domingo, 4 de outubro de 2020

Menina da alvorada

 

Todos os rios são azuis, depois de acordarem.

Todas as flores são de papel, depois de dormirem,

Como eu, o poeta das palavras mortas,

O poeta das equações cansadas,

Que vivem neste jardim.

Perco-me nos teus olhos,

Menina canção da alvorada,

Espelho envelhecido que se passeia pela manhã,

Com sono,

Sem sono,

Aproximadamente, durante três segundos de vida.

Esqueço-me de ti, dentro deste caderno prateado,

Das palavras as grades desta prisão,

Coração esgotado,

Nas lágrimas ensonadas do Luar.

Menina da alvorada,

Cidade perdida na tua mão,

Canção aos molhos,

Pedra lápide nome meu,

Fotografia desnecessária,

Foguete, avião…

Nas cinzas do suicídio.

O medo.

Furacão invisível do teu olhar,

Boca enorme, olhos esbugalhados pelo incenso amor…

Depois da tarde,

Neste silêncio de medo.

Vem a triste solidão,

Traz as equações do sono,

Algoritmos embrulhado em jornais,

Onde notícias más,

Abraçam conservas ruins,

Tudo pára; STOP, meu amor.

A carta vaidade das palavras,

Os fósforos invisíveis da morte,

Na palma de uma rosa,

Sem nome,

Com nome;

Isto é uma tarde de Outono.

 

 

Francisco Luís Fontinha, Alijó-04/10/2020