Via-te dançar
Na sanzala dos beijos,
Via-te brincar
Na sombra dos desejos,
Via-te abraçar
As palmeiras distantes da
baía,
Via.
Via-te encostada à
planície da solidão,
Depois da tarde se
recolher,
Via-te a correr,
Quando apressadamente te
encostavas ao corrimão
Da escada de acesso ao
mar.
Via-te caminhar
Sob a ténue escuridão,
Via-te escrever e,
Pegares na minha mão.
Via-te perdida
Na cidade.
Via-te quando te
escondias na idade
Depois da partida.
Via-te na esplanada da
fotografia,
Via.
Via-te nos lábios a
saudade
Do frio que ontem fazia,
Via.
Via-te em mim depois do
acordar
Sabendo que dançavas na
sanzala dos beijos;
Via-te sentar,
Via.
Via-te desejar
Todas as sílabas entre parêntesis
e ensejos,
Via-te sabendo que ver-te
me causa saudade,
Via-te na areia fina de
uma página aberta,
Via-te quando olhavas sem
vaidade
A rua deserta.
Via-te saltitando as
pedras da calçada,
Via-te quando me batias à
porta do silêncio matinal,
Com a paixão de um livro
agasalhado,
Via-te embrulhada ao
jornal,
O mesmo, de sempre, que
eu tinha comprado.
Via-te sem saber que te
via,
Na sanzala dos beijos.
Francisco Luís Fontinha, Alijó
16/02/2021