sábado, 10 de agosto de 2019

Os teus beijos


Os teus beijos são o silêncio nocturno das estrelas de papel.

São os livros apinhados sobre uma secretária abandonada,

Triste,

Cansada.

Os teus beijos são o desejo da madrugada,

As flores do meu jardim,

As bananeiras que cuido e pinto,

Nos teus seios de menina mimada.

Os teus beijos transportam estórias,

Brincadeiras de crianças,

Os teus beijos são lembranças,

Quando cai a noite em mim.

Os teus beijos são as palavras envenenadas,

Os poemas crucificados nos teus lábios,

Derradeiro porto de abrigo,

Onde descanso,

Me deito…

E amo.

Os teus beijos são musicalidade,

Pintura,

Literatura,

Festa,

Farra,

Manifesta alegria do desejo…

Os teus beijos são o Luar,

A jangada esquecida no mar.

Os teus beijos são o telegrama,

A cama,

Onde em ti construo cabanas,

Plantas,

Árvores,

Cinemas.

Os teus beijos, meu amor,

Os teus beijos são a flor,

A ciência,

O cinema,

Que transpira melancolia…

Os teus beijos são crateras,

Rochedos,

Montanhas,

Em cio,

Quando ao fundo,

Lá longe,

Se vê um rio.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

10/08/2019

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Noite numa biblioteca suspensa na alvorada


Sabia que o teu corpo era porcelana madrugada.

Manuseio-o como se fosse uma sílaba engasgada no poema,

Com jeitinho,

Pinto-o, beijo-o,

Como se fosse uma pétala no jardim do silêncio;

Dois olhares cruzam-se na escuridão do desejo,

Um cigarro arde,

E recorda-se do beijo.

Oiço a tua voz silenciada na alvenaria,

Oiço os gemidos do luar suspensos nos cortinados da paixão,

Sou tão feliz, meu amor,

Tão feliz.

Não finjo,

Sinto-o dentro do peito,

Esta ressaca que me aprisiona aos teus braços,

Não finjo, meu amor,

Não finjo que somos donos do mar,

Não finjo que somos os únicos sobreviventes das tempestades da loucura…

E, no entanto,

Lá longe,

Um barco carregado de livros, aproxima-se,

E poiso nas tuas coxas.

São poemas, meu amor,

Poemas de amor.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/08/2019

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Poema vadio


Oiço os teus gemidos no cansaço da noite.

Amar-te não me chega,

Amar-te é crucificar o teu corpo nas rimas de um poema vadio,

Cansado do rio,

Antes de nascer o Sol.

Amar-te é construir uma cabana junto ao mar,

Plantar livros no quintal,

Desenhar na areia o silêncio da noite,

Esse mesmo,

Onde oiço os teus gemidos.

Não. Não estou louco.

Se o fosse não escrevia sabendo que oiço o mar nos teus lábios de amêndoa…

Contra os rochedos da insónia.

E eu sou capaz de caminhar até à montanha mais alta do meu corpo,

Vagueando nos teus braços de pérola adormecida,

Como o vento,

Levando com ele a cumplicidade de um beijo no esconderijo da noite,

Quando um transeunte tropeça nas palavras,

Que aqui,

Ali…

Vou semeando…

Para quando eu morrer,

Tu,

Acariciares entre parêntesis e ponto de interrogação.

Amanhã?

Logo à noite?

Somos apenas fotografia a preto-e-branco.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

8/08/2019

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

A galáxia da paixão


(para ti, meu amor)

 

 

Desenho nos teus lábios o silêncio do desejo.

Procuro na tua mão a galáxia da paixão,

E todas as estrelas do Céu.

Trago na algibeira as lágrimas do rio,

Que afagam os teus seios…

Escrevo no teu corpo… amo-te…

E sinto que pertenço ao sorriso do mar.

Pinto no teu púbis os socalcos do Douro…

Lá longe um barco apita,

Olhas,

Abraças-me,

E ficas eternamente alicerçada aos meus braços.

Depois abrimos um livro,

Lemos um poema,

Beijo-te,

Sem perceber que a morte é um esqueleto de aço,

Que dói,

E perde-se no deserto das amarras silenciadas pela tempestade.

(Desenho nos teus lábios o silêncio do desejo.

Procuro na tua mão a galáxia da paixão,

E todas as estrelas do Céu.)

E percebo que estou apaixonado pelas palavras que te digo.

 

 

 

Alijó, 07/08/2019

Francisco Luís Fontinha