranger
Oiço-os... meu querido
O quê?
A catinga absorvia o ranger que ela ouvia dos cornos em migalhas, depois do desgraçado do chibo, tombar como uma borboleta sobre a lápide do amor, recordava-se ainda do fumo embrulhado em fina prata de alumínio, e fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
E choram as tuas lágrimas
Fingiam que nada viam, adormeciam como embriagados homens de cabelo comprido,
Cumprido o teu desejo sublime, desfazem-se as pétalas em sorrisos amargurados, oiço-os
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Dormem... e dormem... e dormem... e ele gritava
“Povo desta aldeia... andastes quarenta e oito anos a dormir... e agora, agora comei do sono”
Aos olhos?
Os olhos dormem,
Dormem... e dormem... e dormem...
E onde está a lã das minhas ovelhas?
Ouvíamos-o chorando como uma criança empoleirada em calções e sandálias de couro, sentava-se no triciclo...
E dormem,
E onde está a lã das minhas ovelhas?
Dormem...

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha - Alijó
Domingo, 22 de Setembro de 2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Em busca da saudade

foto: A&M ART and Photos

Ouves as mãos de chocolate vagueando sobre a tempestade de cereal em forma de palavra
escreves-me dos tentáculos silêncios dos vulcões entranhados na montanha teus seios
e um arbusto chora a tua ausência
como se o vento adormecesse nas melancólicas mesas de granito
que um buraco de minhoca alimenta em pedaços de paixão
e tristes casas de areia com vista para a cidade dos barcos amargurados,

Ouves tuas minhas cansadas desilusões que o mar engole como Sereias de papel
e nada fica eterno
oiço-os fingindo escadas de acesso ao tecto da insónia história
não existo
desisto
de procurar palavras numa calçada sem nome num bairro esquecido no altímetro do Mussulo,

Vagabundeio semi-nu procurando terrenos para aportar
meus alicerces de tristezas manhãs de Primavera
a astronomia minha amiga inventa-me estrelas com pequenos torrões de açúcar
goiabada e mandioca
habitávamos em corpos sonâmbulos pela infinita distância sem que o universo nos informasse
dos projectos para ultrapassarmos as difíceis tardes abraçados a um rio imaginário,

Doente
sem nome dizendo-se filho das grandes palavras esquecidas nas cúbicas coxas cinzentas
que deixam os pássaros embriagados em penumbras cristas de azoto
finíssimas peles bronzeadas como noites escurecidas num qualquer confim de África...
e invento a felicidade com pedaços de capim e uivos de mabecos
enquanto um velho papagaio de papel circula no céu como uma ventosa em busca da saudade...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha