sábado, 31 de dezembro de 2022

A mão da saudade

 Onde está a mão da saudade

Que após as dozes badaladas

Religiosamente

Me afagava o rosto

Dava-me muitos beijos

Me abraçava

E me dizia;

- tem um feliz ano, meu filho!

 

Onde está a mão da saudade

Que entre rezas e rezas

Pedia perdão pelas minhas asneiras

Pelos meus desvaneios…

 

Onde está essa mão

A mão da saudade

Que viverá eternamente no meu coração!

 

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

A Atlântida perdida

 Encontro a Atlântida perdida

No teu ventre

Quando o uivo grito do silêncio

Poisa em ti

Corpo desnudo das manhãs de Inverno,

 

Da tua mão

O trigo pão

Que sacia a minha boca

Quando das palavras infinitas

Vêm a mim os primeiros quadrados de luar

E dos meus olhos

Soltam-se as lágrimas do oiro envenenado

Que o teu corpo seduz,

 

E desta Atlântida perdida

Acordam as líquidas sílabas de prazer

E oiço o cheiro nauseabundo da tua pele

Onde brincam as pequenas lâminas de sémen

Que o frio deixa em ti,

 

Ai minha querida Atlântida

Atlântida ilha perdida no teu coração

Palavra em construção

Que o poema come

Como quem come as espadas da madrugada

Que o soldado poisa nos teus lábios,

 

E o soldado que tens nos teus braços

Poeta homem das calças da ganga azul

Que na algibeira esconde um beijo

Um beijo…

Meu amor da Atlântida perdida

Apaga as luzes desta cidade

E fica nos meus braços

Nos meus braços

Onde um dia

Qualquer dia

Acordará a Atlântida perdida.

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

O criador das coisas visíveis e invisíveis

 Se não houvesse Deus

Não tinhas uma casa

Lembra-te que Deus criou as pedras

As pedras que servem de alvenaria à tua casa

Nunca esqueças que Deus criou as árvores

As árvores que dão a madeira para a tua casa

E foi Deus que criou o homem

O homem que é pedreiro

O pedreiro que construiu a tua casa,

 

Se não houvesse Deus

Não havia pássaros

Não existia o mar nem o luar

Não tinhas a noite

O dia

E tão pouco a poesia

Nem as lágrimas de chorar,

 

Se não houvesse Deus

Como poderias durante a noite contar as estrelas

Olhar com os teus olhos a beleza do Universo

Ouvir a música que ouves

Ou até mesmo a rua onde habitas

Porque Deus criou o homem

O homem que construiu a tua casa

O homem que deu vida à cidade onde te perdes

E às vezes tens a sensação de que és apenas uma pequena sombra,

 

Mas nunca serás uma pequena sombra

Porque se Deus criou a sombra

També foi Deus que criou a luz

Também foi Deus que criou as cores

As plantas e todos os animais,

 

E se não houvesse Deus

Acredita que estavas bem fodido…

Porque Deus criou a mulher

E tu

Sem a mulher

Sem uma mulher não serias nada;

Nem cornudo o conseguirias ser

(o que seria desta merda toda sem a mulher).

 

(e agradece a Deus por toda a beleza que existe à tua volta)

 

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

À janela do teu olhar

 À janela

Desta pobre janela

Nesta pobre vida

Entre uma janela e uma pedra

A pedra

A pedra que quebra a janela,

 

E se eu tivesse palavras

Palavras

Simples palavras para atirar contra esta janela

Que é pobre

Que não é mais de que uma janela,

 

Mas há pobres janelas

Que têm ricos cortinados

Com flores

Com rendados

Nesta pobre janela

A janela que é quebrada

Pela pedra que quebra a janela,

 

Esta janela

De onde não olho o mar

Porque o mar

O meu mar

Não aparece à janela

Desta pobre janela

Desta pobre vida

E com janela

E sem janela

O dia esconde-se no teu olhar.

 

 

 

 

Alijó, 31/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Se Deus quisesse

 Se Deus quisesse

Hoje era sábado

Amanhã seria domingo

Ontem

Ontem seria quinta-feira

Porque às sextas eu não posso

Porque à sexta estou muito ocupado

 

Se Deus quisesse

Não havia guerra no Mundo

E oiço-os em coro (ó palerma, Deus não tem culpa da guerra)

Pois

Pois

Se Deus quisesse não fazia homens estúpidos

Imbecis

Gananciosos…

Os que fazem a guerra

 

Se Deus quisesse

Os pássaros usavam óculos

E motores a jacto

Viam melhor nas curvas

E nunca se cansavam

E já agora…

Rodinhas para deslizarem no pavimento

 

Se Deus quisesse

Havia todas as quintas-feiras

Pelas dezassete horas e trinta minutos

Sessões de Poesia no Jardim Doutor Matos Cordeiro

Mas…

Mas como este Deus é muito estúpido

Nem há poesia no Jardim

Nem há Jardim da Poesia

Nem há poemas

Nem há nada

(há bombos e que mais querias tu?)

 

Se Deus quisesse

Se Deus quisesse só chovia às terças e às quintas e aos sábados

Às Segundas e às sextas

Tínhamos sol aos quadradinhos

E ao domingo

Ao domingo temos moelas e churros

E descanso semanal do pessoal

(e oiço… é uma dose de quitetas para a mesa junto à televisão)

 

Se Deus quisesse

Todas as crianças eram felizes

Nenhuma criança tinha fome

Não é que Deus não queira

O problema é que Deus fez pais e mãe imbecis e estúpidos e tudo o mais

Como os que fazem as guerras

Como os que matam as crianças que querem ser felizes

(as calças que me deram hão-de ajusta-se ao corpo… AL Berto)

 

Se Deus quisesse

Ninguém morria

Não é que Deus tenha mão na morte

Mas em todo o caso…

Podia dar um jeitinho a uns

E um empurrãozinho a outros (aos filhos da puta, filhos da puta para os filhos, filhos da puta para os pais, filhos da puta para a mulher, filhos da puta para o Universo, esses podiam morrer todos)

(eu morrerei, ele morrerá, depois morrerá a placa onde está escrito Tabacaria… ai meu grande senhor Álvaro de Campos)

 

Seu Deus quisesse

Ai se Deus quisesse

Quisesse ele ser

Que ele seria

Não

Às sextas não posso

Se Deus quisesse

À noite podia haver sol

E de dia

E de dia haver luar

(grande estúpido este, então não era só trocar o dia pela noite?)

Às sextas estou muito ocupado.

 

 

 

 

Alijó, 30/12/2022

Francisco Luís Fontinha

Têm poesia, meu amor… poesia das tuas mãos

 (a todas e a todos que me foderam a cabeça durante este ano, desejo-lhes um ano de merda, aos outros, um feliz ano e que todos os seus sonhos se concretizem. E aos que falam de mim, que lhes nasça um pinheirinho no cu)

 

 

 

Levas-me ao céu, sabias?

Olha, do céu venho eu e não trago nada, subi, desci escadas, sentei-me junto à casa dos milagres, puxei de um cigarro, peguei num livro de Gogol e nem almas mortas eu vi.

Não digas isso, levas-me mesmo ao céu, e desenhas em mim o silêncio da noite, e quando estou nos teus braços sinto-me uma gaivota sem terra para poisar, um pedacinho de sono à espera do luar, ou uma gigantesca onde de mar, nos teus braços sou um barco sem vontade de aportar, pássaro, nos teus braços sou foguetão em direcção a Marte, Saturno, nos teus braços sou as luas de Júpiter, e se o tempo parasse, ou mesmo se a Terra deixasse de girar, eu, a tua eterna amada, era a criança mias feliz do Universo.

Olha, do céu venho eu e não trago nada. Nada. Tudo está caro, e até o dinheiro está caro. Por um grama de desejo, dois quilogramas de prazer e mil beijos, paguei uma noite de silêncio e dois orgasmos.

Ouvíamos Pink Floyd, lá fora, uma cascata de lágrimas que se desprendiam das tristes nuvens, poisava docemente sobre o pavimento faminto do sonho, as tuas mãos silenciadas pelas minhas, percorriam-me o corpo como se eu fosse uma lâmina de sono em pequenos voos sobre as alegres planícies de centeio que propositadamente deixamos ficar na fotografia da noite passada, e sim, levas-me ao céu, ergues-me sobre a meticulosa mediatriz do desejo, e quando sinto as tuas mãos no meu ventre sei que a manhã não acordará mais, como nunca mais acordaram as tílias do nosso jardim.

Escreves no meu corpo o mais belo poema de amor, e quando as tuas mãos em desejo abraçam o meu desejo, sim, levas-me ao céu, levas-me ao céu sem que eu precise de coisas complicadas, as simples chegam-me, não preciso de mais nada; tenho tudo.

Quero ser a tua tela, a tela onde deixas as tuas cores e os teus sonhos, a tela onde sei que habitam sóis, estrelas da tarde e todos os mares da tranquilidade, quero ser a música que ouves, ou o livro que pegas com todo o carinho, que manuseias sem qualquer pressa, e olha… podes fazer de mim o teu livro, o teu sono, podes…

Subi, desci escadas, sentei-me junto à casa dos milagres, puxei de um cigarro, peguei num livro de Gogol e nem almas mortas eu vi, ao menos se eu tivesse visto uma, uma só alma. E é do céu que eu venho e nada trago, nem consegui conversar com Deus, mas também para que eu queria conversar com Deus… eu que quase não converso com ninguém, eu que não acredito em Deus, no diabo, nas almas de Gogol, eu que apenas sou uma palavra disfarçada de insónia, que quase não come, que quase não voa… como posso eu, eu, levar-te ao céu?

