sábado, 26 de fevereiro de 2022

Instantes

 

Somos instantes.

Sombras adormecidas,

Nas mãos do poema,

Somos cansaços,

Pinturas abstractas,

Somos liberdade,

Das palavras,

Nas palavras,

 

Somos nada.

Somos a noite,

Enquanto dormem os esqueletos de vidro,

Somos guerra,

Somos fome,

Somos instantes,

Pessoas sem nome,

Nesta vida sem sentido.

 

Somos abraços

Dos beijos que voam,

Somos luar,

Somos a fogueira,

Somos instantes,

Somos a pedra,

Somos o vinho…

Somos pedaços.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 26/02/2022

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 

Se és o vento,

Leva-me.

Se és um abraço,

Abraça-me.

Se és um beijo,

Beija-me.

 

Se és um livro,

Deixa-me escrever em ti,

Desenhar os teus lábios

Na manhã quando acorda.

Se és a lua,

Semeia a luz no meu corpo cansado,

 

Quando chora.

Se és uma tela,

Deixa-me pintar em ti a Primavera,

Como fazem os pássaros,

Ou as flores,

Como fazem as palavras,

 

Se és uma lágrima,

Diz-me que o poema não morreu,

Diz-me que as palavras

São fertilizante para as tuas tristes noites;

Se és sol…

Não te canses de me iluminar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 23/02/2022

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Nuvem granítica da saudade

 

Às vezes, o sol parece uma nuvem escura,

Fria,

Às vezes, o sol parece um sonho,

Um jardim florido.

Às vezes, as palavras parecem uma tempestade,

Um dia estupidamente feio.

Às vezes, o mar é uma ilha,

Outras,

Um corpo cansado,

Às vezes, o sol parece uma fogueira,

Ou um poema recheado de nadas.

Às vezes, eu sou o sol,

Outras,

Sou a nuvem granítica da saudade…

Às vezes, temos o sol pincelado de noite.

Às vezes, temos a noite pincelada de sol…

Às vezes, o sol parece uma nuvem escura,

Fria e cinzenta.

Às vezes, o sol é um pássaro,

Uma flor esquecida na avenida.

Às vezes, temos o sol,

Às vezes, o sol tem-nos a nós.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/02/2022