Francisco Luís Fontinha – Alijó.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
Labels:
Alijó,
arte,
Desenho,
Francisco Luís Fontinha,
pintura
Location:
Alijó, Portugal
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020
Labels:
Alijó,
arte,
Francisco Luís Fontinha,
pintura
Location:
Alijó, Portugal
Depois, a maré ensanguentada, morre de alegria.
O
regresso nunca mais.
A
terra húmida, depois das lágrimas da tarde,
Ficou
lá, no outro destino do menino dos calções.
Todas
as sombras, choram, ditam palavras aos esqueletos de silêncio,
Que
as mãos, trémulas, seguram, enquanto cai a noite,
O
corpo, levita, desassossega na madrugada,
Sente-se
o vento, negro, prateado, nos lábios do Diabo,
O
regresso…
Nunca,
nunca mais,
Porque
a solidão namora as flores em papel, do jardim imaginário.
E
o menino, com o tempo, cresceu.
Um
relógio de luz, quando acorda o menino,
Alicerça-se
nos braços lânguidos que o espaço alimente,
Dos
calções, nada, nem a cor se aproveita,
Talvez,
as árvores, as árvores plantadas por ele,
Hoje,
nada, como os calções,
Pedaços
em madeira, trapos, lágrimas desajeitadas…
Tudo,
tudo morre, naquela terra prometida.
O
mar, enfurecido, sacia-se nas rochas metamórficas do cansaço,
Um
barco, espera pelo menino dos calções,
Estaciona-se
junto à cidade,
Homens,
marinheiros, mulheres, sem fazerem nada,
Espera
que regresse o menino,
De
longe,
De
nada,
Ninguém.
O
regresso nunca mais,
A
terra húmida, depois um finíssimo fio de nylon,
Procura
na multidão da cidade, o menino prometido,
Da
terra sonâmbula,
Que
o viu perder-se,
No
meio do capim.
Machimbombos
tropeçam nas finas lâminas da saudade,
Porque
apesar de tudo, sempre, o menino, viveu na saudade,
De
regressar, um dia,
À
sua cidade.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
03/02/2020
Location:
Alijó, Portugal
domingo, 2 de fevereiro de 2020
E, agora? O que será de nós depois…
E,
agora? O que será de nós depois da saudade;
Pertenciam-lhe
as palavras invisíveis das marés de prata.
A
boca mergulhava na ínfima madrugada do silêncio,
Descia
à cidade, quando acordava a noite,
Pegava
num pedaço de sombra,
Agachava-se
no pavimento húmido da solidão…
E,
gritava palavras de amor.
E,
agora? Que a tempestade regressou de ontem,
Traz
consigo os dois cansados cadáveres da única memória que lhe restava,
Os
homens entre guerras e coisas simples, banais,
Percorriam
as ruelas sem saída, suspendiam pinturas nas janelas do horror,
Para
que as crianças conseguissem adormecer,
Nesta
cidade de “merda”, sem dormitórios, sem palavras abstractas,
Que
pertencem aos livros de poesia.
O
corpo arrefece sobre a lápide fria da manhã,
O
silêncio vem em direcção ao peito,
Como
uma flecha, e, o sangue corre para os canaviais…
Tinha
medo da saudade,
E,
agora?
O
que será de nós, depois da saudade, quando alguém procura o corpo amachucado
pela violência dos gritos do homem de chapéu negro,
Seu
nome Chapelhudo, vestido de pássaro nocturno,
Quando
as palavras emergem e, tudo à volta morre, extingue-se em finíssimos pedaços de
carvão,
O
desenho acorda,
Mergulha
na tela da saudade,
Sempre
ela, a saudade dos dias, da noite, dos candeeiros a petróleo…
E,
agora? Nada.
Apenas
um sorriso,
Flácido,
Triste,
Porque
sim;
Cansado
da vida.
Chapelhudo,
morre. E todas as palavras do menino branco.
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
02/02/2020
Location:
Alijó, Portugal
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