Mas levas-me, meu querido.

Daqui oiço o silêncio, olho pela janela e vejo um gajo com uma bilha de gás às costas, como se a Terra esteja quase a deixar de ser Terra e passar a ser…

As tas mãos, meu amor?

Que têm as minhas mãos, minha querida?

Sei lá… têm tanta coisa…

Têm palavras, têm cor, têm todas as madrugadas e têm poesia…

Poesia, meu amor.

Poesia?

Poesia das tuas mãos…

 

 

 

 

 

Alijó, 30/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Olhos de mar

 Conheci um menino

Que tinha os olhos pintados de mar

Um menino que gostava de voar

Um menino

Um menino que tinha na mão

Um barco de brincar

Um menino com olhos de mar,

 

Conheci um menino

Um menino que adorava sonhar

Sonhava com pássaros a chorar

Um menino

Um menino com coração,

 

Conheci um menino

Um menino com os olhos pintados

Um menino com os olhos de mar

De mar um menino sem cidade

Conheci um menino que não sabia voar

Um menino que não tinha idade,

 

Um menino sem pátria

Conheci um menino com os olhos pintados

Pintados de mar

Um menino sem nação

Um menino sem luar,

 

Conheci um menino

Um menino pincelado de veneno

Um menino com os olhos pintados

Pintados pela mãe

Da mãe do menino

Do menino que conheci

Um menino de olhos pintados

De mar

Os olhos do menino

O menino que não sabia voar.

 

 

 

 

Alijó, 29/12/2022

Francisco Luís Fontinha

A pequena selva das palavras

 Oiço as estrelas que dormem

As estrelas que rumam em direcção ao mar

Oiço-as enquanto sentado nesta pequena pedra de silêncio

Te escrevo

Enquanto a noite não vem

Enquanto as oiço

E peço perdão às palavras

Enquanto estou vivo

E sentado

Deixo-me ir com o vento

 

Deixo-me ir

Por aí

E por aqui

 

Tanto faz onde estou

 

Apenas preciso de estar vivo

De fumar

E de beber coisas

Ou até mesmo de fumar coisas

E beber pequenos pedacinhos de nada

Fumar palavras

Fumar… fumar as madrugadas

 

O importante é viver

Estar vivo nesta selva de palavras

Nesta selva de invejosos

 

Oiço as estrelas que dormem

As estrelas que rumam em direcção ao mar

E também oiço as estrelas que nunca dormem

E que nunca comem

Tão pouco fumam e bebem coisas… coisas estranhas

 

Estrelas da manhã que oiço nas tardes do dia seguinte

Das tardes junto ao rio

Junto ao rio das estrelas que bebem e fumam coisas

Coisas estranhas

Estranhas noites das estrelas que dormem

E termina o dia nas mãos de uma criança.

 

 

 

 

Alijó, 29/12/2022

Francisco Luís Fontinha

Montanhas

 Meu mestre das manhãs de Inverno…

Onde estão as montanhas do poema

Que quando eu criança

Olhava e imaginava

Ser um pássaro entre sonhos

E silêncios,

 

Mestre

Meu grande mestre das noites de insónia

Diz-me se essas montanhas ainda existem

E se estão vivas e respiram,

 

E sabes

Meu grande mestre

Um dia semeei palavras e giestas

Nessa mesma montanha

Que hoje procuro

Que hoje sinto saudade…

 

E nunca soube se nasceram poemas

Ou apenas cresceram estrelas

Sem brilho

Como são as madrugadas

Quando vou em busca

Das montanhas do poema.

 

 

 

 

Alijó, 29/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Meu amado menino

 Amado menino

Que nos calções voava sobre o mar

Tinha asas em prata

E corria nas calçadas sem tino

Um dia deixou-se encantar

Com os silêncios de uma cubata,

 

Deitava-se no alegre capim

Na companhia de seu amigo chapelhudo amado

E em pequenos círculos pelo jardim

Desenhava pássaros sem passado,

 

E de amado

A menino mimado

Este filho desejado

Por um sorriso foi alvejado,

 

Amado eu menino da saudade de Luanda

Entre calções e roupas de Inverno

E palavras em demanda

Este pobre menino com olhar de Inferno…

No inferno onde ninguém manda,

 

E este amado menino

Que nos calções voava sobre o mar

Hoje é um barco de brincar

E uma gaivota sem destino,

 

E este eu menino…

Espera que o mar

O venha buscar

E lhe diga baixinho

Olha meu menino

Não tenhas medo de amar!

