domingo, 15 de setembro de 2019

Os tristes pássaros da madrugada


Sabes, mãe?

Diz, meu querido filho…

Os pássaros, os pássaros querem levar-te!

A mim?

Porquê?

Não o sei, mãe…

Não o sei.

Lembras-te, quando construías papagaios em papel para brincarmos debaixo das mangueiras, em Luanda?

E tu deliravas…

Brincávamos às escondidas e tu escondias-te na sombra das bananeiras, ficavas invisível, como hoje, invisível para mim,

Cerras os olhos, pintas nas paredes da insónia o nome do teu querido filho, sempre à espera de regressar ao Mussulo, lembras-te, mãe?

Tão branca e fina a areia…

Olha,

Sim filhos!

As bananeiras estão crescidas, lindas como tu…

Sabes meu filho? Sim mãe!

Tenho saudades das brincadeiras que fazíamos quando tu menino,

O triciclo em madeira a chilrear quintal a fora, o pôr-do-sol junto ao mar, os barcos que tu tanto amavas, escrevias poemas nas âncoras da saudade, agora, agora pareces um esqueleto gritando em voz alta…

Vão embora pássaros!

Sim mãe, agora preocupo-me com estes malditos pássaros que te perseguem e te querem tirar de mim,

Mas mãe!

Sim, meu filho!

Nunca. Nunca vou deixar que os pássaros te levem.

 

 

 

Vila pouca de aguiar, 15 de Setembro de 2019

Francisco Luís Fontinha