 

 

 

 

Alijó, 28/12/2022

Francisco Luís Fontinha

O cabrão

 Oligarca russo

Não vás à janela

Não vás à janela oligarca sem coração

Podes cair dela

E se fores à janela

Veste o teu maculusso

E leva contigo o Putin de um cabrão.

 

 

 

 

Alijó, 28/12/2022

Francisco Luís Fontinha

A tarde do nascimento do poeta- Francisco Luís Fontinha

 Numa qualquer tarde em Luanda, algures no bairro Madame Berman, sem precisar a data correcta, pois o narrador nunca o saberá, mas consta que foi ente 1966 e 1971, enquanto o senhor Fernando verificava quando tinha de renovar a carta de condução, o pequeno dos calções, aproximou-se dele e numa voz poética,

- “quero escrevelhe”,

O senhor Fernando num gesto afectuoso, deu-lhe uma folha e um lápis, para que o puto dos calções pudesse então escrever,

Mas parece que o puto queria escrever na carta de condução do pai e não na pequena folha,

Pacientemente, o senhor Fernando dizia-lhe que na carta de condução não,

O puto berrava,

E consta que foi a única vez em que o senhor Fernando lhe deu umas valentes nalgadas no rabiosque gorducho (diga-se que se tivesse levado mais não se perderia nada) até que a mãe do menino, a dona Arminda, o foi buscar e pegando-o ao colo com todo o carinho, retirou-o da sala, mas o puto não se calava, e quase todo roxinho, continuava

- “escrevelhe”, “escrevelhe” escrevelhe” escrevelhe” escrevelhe”…

Consta que o puto já se deliciava em rabiscar as paredes dos compartimentos nuns rabiscos pré-históricos, e desde esse episódio começou a rabiscar letras que às vezes se pareciam mais com o abstracto de que com palavras,

- “escrevelhe” escrevelhe” escrevelhe” escrevelhe”…

O puto foi crescendo, e já na adolescência começou a escrever compulsivamente e a desenhar compulsivamente, até que num acto de loucura, numa noite de loucura, queimou todos os papeis que tinha escrito e todos os desenhos; ele lá saberá a razão.

Hoje é fiel depositário de três caixotes onde habitam cerca de três mil poemas e textos; a maioria escritos à máquina, oferecida pelos pais quando fez quinze anos e comprada na loja do senhor Antoninho Torcato, a prestações.

Provavelmente terá sido nesta tarde que nasceu o poeta Francisco Luís Fontinha.

Só ele o saberá.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 28/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Espantalhos

 Caíam sobre nós as navalhas de vidro

Que da noite traziam todos os silêncios visíveis e invisíveis,

 

Naquele tempo

Acreditava ser um pequeno espantalho

Algures esquecido num qualquer campo de milho

À espera de que regressassem as amuradas da insónia,

 

Nunca regressaram e nunca me importei por tal:

Às vezes a noite escondia-se dentro de um pequeno cubo de vidro

Como sempre se esconderam as nuvens

E a chuva e a geada,

 

As abelhas picavam os braços emagrecidos dos espantalhos

(que só a mãe consegue perceber)

E mesmo assim

Habitava numa redoma de vícios

E muitas vezes empenhei o meu esqueleto…

Que ainda hoje

São duzentos e seis ossos de dor.

 

E erguiam-se sobre nós

As tempestades cinzentas das marés

Quando descia sobre o corpo a ressaca

E voávamos sobre uma planície pincelada de negro horror.

 

Hoje não me escondo

E tão pouco sou um espantalho…

 

 

 

 

Alijó, 27/12/2022

Francisco Luís Fontinha

Os lábios do silêncio

 Deito a cabeça no teu ventre

E oiço as andorinhas

Quando acordam pela manhã,

 

Esqueço-me que existo

Deixo-me ir enquanto a noite voa nos lábios do silêncio,

 

Deito a cabeça no teu ventre

E todas as estrelas vêm aos teus olhos

Como se fossem pássaros

Como se fossem árvores

Ou palavras semeadas

Nas margens de um rio,

 

Deito a cabeça no teu ventre

E consigo ouvir o mar

E todos os mistérios do mar,

 

E adormeço em ti

Como adormecem as sílabas

Nas páginas de um livro,

 

E a noite é uma canção que apenas os teus lábios conseguem ouvir.

 

 

 

 

 

Alijó, 27/12/2022

Francisco Luís Fontinha